O grande fluxo de recursos para os fundos de crédito privado e a necessidade de alocar esse dinheiro estão levando gestores a reduzir exigências na hora de comprar um título de dívida, mas a seletividade e a adequação do prêmio de risco ao perfil da emissão é o mais importante agora. Essa foi a afirmação em comum entre os três gestores de crédito presentes ao TAG Summit, realizado nesta manhã em São Paulo: André Fadul, da Safra Asset, Alexandre Theoharidis, da Polígono Capital, e Samer Serhan, da JiveMauá.
Segundo ele, a Safra Asset foca em avaliar garantias e, depois de os títulos serem comprados, monitora os resultados da empresa e o andamento dos pagamentos. Ele deu um exemplo de companhia que há um ano emitiu com um spread de 0,6 ponto percentual e, recentemente, a 1,30 ponto. “Claramente quem entrou na operação do ano passado deixou dinheiro na mesa. É mais relevante saber se o spread está adequado à probabilidade de default e potencial perda na operação, e não se está abaixo ou acima da média histórica.”
Para Theoharidis, a Selic em patamar alto vai pressionar as empresas, que precisarão consumir caixa para pagar dívidas, ao mesmo tempo em que a economia vai desacelerar. Por isso, afirma, em algumas classes os spreads podem não estar remunerando adequadamente. “Temos tomado muito cuidado com precificação”, comentou. “Em busca de maiores rendimentos, temos visto migração para o ‘high yield’ [ativos de maior risco e potencial de retorno], o que acaba pressionando para baixo o spread da categoria também.”
Ele afirma que a política da empresa é de “buy and hold”, ou seja, carregar os papéis por um longo período, por isso precisa ter garantia de que a operação está bem estruturada. “Quando o mercado para por momentos de pujança, o crivo acaba sendo flexibilizado, pela necessidade de ter mais prêmio nas carteiras.”
Ele lembra que em 2023 o mercado saiu rapidamente da crise causada por Americanas e Light porque teve o “vento favorável” do início do corte da Selic, mas, ressalta, agora a situação é distinta e deve permanecer assim até 2026.
Fadul comentou que não se preocupa com uma repetição de 2023 agora, mas diz que naturalmente há potencial chance de reajuste de preços dos títulos. “Nosso papel como gestora é surfar isso”, afirmou. “Para o ‘high grade’ [créditos de melhor qualidade] ainda vemos mercado bom. O prêmio está mais baixo do que em 2024, mas em liquidez e qualidade de crédito há espaço de continuar crescendo.”
Já Serhan chamou a atenção para o paradoxo vivido hoje no país, com um cenário doméstico e internacional mais sensível e ruim, enquanto “o mercado de capitais vai muito bem, obrigado.” “Existe um movimento saudável no crédito privado versus o que acontece no momento macro como um todo.”
De acordo com ele, investir em crédito em 2025 está melhor do que há cinco e há dez anos, com um risco menor de quebradeira, porque a maior parte da formação bruta de capital fixa está em mãos privadas. Para Serhan, a preocupação maior agora não é com a Selic, porque, afirma, o mercado já está acomodado, e sim com a possibilidade de desaceleração econômica forte. “O Brasil cresce na ordem de 3% há mais de três anos, a China há mais de uma década e, pela primeira vez, a gente discute uma desaceleração”, aponta. “As empresas estão bem e vão aguentar mais um ou dois anos, e o olho tem que estar direcionado para o caso de termos uma desaceleração global.”
Para se proteger, Theoharidis afirma que a Polígono tem focado em setores mais blindados do quadro macro, montando operações estruturadas com carteira pulverizada de crédito em ecossistemas que mesmo em momentos desfavoráveis se mantêm resilientes, “por conseguirem operar com spreads e termos e condições com tomadores quase irreplicáveis.” Ele cita o caso de um marketplace que dá crédito para seus vendedores. “Crédito nichado é onde temos tentado navegar para passar por esse momento, porque conseguimos prêmios mais elevados e proteção contra risco de perdas.”