Enquanto o Congresso dos Estados Unidos analisa projetos de lei que ajudariam a integrar as stablecoins ao sistema financeiro tradicional, o maior emissor desses tokens digitais afirma que continuará concentrando seus esforços fora dos EUA.
“É importante observarmos como o Genius Act diferencia emissores estrangeiros de emissores domésticos”, disse Paolo Ardoino, CEO da Tether, em entrevista à “Bloomberg TV” na sexta-feira (23). “Nosso principal interesse continuará sendo fora dos EUA.”
Com sede em El Salvador, a Tether é responsável por mais de 60% do mercado de stablecoins, com cerca de 420 milhões de usuários em mercados emergentes. A empresa, que já teve diversos embates com autoridades estaduais e federais dos EUA, tem se aproximado do mercado americano devido a um ambiente regulatório mais favorável durante a administração pró-cripto do ex-presidente Donald Trump. Ardoino fez sua primeira visita aos EUA em março e passou por Washington enquanto Trump realizava sua cúpula inaugural sobre ativos digitais.
“Estamos analisando o Genius Act de modo a nos permitir estar em conformidade”, afirmou Ardoino. “Podemos estar em conformidade e ainda assim manter um foco forte nos mercados estrangeiros.”
Os projetos de lei da Câmara e do Senado exigem que as stablecoins — geralmente atreladas ao dólar ou a outras moedas — sejam totalmente lastreadas por dinheiro ou ativos “seguros”, como títulos do Tesouro de curto prazo, e sujeitam os emissores à Lei de Sigilo Bancário e às normas contra lavagem de dinheiro. Além disso, ambos os projetos permitiriam que reguladores aprovassem emissores estrangeiros, como a Tether, caso estes estivessem sujeitos a regras “comparáveis” em seus países de origem. No entanto, permanece a dúvida sobre como a lei lidará com emissores que não cumprirem os requisitos.
“As stablecoins são importantes nos EUA, sem dúvida, mas o fato é que os americanos já têm inúmeras formas de pagamento — como Zelle, PayPal, cartões de débito, crédito, dinheiro — o que for”, afirmou Ardoino.
Embora atualmente a Tether não atenda diretamente clientes nos EUA, a maior parte das reservas da empresa já é composta por ativos que estariam em conformidade com a legislação proposta. No entanto, a Tether também lastreia seus tokens com ativos que não seriam permitidos, como bitcoin (BTC) e empréstimos garantidos. Devido ao seu tamanho, a Tether seria regulada em nível federal caso optasse por solicitar uma licença nos EUA conforme essas regras.
Em 2021, a Tether fechou um acordo com autoridades americanas após ser acusada de mentir sobre suas reservas. Hoje, essas reservas são gerenciadas pela Cantor Fitzgerald, empresa que até recentemente era liderada por Howard Lutnick, ex-secretário de Comércio de Trump. Ardoino afirmou que a empresa pode emitir uma nova stablecoin que siga totalmente os requisitos regulatórios, tornando-se mais atrativa para investidores institucionais.
O ambiente regulatório mais favorável nos EUA também incentivou a Tether a avançar na entrega de uma auditoria completa de suas reservas por uma das quatro grandes firmas de auditoria, com as quais Ardoino disse ainda estar em negociação. Atualmente, a Tether divulga atestados trimestrais, validados pela BDO Itália.
“Estamos passando por uma fase de ajuste, mas uma auditoria completa é nossa prioridade”, afirmou Ardoino.
As stablecoins tornaram-se fundamentais para o funcionamento dos mercados de criptoativos, com cerca de US$ 243 bilhões em circulação em maio de 2025. Na sexta-feira, o “Wall Street Journal” informou que um consórcio formado por grandes bancos — incluindo JPMorgan Chase, Bank of America, Citigroup e Wells Fargo — está avaliando lançar uma stablecoin conjunta.
“Não estamos preocupados com a concorrência dos grandes bancos, porque eles vão olhar para o mundo ocidental”, disse Ardoino. “Nossa base de usuários são os 3 bilhões de pessoas não bancarizadas que não têm acesso ao sistema financeiro tradicional.”