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Sabia que existe alergia ao suor? Doença é considerada limitante e pouco diagnosticada; veja sinais

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Sabia que existe alergia ao suor? Doença é considerada limitante e pouco diagnosticada; veja sinais

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Você pode ser alérgico ao seu próprio corpo? Para muitos, essa ideia pode parecer improvável. No entanto, é exatamente o que acontece com pessoas diagnosticadas com urticária colinérgica: uma doença crônica pouco conhecida em que o simples ato de suar pode desencadear coceira intensa, dor e lesões na pele.

“É uma condição extremamente limitante. Muitas vezes, o paciente se vê restrito a atividades comuns, como tomar um café quente, comer alimentos picantes, sair de casa em um dia mais abafado, sofrer situações de estresse”, descreve Guilherme Azizi, imunologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Quando uma pessoa com a doença produz suor, o sistema imunológico entra em ação de forma equivocada e dispara anticorpos Foto: Doucefleur/Adobe Stock

A urticária colinérgica se distingue de outras condições relacionadas ao suor por não depender exclusivamente de fatores externos, como a temperatura ambiente. “Ela pode ser desencadeada pela temperatura interna do corpo, independentemente do clima ao redor”, afirma Zanini. “Por exemplo, uma pessoa pode estar no trabalho, com ar-condicionado, e ainda assim começar a se coçar após uma situação de estresse, quando sua temperatura corporal sobe e o suor começa a aparecer”, detalha o especialista.

De acordo com ele, a doença não está relacionada a alimentos, infecções, corantes ou medicamentos. E embora possa contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais, como ansiedade e depressão, eles não são a causa, como muitos acreditam.

“Quando a pessoa produz o suor, o sistema imunológico entra em ação de forma equivocada e dispara anticorpos, provocando uma espécie de ‘autoalergia’”, explica. “Ainda não conseguimos identificar exatamente quais componentes do suor desencadeiam essa resposta, mas sabemos que o organismo está, de certa forma, reagindo contra si mesmo.”

Quais as características da urticária colinérgica?

A urticária colinérgica se manifesta como ‘bolinhas’ avermelhadas, semelhantes a picadas de mosquito, medindo entre 1 e 3 milímetros. Além disso, tem outras características comuns:

  • As lesões costumam ser cercadas por uma área de vermelhidão (eritema), criando uma textura irregular e sobressaltada na pele.
  • Além de causar coceira, é muito comum que as lesões sejam dolorosas ou estejam acompanhadas de ardência, formigamento e inchaço
  • Elas podem surgir em qualquer parte do corpo, mas são mais comuns no tronco, pescoço e membros superiores

Azizi explica que a gravidade da doença varia. Quanto mais rápido os sintomas aparecem após o início da transpiração, maior tende a ser o número de lesões e a intensidade da coceira.

Nos casos mais graves, o dermatologista Cristiano Kakihara, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), diz que a exposição ao suor pode desencadear não apenas os sintomas cutâneos, mas também reações sistêmicas, como desmaios, cólicas abdominais, diarreia, salivação excessiva, dor de cabeça, inflamação no fígado, inchaço em partes do corpo (angioedema), crises de asma e, em situações extremas, anafilaxia — uma reação alérgica grave que pode levar à queda da pressão e dificuldades respiratórias.

Embora não seja hereditária, a doença é um pouco mais comum em homens. Esse fator pode estar relacionado ao metabolismo mais acelerado, que tende a elevar a temperatura corporal com maior facilidade. Além disso, Kakihara afirma que pessoas com outros tipos de urticária, doenças atópicas (como rinite alérgica e asma brônquica) e distúrbios na produção de suor podem ser mais suscetíveis.

“As lesões costumam surgir entre os 10 e os 29 anos, mas tenho pacientes que começaram a apresentar sintomas aos 50. Então, podemos dizer que não há uma regra sobre quando a doença pode aparecer”, ressalta Azizi.

Doença rara ou subdiagnosticada?

Atualmente, diagnosticar a urticária colinérgica não é uma tarefa simples. Além de não ser uma doença amplamente conhecida mesmo para profissionais da saúde, o que facilita a confusão com outras enfermidades, não há exames laboratoriais específicos, como um teste de sangue. A identificação da doença depende de testes que induzem o aumento da temperatura corporal para observar a reação da pele.

Os dois métodos mais comuns são a bicicleta ergométrica, com monitoramento da frequência cardíaca, e a imersão do paciente em uma banheira com água a 42 °C. Mas ambos apresentam limitações. “A bicicleta ergométrica é cara, já a banheira precisa ser mantida exatamente na temperatura ideal para não comprometer a segurança do paciente e evitar riscos como anafilaxia. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, ambos são escassos”, explica Kakihara.

Para tornar o diagnóstico mais acessível, pesquisadores da UFRJ, no âmbito do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, desenvolveram um novo teste, coordenado por Zanin. O método consiste em subir um lance de 13 degraus, induzindo o surgimento do suor e dos sintomas, enquanto a frequência cardíaca é monitorada. “É um exame simples, barato e que pode ser aplicado tanto na rede pública quanto na privada”, avalia Kakihara, que não participou do estudo.

Embora seja considerada uma doença rara, atingindo aproximadamente 80 mil brasileiros e 0,5% da população mundial, há uma dúvida importante: a baixa incidência se deve à real raridade ou à dificuldade do diagnóstico? Segundo o imunologista, essa é uma questão em aberto. Porém, desde que o teste passou a ser aplicado na URFJ, os casos aumentaram 600%. “A gente tinha entre cinco e seis pacientes, e esse número subiu para 35 desde 2023”, detalha Zanin.

Existe cura?

Atualmente, não existe cura para a alergia ao suor. Em alguns casos, a doença pode desaparecer por conta própria, mas isso é raro. Em outros, os sintomas podem entrar em remissão por períodos curtos, como 3 ou 4 meses.

O que pode ser feito é utilizar medicamentos para controlar os sintomas. “Até por isso, é importante que as pessoas sejam diagnosticadas”, opina Azizi. Geralmente, esse tratamento costuma ser iniciado com o uso de anti-histamínicos — remédios que funcionam bloqueando a ação da histamina, responsável pelas reações alérgicas. Se eles não forem eficazes, o segundo passo é partir para imunobiológicos.

“Como não são medicamentos que atuam exatamente na causa, infelizmente, há casos em que nenhum dos medicamentos funciona”, lamenta o imunologista.

Embora a doença não esteja estritamente associada à temperatura ambiente, em um cenário de mudanças climáticas, com o aumento acentuado e constante das temperaturas, os impactos negativos na qualidade de vida dos pacientes tendem a ser proporcionais.

“Quanto mais alta a temperatura ambiente, maior a produção de suor e mais intensos os sintomas”, destaca o médico. Ele acrescenta que isso também motivou o desenvolvimento do novo exame. “Os pacientes sofrem muito com essas altas temperaturas. Já é uma condição limitante, e tem se tornado cada vez mais difícil de lidar. A importância de termos testes mais acessíveis nunca foi tão grande”.

Fonte: Externa

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