Queridinho dos brasileiros há quase cinco anos, o Pix virou alvo na disputa comercial dos Estados Unidos com o Brasil na última semana. A investigação aberta pelo Representação Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês) incluiu o meio de pagamento como uma das práticas comerciais “desleais” do Brasil contra os EUA.
Mas afinal quem faz um Pix no Brasil? Como o perfil de uso, a frequência e o valor das operações varia de acordo com diferentes características da população?
A pesquisa “Geografia do Pix” detalhou as informações por diferentes recortes, seja por região, faixa etária, PIB per capita, cor ou raça, alfabetização, conectividade e recebimento do Bolsa Família.
Para isso, os pesquisadores do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira (FGVCemif) da FGV EAESP cruzaram os dados do Censo Demográfico, do Ministério de Desenvolvimento Social e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com as estatísticas do Banco Central.
O trabalho traz informações sobre a adesão ao Pix – parcela da população que fez pelo menos uma operação por mês ao longo de 2024 –, o número de transações por mês e o valor médio das transferências.
Confira, a seguir, o que a pesquisa mostra sobre as diferenças no uso do Pix no Brasil:
Pix por Brasil e regiões
A taxa de adesão do Pix no Brasil é de 63%. Isso significa que seis a cada dez pessoas no país fizeram alguma transação por mês em 2024. A região Sudeste é a que tem a maior aceitação ao meio de pagamento (66,7%) enquanto a menor adesão é no Nordeste (58,3%).
Na média brasileira, são feitas 32 transações por mês. Neste caso, é do Norte a liderança entre as regiões (41), enquanto o Sul fica na lanterna, com 27 operações por mês. O valor médio das transações é de R$ 190,57 no Brasil e varia entre R$ 147,58 (Nordeste) e R$ 240,57 (Centro-Oeste).
Um dos autores da pesquisa, o coordenador do FGVCemif, Lauro Gonzalez, explica que os dados da pesquisa mostram uma tendência de maior adesão ao Pix quanto maior a renda da população e que também há uma relação direta com o valor médio das transações.
Por outro lado, o número de transações costuma ser maior entre as regiões onde a população tem renda menor. Nesses casos, há uma menor diversidade de meios de pagamento disponíveis: cartões e TED, por exemplo, são mais usados por quem tem renda maior.
Outros indicadores ligados a renda seguem essa mesma tendência: quanto maior a renda, maior é a adesão e o valor médio das transações, mas menor o número de operações mensais.
No recorte por faixa etária, como seria de esperar, a adesão ao Pix é menor nas pessoas mais velhas, mas nesses casos o valor médio das transações é maior. A faixa de 30 a 44 anos é a que tem maior taxa de adesão (54%), enquanto a menor é a que tem 45 anos ou mais (44%).
As estatísticas brasileiras mostram uma relação direta entre renda e nível de alfabetização no país. Assim, a pesquisa mostra que os municípios com alfabetização muito alta têm maior aceitação do Pix (57,1%) e maior valor médio das operações (R$ 231,4), mas menor número de operações por mês (26).
Para essa análise, os pesquisadores da FGV EAESP separaram as cidades em quatro grupos (ou quartis) conforme a taxa de alfabetização). Assim, o gráfico mostra as médias dos indicadores para cada uma das categorias.
Produto Interno Bruto (PIB) per capita
O indicador de PIB per capita é o que mostra de forma mais clara o comportamento observado pelos pesquisadores nas estatísticas relacionadas a renda. Os municípios com maior PIB per capita têm maior adesão (56%) e valor médio maior das transações (R$ 240,3), mas número menor de transações por mês (26).
Na análise das cidades por proporção de pessoas que recebe o Bolsa Família, os pesquisadores avaliam que a aceitação ao Pix é próxima entre os diferentes grupos de municípios, conforme a proporção de beneficiários.
As cidades com menor proporção de beneficiários – que são as de maior renda – apresentam menor número médio de operações por mês (24), mas maior valor médio das operações (R$ 247,3).
Os indicadores socioeconômicos como um todo no Brasil são um retrato das desigualdades estruturais por cor ou raça no país. As disparidades no acesso à educação levam a discrepâncias também de renda. As estatísticas de renda mostram população branca com rendimento médio maior e pessoas pretas e pardas, menor.
A adesão, frequência de uso e valor médio das transações de Pix, portanto, apresentam a mesma tendência observada em outros indicadores ligados a renda. Neste recorte, no entanto, há pouca diferença na aceitação ao meio de pagamento (52,1% nos municípios em que a maioria da população é branca e 52% onde a maioria é preta ou parda).
A diferença aparece no número médio de operações por mês e no valor médio das transações.
As estatísticas ligadas ao acesso à internet no Brasil – medido pelo Índice Brasileiro de Conectividade (IBC) apontam correlação com a renda. Dessa forma, a análise do uso do Pix também acompanha o comportamento dos indicadores de renda.
Maior adesão e valor médio das transações entre os municípios de maior renda. No recorte por número de operações por mês, no entanto, há pouca diferença entre as categorias de municípios.