Cerca de 14 mil crianças e adolescentes foram internados nos últimos dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS) devido a queimaduras, conforme dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o que equivale a quase 20 hospitalizações diárias na faixa etária de zero a 19 anos. A pesquisa focou apenas nos casos mais graves, ou seja, aqueles com indicação de acompanhamento hospitalar.
Segundo o mesmo levantamento, crianças de um a quatro anos de idade são as maiores vítimas: foram 6,4 mil internações em 2022 e 2023. Na sequência, estão as faixas de cinco a nove anos (2.735 casos); de 15 a 19 anos (1.893); de dez a 14 anos (1.825); e, por, fim os menores de um ano (1.051).
Em relação a óbitos por queimaduras, cerca de 700 crianças e adolescentes foram vítimas entre 2021 e 2022 – período mais recente disponível – conforme o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.
O presidente da SBP, Clóvis Constantino, diz que a maioria dos acidentes com queimaduras podem ser evitados. “Em crianças pequenas, as queimaduras acontecem, na maioria dos casos, como consequência de ações de descuido do responsável. Como ao aquecer demais a água do banho ou ao manusear alimentos quentes com o bebê no colo. Os primeiros anos de vida são marcados pela curiosidade em explorar o mundo. É indispensável a vigilância constante pelos responsáveis, pois há inúmeras situações corriqueiras que podem representar risco”, alerta o médico.
Apesar das queimaduras na faixa etária pediátrica ocorrerem durante o ano todo, os meses de junho e julho representam maior perigo, conforme especialistas. Nesta época, ocorrem festividades juninas em todo o País, sendo comuns atividades como brincadeiras em volta de fogueiras ou soltar fogos de artifício.
Segundo dados da Buzzmonitor, gerados pela Elife Insight Pills, no ano passado, o dia de São João e o dia seguinte foram responsáveis sozinhos por 30% dos relatos de queimaduras de junho.
A presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento às Causas Externas na Infância e Adolescência da SBP, Luci Pfeiffer, alerta para os riscos trazidos por atividades comuns nessa época do ano. “Na internet é fácil encontrar vídeos de crianças com ‘bombinhas’ e ‘chuva de prata’ nas festas de São João. Somente pessoas acima dos 18 anos devem manuseá-los. Também é essencial sempre seguir as indicações do fabricante, que deve ter a certificação do Inmetro”, enfatiza.
Conforme a pediatra Adriana Brito, nessa época as queimaduras térmicas são mais comuns. “São aquelas ocasionadas pelo contato com fogo e chama, ou também escaldadura provocada por líquido superaquecido. É uma época fria, e as pessoas consomem sopas, líquidos quentes. Caso ocorra um acidente, a primeira coisa a se fazer é resfriar o mais rápido possível a área queimada, a colocando sob água corrente fria por vários minutos. É fundamental também não colocar nenhuma substância ou produto na área e, se formar bolha, nunca estourar”, pontua a médica.
Ela lembra que as queimaduras podem ter diferentes níveis de profundidade. “As de primeiro e segundo grau superficial doem bastante, enquanto as de terceiro grau, em geral, são indolores porque comprometem o tecido nervoso. Em todos os casos, é muito importante que as crianças e adolescentes sejam levados para o hospital para uma avaliação”, ressalta.
Adriana enfatiza a importância de manter um extintor de incêndio em local de fácil acesso e substâncias inflamáveis fora do alcance dos mais jovens. A médica também chama atenção para a necessidade de encaminhamento a um hospital em caso de inalação de fumaça, e a importância de realizar avaliações oftalmológicas em casos de queimaduras faciais.
Além disso, aconselha cautela no uso de álcool em casa, sugerindo uma concentração abaixo de 45% para minimizar riscos de acidentes.