Se você não é fã de exercícios físicos ou simplesmente não tem tempo para isso, temos boas notícias: fazer tarefas e atividades cotidianas em um ritmo um pouco mais rápido pode gerar grandes ganhos em saúde e longevidade, mostra um novo estudo. Isso significa que você pode mudar o jeito como limpa a casa, sobe as escadas ou corre para pegar o ônibus e obter alguns dos benefícios dos treinos, sem precisar ir à academia.
No estudo, publicado este mês na Circulation, pesquisadores analisaram os movimentos diários de mais de 20 mil adultos ao longo de mais ou menos uma semana. Nenhum se exercitava formalmente. Mas alguns se moviam com mais rapidez do que os outros na vida cotidiana, usando as escadas em vez do elevador ou aspirando a sala com mais rapidez, por exemplo.
Acelerar o ritmo ao fazer atividades do dia a dia, como aspirar a casa, já traz vantagens para a saúde, mostra estudo Foto: emaria/Adobe Stock
O estudo constatou que a quantidade desses esforços diários era pequena, muitas vezes inferior a cinco minutos por dia, mas os impactos pareciam incríveis. Aqueles que se movimentavam mais rápido tiveram até metade da probabilidade de sofrer ataque cardíaco ou derrame nos anos seguintes, em comparação com as pessoas que quase sempre se arrastavam por aí.
O estudo sugere que “vale a pena encontrar maneiras de encaixar algum esforço na vida diária”, diz Emmanuel Stamatakis, professor da Universidade de Sydney, que liderou a pesquisa. “Mas isso não significa que você precise se exercitar de fato”.
A ciência do movimento vs. exercício
O estudo avança em uma área de pesquisa crescente sobre se e como podemos ser saudáveis sem exercícios físicos. Nos últimos anos, Stamatakis e seus colegas têm usado dados do imenso UK Biobank para explorar essa questão.
O biobanco registrou dezenas de milhares de adultos britânicos, que forneceram informações sobre saúde e amostras de tecidos. Muitos deles também usaram rastreadores de atividade por uma semana, que apresentaram leituras detalhadas de como eles passavam quase todos os momentos de seus dias em casa e no trabalho.
Em estudos anteriores, Stamatakis e seus coautores analisaram essas leituras e os registros de saúde e morte relacionados. Eles descobriram que as pessoas que diziam que nunca se exercitavam, mas que se movimentavam com frequência no que os cientistas chamam de ritmo vigoroso – o que significa que ficavam sem fôlego quando corriam para pegar um ônibus ou subiam as escadas – geralmente desenvolveram menos doenças graves e viveram mais do que as pessoas que raramente se movimentavam com vigor.
Mas, como cientista do exercício, Stamatakis sabia que muitas pessoas se sentem intimidadas por palavras como “vigoroso” e “intenso” no contexto de exercícios e movimentos.
Assim, para o estudo mais recente, ele e seus colegas decidiram verificar se formas mais suaves de atividades cotidianas também poderiam estar associadas a uma saúde melhor.
Movimentar-se em impulsos rápidos traz os maiores benefícios
Em termos simples, a atividade física pode ser leve, moderada ou vigorosa, dependendo do quanto você se esforça. As atividades de intensidade leve são fáceis o suficiente para que você consiga conversar com alguém ou até mesmo cantar. Durante a atividade moderada, você ainda é capaz de falar, um pouco sem fôlego, mas não de cantar. Quando a atividade se torna vigorosa, você mal consegue falar sem ofegar e certamente não consegue cantar.
Para realizar o estudo, Stamatakis e seus colegas usaram o aprendizado de máquina algorítmico para analisar de perto os padrões de movimento em incrementos de 10 segundos e determinar se alguém estava se movimentando de forma leve, moderada ou vigorosa. Eles usaram registros do biobanco de 24.139 adultos que nunca haviam se exercitado formalmente e, em seguida, fizeram uma verificação cruzada com dados hospitalares e de óbitos.
O que descobriram foi que as atividades cotidianas leves, como sair para pegar o almoço ou ir ao mercado, reduziram ligeiramente os riscos de problemas cardiovasculares e mortes durante os oito anos seguintes, em comparação com as pessoas que registraram quase nenhuma atividade (o que significa que permaneciam sentadas durante quase todo o dia). Mas as pessoas precisavam de mais de duas horas por dia de atividade leve para obter benefícios significativos.
A atividade cotidiana moderada foi muito mais potente. Se as pessoas passavam 24 minutos por dia se movimentando em ritmo moderado, seus riscos de desenvolver ou morrer de problemas cardiovasculares caíram em até 50%.
E a dose de movimento vigoroso no dia a dia foi ainda menor. Apenas 5 minutos por dia andando de um lado para o outro ou correndo para os lugares sem fôlego foi associado a uma probabilidade quase 40% menor de morrer de problemas cardíacos.
Cuide da casa o mais rápido que puder
De um ponto de vista prático, a conclusão do novo estudo é simples, avisa Stamatakis. “Procure oportunidades” para aumentar a intensidade das tarefas, defende ele, especialmente se você não costuma se exercitar.
“Subir as escadas é uma atividade moderada para a maioria das pessoas”, disse ele. Se você as subir com pressa, será uma atividade vigorosa. Ou, então, se você acelerar o ritmo enquanto caminha, balançando os braços, “que é o que chamamos de caminhada rápida”, diz ele, “vai ser um exercício moderado. Ou faça faxina o mais rápido que puder. Há muitas oportunidades para adicionar um pouco mais de esforço” ao que você já faz todos os dias.
O estudo tem limitações, é claro. Dele participaram principalmente britânicos brancos e instruídos. Também é possível que as pessoas que realizam tarefas lentamente tenham problemas de saúde subjacentes, predispondo-as a riscos cardíacos. Mas os pesquisadores excluíram todas as pessoas que tiveram problemas cardíacos no primeiro ano do estudo, diminuindo essa possibilidade.
Talvez o mais importante seja que as descobertas não têm o objetivo de desencorajar a prática de exercícios. “Você pode fazer as duas coisas”, explica Stamatakis, exercitar-se e se esforçar ao longo do dia, desde que sua saúde e suas circunstâncias permitam.
“É um estudo muito bom, tanto na metodologia quanto na mensagem”, analisa Martin Gibala, cientista de exercícios da McMaster University, no Canadá, que estuda a intensidade dos exercícios, mas não participou dessa pesquisa. Os resultados sugerem que, mesmo que você opte por não se exercitar, incluir um pouco de atividade diária moderada ou vigorosa em sua vida “pode ter efeitos significativos para a saúde”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU