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Dia dos Namorados: o que acontece no cérebro quando nos apaixonamos

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Dia dos Namorados: o que acontece no cérebro quando nos apaixonamos

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Neurociência do amor: como esse sentimento afeta o cérebro?

O neurologista Fernando Gomes explica como se apaixonar e criar vínculos afetivos interferem no funcionamento da massa cinzenta.

Você já se perguntou por que um simples toque, um olhar demorado ou uma lembrança podem acelerar os batimentos do coração, alterar a respiração e mudar seu humor em segundos? Do ponto de vista da neurociência, o amor é muito mais do que poesia: é um fenômeno biológico complexo, profundamente enraizado em nosso cérebro e regulado por circuitos neurais específicos.

Para mim, o amor é o assunto mais interessante do mundo.

Isso porque amar, apaixonar-se, sentir desejo ou manter um vínculo afetivo duradouro envolve uma verdadeira tempestade neuroquímica que inunda o cérebro de boas sensações. E compreender como isso funciona é essencial não apenas para decifrar o comportamento humano, mas também para tratar questões clínicas relacionadas ao humor, à compulsividade e aos relacionamentos interpessoais.

O amor é sentido no cérebro

O amor ativa áreas profundas do cérebro ligadas à recompensa, à motivação e à cognição emocional. Entre elas, destacam-se o núcleo accumbens, o hipotálamo, a amígdala e o córtex pré-frontal.

Quando uma pessoa se apaixona, ocorre uma ativação intensa do sistema dopaminérgico, o mesmo sistema envolvido em outras formas de prazer e recompensa, como o consumo de alimentos, cigarro, bebida alcoólica e até de drogas. A dopamina é o neurotransmissor da motivação e do desejo — ela nos impulsiona a buscar a presença da pessoa amada, provocando sentimentos de euforia, obsessão e até comportamentos impulsivos.

Não é à toa que muitos dos sintomas da paixão lembram um transtorno compulsivo: pensamentos intrusivos, vontade de atravessar o oceano só para dar um beijo no outro, alteração de prioridades e uma forte idealização do outro.

O amor tem impactos profundos no cérebro Foto: Mandeep/Adobe Stock/Gerado com IA

Isso tudo é neuroquímica da paixão

Além da dopamina, outros neurotransmissores e hormônios estão profundamente envolvidos nesse processo:

  • Ocitocina: chamada de “hormônio do amor”, a ocitocina está relacionada ao apego e à formação de vínculos duradouros. Ela é liberada em momentos de intimidade, como durante o sexo, o abraço ou até mesmo um beijo prolongado. Curiosamente, sua ação é mais intensa com o tempo, e está associada ao amor estável, aquele que substitui a paixão avassaladora por uma sensação de segurança e pertencimento.
  • Vasopressina: esse hormônio também contribui para a estabilidade dos laços amorosos. Estudos com animais monogâmicos mostraram que a vasopressina desempenha papel fundamental na fidelidade e no comportamento protetor.
  • Serotonina: durante a fase inicial do amor, seus níveis caem, o que pode explicar os comportamentos obsessivos típicos da paixão. Paradoxalmente, com o passar do tempo, quando o relacionamento se torna estável, os níveis de serotonina tendem a se normalizar.
  • Cortisol: na fase inicial da paixão, os níveis de estresse podem aumentar. Isso acontece porque há uma resposta de excitação e expectativa, o que eleva o cortisol — mas essa é uma fase passageira. Com o tempo, a presença da pessoa amada tende a reduzir o estresse.

Quando a paixão passa a ser amor

Do ponto de vista da biologia evolutiva, o amor é uma estratégia de sobrevivência. Ele garante o cuidado com a prole, a estabilidade das relações sociais e a cooperação entre pares. O cérebro evoluiu para valorizar o amor como um mecanismo de manutenção da espécie.

Por isso, os circuitos neurais do amor são tão poderosos quanto os da fome ou do sono. O amor molda comportamentos, prioriza decisões e altera percepções. Pode nos tornar mais criativos, resilientes, determinados — ou, quando mal resolvido, pode nos levar a estados de sofrimento emocional profundos, como o luto amoroso ou o ciúme patológico.

É a máxima da antiga frase: “Diga-me com quem andas que te direi quem és”. Ou ainda: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Esses ditos populares são facilmente explicados pela neurociência.

Isso tudo porque as experiências afetivas deixam marcas profundas em circuitos de memória, principalmente no hipocampo e na amígdala. Isso explica por que músicas, cheiros ou lugares específicos podem desencadear emoções tão intensas — mesmo após anos de um término.

Além disso, o amor influencia a maneira como lembramos dos fatos: tendemos a relembrar os momentos afetivos com viés positivo, o que pode alimentar idealizações ou arrependimentos.

O fim do amor: quando o cérebro precisa se adaptar

O término de um relacionamento provoca uma verdadeira abstinência emocional. O cérebro sente a perda do estímulo de dopamina e ocitocina, o que pode gerar sintomas semelhantes aos da síndrome de abstinência de drogas: tristeza profunda, insônia, irritabilidade e ansiedade.

Por isso, cuidar da saúde emocional durante esse período é fundamental. Meditação, atividade física, contato social e até terapia podem ajudar a modular a neuroquímica e favorecer a neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de se reorganizar e criar novos caminhos.

Também fica como dica deixar de seguir o companheiro (a) nas redes sociais e deixar de saber o que se passa na vida do outro.

Amor é também uma escolha

Apesar de todo o substrato biológico, o amor não é apenas instinto. O ser humano é dotado de consciência e linguagem. Isso significa que escolhemos amar, investimos energia em vínculos e aprendemos a cultivar a afetividade. O amor envolve valores, expectativas e construção de projetos em comum.

Na neurociência, costumamos dizer que o cérebro é plástico – isso é neuroplasticidade. E assim é o amor: biológico na origem, mas humano na experiência.

O amor pode ser estudado nos laboratórios, mapeado por ressonâncias magnéticas e descrito por curvas de liberação hormonal. Mas sua força vai além da biologia. Ele é a ponte entre nosso instinto e nossa humanidade. Compreender o amor sob a ótica da neurociência não o reduz ao mecânico — ao contrário, o valoriza como um dos fenômenos mais complexos e fascinantes da existência humana.

Fonte: Externa

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