A cantora Lexa, de 29 anos, foi internada em São Paulo devido a um quadro de pré-eclâmpsia, condição em que há o aumento da pressão arterial em gestantes. A artista está grávida de 6 meses de sua primeira filha.
Se não tratado rapidamente, o quadro pode levar a gestante a ter uma série de convulsões, condição chamada de eclâmpsia, e acometer órgãos como rins e fígado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os distúrbios hipertensivos da gravidez, grupo ao qual a doença pertence, afetam cerca de 10% das gestantes globalmente. Entre eles, diz a entidade, a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia se destacam como principais causas de mortalidade materna e neonatal no mundo.
O que é e por que acontece?
A causa da pré-eclâmpsia ainda não é completamente compreendida, mas os pesquisadores sabem que há relação com alterações na formação dos vasos sanguíneos da placenta. Lorenna Belladonna, ginecologista e obstetra do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), explica que os vasos ficam mais estreitos e isso diminui a capacidade do sangue fluir de maneira adequada, aumentando a pressão arterial.
Por isso, segundo Eduardo Cordioli, diretor técnico de obstetrícia do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista, o conceito mais moderno de pré-eclâmpsia define-a como uma síndrome de má adaptação placentária que implica em doença vascular materna.
“Quando o embrião está se fixando ao útero da mãe, as suas células formam a placenta. Mas, em alguns casos, isso não acontece corretamente e eles não conseguem se ajustar de forma profunda. Essa falta de adesão entre as células da placenta e o útero provoca reações inflamatórias”, explica. A inflamação, por sua vez, pode afetar diversos órgãos, provocando lesões.
“A placenta libera substâncias no organismo da mãe, o que pode causar lesões no rim, fígado, cérebro e até mesmo no bebê, além de subir a pressão dela”, completa Flavia Do Vale, coordenadora de obstetrícia perinatal da Rede D’Or.
Os motivos para essa complicação são multifatoriais. Questões imunológicas, genéticas e inflamatórias parecem estar envolvidas. “A pré-eclâmpsia pode ser causada por diversas situações, como problemas genéticos, onde o organismo da mãe não aceita o DNA do feto, ou por situações de complicações na gestação, como uma ameaça de aborto ou uma infecção”, diz Cordioli.
Sintomas
Geralmente, a pré-eclâmpsia se instala a partir da 20ª semana de gestação e ocorre especialmente no 3° trimestre.
A pressão superior a 140 mmHg por 90 mmHg é o principal indicador, mas não é só isso. Um aumento de 25% nos níveis de pressão pré-gravidez também é considerado um sinal. “Por exemplo, se uma mulher tinha pressão 10 por 6 durante o pré-natal, um aumento para 12 por 8 já indica alteração, pois ela deveria ter uma pressão de 10 por 6″, explica Cordioli.
Além disso, outros sinais importantes são:
- Quantidade excessiva de proteína na urina (proteinúria) causada por disfunções renais
- Inchaço nas mãos, rosto, pernas ou pés. Embora isso seja comum na gravidez, o inchaço repentino e significativo pode ser um sinal de pré-eclâmpsia
- Disfunção cerebral, como dores de cabeça persistentes ou convulsões, em casos mais graves
- Dor abdominal no lado direito superior, que pode indicar danos ao fígado
- Alterações visuais como escotomas (perda temporária da visão)
- Restrição de crescimento fetal
- Náuseas intensas, especialmente se ocorrem após ter sido superado o período de enjoos do primeiro trimestre
Fatores de risco
Segundo Anne Pereira, ginecologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, existem diversos fatores de risco que podem ser sinal de alerta para o quadro, como:
- Primeira gestação
- Gestações múltiplas
- Hipertensão
- Diabetes pré-existentes
- Histórico familiar de pré-eclâmpsia
- Obesidade
- Idade materna avançada ou muito baixa
- Condições como lúpus ou síndrome antifosfolípide
Complicações
O diagnóstico é feito pela detecção de pressão arterial elevada, geralmente acima de 140 mmHg por 90 mmHg, associada à proteinúria confirmada em exames de urina.
Também são realizados exames de sangue e ultrassonografias para avaliar a saúde materna e fetal e monitorar possíveis complicações.
As complicações incluem insuficiência renal e falência hepática – mas a pré-eclâmpsia pode afetar qualquer órgão. Assim, também podem acontecer complicações cardíacas, como o infarto, e edema pulmonar.
Outra possível alteração é a chamada síndrome HELLP, em que há hemólise, aumento das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas – com isso, há o risco de hemorragias prolongadas e difíceis de controlar.
A mãe pode ainda ter eclâmpsia, que pode causar convulsão, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e descolamento prematuro de placenta, explica Belladonna.
“O principal risco da pré-eclâmpsia é único: a morte”, alerta Cordioli.
Tratamento
O tratamento depende da gravidade e da idade gestacional. Em casos leves, o acompanhamento rigoroso com controle da pressão e exames frequentes pode ser suficiente.
Nos casos graves, pode ser necessário hospitalizar a paciente e administrar medicamentos anti-hipertensivos.
Eventualmente, segundo Fernanda Grossi, membro da Comissão de Gestação de Alto Risco da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), pode ser necessário induzir o parto, pois o único tratamento definitivo é o nascimento do bebê.