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Precisamos falar sobre o envelhecimento da população LGBTQIA+

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Precisamos falar sobre o envelhecimento da população LGBTQIA+

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Quando eu tinha 12 anos, minha mãe disse que não gostaria de ter um filho gay porque tinha muito receio de que ele sofresse. Hoje, com quase 40, ainda lembro nitidamente dessa cena. Estávamos no carro, voltando do cinema — eu no banco de trás, prestando atenção em tudo — e, meio que de repente, ela soltou a frase, que me marca até hoje.

Tal sutileza é muito diferente da realidade brutal de muitos jovens que são expulsos de casa e violentados por uma sociedade ainda muito preconceituosa. Mas essa marca sutil me fez pensar – e muitas vezes me esforçar – para não ser quem eu sou hoje. Porém, envelhecemos, ouvimos as nossas verdades e entendi a preocupação daquela que hoje é minha melhor amiga.

Com o avançar da idade, também me aprofundei nos estudos sobre o envelhecimento de lésbicas, gays, bissexuais e pessoas transgênero. Infelizmente, são muitos que envelhecem em condições menos favoráveis do que seus contemporâneos heterossexuais e cisgênero. Temos estatísticas refletindo desde piores índices de solidão e isolamento social até maior risco de problemas físicos e transtornos relacionados à saúde mental.

População LGBTQIA+ precisa de profissionais de saúde e ambientes acolhedores para acompanhar seu envelhecimento Foto: olezzo/Adobe Stock

E indo além: apesar de colocarmos todos no mesmo “caldo da sopa de letras”, a realidade de pessoas trans é ainda mais complexa, já que muitas não têm nem o direito de envelhecer – são assassinadas ou levadas ao suicídio pelas violências e exclusões constantes que enfrentam ao longo da vida. Sem contar a patologização da própria identidade e exclusão social diária que muitas enfrentam.

O atendimento ideal

Existir como uma pessoa divergente da norma ocupa um espaço complexo e cheio de desafios. Por isso, são necessárias estratégias de apoio e de acolhimento diferentes das quais estamos acostumados. Nesse sentido, é fundamental contarmos com profissionais e ambientes acolhedores em relação a todas as formas de existência.

É na velhice que mais problemas de saúde podem surgir e, por isso, aproximar uma pessoa dos serviços de saúde, e não afastá-la, deve ser o mantra da sociedade. Hoje, muitas pessoas LGBTQIA+ buscam atendimento médico apenas em casos de emergência – ou seja, não realizam os cuidados de prevenção necessários para garantir um envelhecimento com qualidade e garantia de direitos.

Vale destacar que envelhecer não é apenas adicionar segundos ou dias em nosso tempo biológico. É viver no curso da vida e através de todas as relações e de todos os lugares que habitamos. Dessa forma, não envelhecemos apenas quando completamos 59 ou 60 anos, mas sim desde o momento em que saímos do útero de nossas mães.

Aliado a esse conhecimento, há ampla evidência na geriatria e na gerontologia de que certas condições de saúde, como as demências, possuem fatores de risco que estão presentes ao longo de toda a vida, desde a infância até os últimos dias. Sabe-se, por exemplo, que a baixa escolaridade na infância e adolescência pode aumentar o risco de Alzheimer depois dos 60 anos. Então, o estímulo à prevenção e à promoção do envelhecimento ativo precisa começar o mais cedo possível.

Volto àquele carro e queria que mais pessoas pudessem fazer essa mesma viagem. Lembro que junho é o mês dedicado para celebrarmos as diferenças e que hoje, dia 22, acontecerá em São Paulo a maior parada de orgulho LGBT do mundo. Seu tema será: “Envelhecer LGBT – memória, resistência e futuro”, o que se conecta muito com a questão da longevidade. Porém, para resistir e existir, envelhecendo e conquistando amores, sabores e afetos, é preciso garantir os cuidados adequados desde muito antes.

Fonte: Externa

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