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Por que Irã e Israel são inimigos? Entenda a origem do conflito

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Por que Irã e Israel são inimigos? Entenda a origem do conflito

Criação de diretriz mundial para enfrentamento de pandemias esbarra em conflito entre Países
Presidente de Israel diz à CNN que não quer conflito, mas reitera que Irã fez “declaração de guerra“
Entenda como o conflito entre Irã e Israel podem fazer os preços do petróleo dispararem

Irã e Israel se encontram em um dos momentos geopolíticos mais tensos da sua história, depois de a República Islâmica ter atacado diretamente Israel pela primeira vez.

Uma análise sobre o caminho percorrido pelos dois países nas últimas décadas permite entender como as duas nações passaram de alianças a hostilidades, e chegaram ao momento crítico da crise no último dia 13 de abril.

Segundo as Forças de Defesa de Israel (FDI), o ataque consistiu no lançamento de mais de 300 projéteis disparados do Irã e de outros países como o Iraque (embora o primeiro-ministro do país tenha negado o lançamento de mísseis do território iraquiano), o Iêmen e o Líbano, onde o regime iraniano tem milícias aliadas como o Hezbollah.

O Irã disse que a ação foi uma retaliação pelo ataque de Israel contra um edifício do consulado iraniano em Damasco, Síria, e acrescentou que qualquer nova “agressão” de Israel terá “uma resposta mais dura e lamentável”.

Na sexta-feira (19), Israel lançou um ataque contra o Irã.

A realidade de hoje está assim: um confronto que o Ocidente tenta evitar que escale para um conflito em todo o Oriente Médio, uma região que tem sido pressionada pela guerra entre Israel e o Hamas desde 7 de outubro de 2023.

No entanto, a relação Israel e Irã nem sempre foi assim. Na verdade, o que acontecia era o oposto.

Isso ao ponto do Irã já ter sido, provavelmente, um dos aliados mais “confiáveis” de Israel “até 1979”, ano da Revolução iraniana, de acordo com Abbas Milani, diretor de Estudos Iranianos Hamid e Christina Moghadam da Universidade de Stanford, na palestra “Irã e Israel: Visão estratégica e objetivos” da Universidade da Califórnia em Berkeley, realizada no último dia 18 de março.

O que aconteceu que levou a essa mudança? Aqui temos um resumo da origem das relações entre os dois países.

Os aiatolás do Irã (o aiatolá é o líder supremo do país islâmico) têm essencialmente três objetivos: expulsar os Estados Unidos do Médio Oriente, substituir Israel pela Palestina e derrubar a ordem mundial liderada pelos Estados Unidos, comentou o especialista em Irã Karim Sadjadpour no podcast “In the Room with Peter Bergen”.

A inimizade do Irã com Israel e também com os EUA atingiu o seu auge em 1979, no contexto da Revolução Iraniana, quando o Xá do Irã (o governante monárquico do país naquela época), aliado do Ocidente e de Israel, foi derrubado pelos fundamentalistas islâmicas, de acordo com Peter Bergen, analista de segurança nacional da CNN.

Nos anos seguintes, acrescenta Bergen, as diferenças ideológicas entre Israel e o regime iraniano, além dos reveses e erros políticos dos Estados Unidos, exacerbaram a inimizade entre israelenses e iranianos.

Ao contrário do que se pode pensar, há judeus que vivem no Irã há mais de 2.500 anos.

Milani comentou que “viveram ali de forma contínua e amaram o país onde viveram”, como os judeus da comunidade iraniana de Isfahan.

A relação dos iranianos com os judeus foi decisiva na primeira metade do século XX, pois o Irã foi um dos países que concordou com o plano de divisão da Palestina da Organização das Nações Unidas (ONU) que criaria dois Estados: um judeu e outro palestino.

Sistema antimíssil em Israel após ataque iraniano / Amir Cohen/Reuters (14.abr.24)

“Mesmo antes da criação de Israel, o Irã foi um dos países que apoiou a criação do Estado de Israel na ONU. Mas também era indiscutivelmente a favor de ter um plano para os palestinos”, enfatizou Milani.

O plano de divisão final da ONU, que incluía um Estado judeu, outro árabe palestino e Jerusalém sob um regime internacional, foi aprovado em novembro de 1947 com 33 votos a favor, 13 contra e 10 abstenções.

Entre os países contra estava o Irã, que anteriormente havia recomendado “a independência da Palestina como Estado federal que compreendesse, em sua estrutura interna, um Estado árabe e um Estado judeu.

Uma das razões apresentadas foi que a federação criaria uma situação na qual árabes e judeus estariam interessados em trabalhar juntos”, segundo documentos da ONU.

Após a declaração de independência de Israel em maio de 1948, houve várias guerras (1948, 1967, 1973) entre o novo Estado judeu e países árabes vizinhos.

Na primeira dessas guerras, participaram o Egito, Síria, Jordânia, Iraque e Líbano, mas não o Irã; enquanto, assinala a ONU, Israel “ocupou 77% do território que tinha tido a Palestina sob o Mandato Britânico, incluindo a maior parte de Jerusalém. Mais da metade da população árabe palestina foi expulsa ou fugiu do território do novo Estado”.

Embora seja notório que existiam desacordos, o Irã se afasta do conflito com Israel. Por quê? Abbas Milani explica que, além da sua população judaica, o Irã partilhava importantes interesses econômicos com Israel, sobretudo em dos maiores motores da economia iraniana: o petróleo.

“A partir de 1955, o Irã começa a vender petróleo a Israel a preços reduzidos. Assim que alguns estados árabes do outro lado do Golfo Pérsico começaram a dizer “não podemos vender este petróleo”, o Irã disse que o venderia com desconto”, explicou o especialista da Universidade de Stanford.

O livro “Israel and Iran: A Dangerous Rivalry”, publicado em 2011 pelo centro de pesquisa RAND Corporation, enfatiza a questão econômica como um ponto forte das relações entre os dois países, dizendo que “a aliança irianiana-israelense deu lugar a uma ampla cooperação econômica e energética”.

É depois da guerra israelense-árabe de 1967, também conhecida como a Guerra dos Seis Dias, que as relações entre Irã e Israel se tornaram mais antagônicas, acrescenta o livro da RAND.

“Em particular, na sequência da Resolução de Cartum de Setembro de 1967. A Resolução de Cartum, conhecida sobretudo por conter o que chegou a ser conhecido como os Três Não — não à paz com Israel, não ao reconhecimento de Israel, não às negociações com Israel — serviu de base para grande parte da política árabe para com Israel desde 1967 até 1973”, diz o livro.

Apesar disso, a cooperação econômica não parou, ao ponto de “estabelecerem novas companhias no Panamá e na Suíça sob uma entidade legal central chamada Trans-Asiatic Oil”, que foi a base operacional de uma “associação ultrassecreta” entre Israel e o Irã em matéria de petróleo no final de 1970, depois da Guerra dos Seis Dias e da guerra árabe-israelense de 1973, segundo o livro.

A companhia Eilat-Ashkelon Pipeline, uma subsidiária da Trans-Asiatic Oil, fornecia petróleo iraniano a Israel, acrescenta o livro.

Em 1973, os Estados árabes membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC) proibiram as vendas aos Estados Unidos e a alguns países europeus, como represália ao apoio militar que estes países deram a Israel no meio das negociações de paz pós-guerra, segundo o Departamento de Estado dos EUA.

Este boicote petroleiro “colocou em sérios apuros a economia norte-americana, cada vez mais dependente do petróleo estrangeiro”, segundo os EUA.

No entanto, embora a inimizade com Israel já tenha crescido, o Irã não aderiu ao boicote e se tornou o maior beneficiário da situação, pois “continuou com sua produção de petróleo de maneira normal e, como resultado, as receitas aumentaram”, disse RAND em sua análise.

Além disso, acrescentou a organização sem fins lucrativos, o crescimento do setor petrolífero iraniano também foi utilizado para avançar nos interesses militares do país.

“Em 1977, um esforço militar conjunto entre o Irã e Israel denominado “Project Flower” concentrou-se no desenvolvimento de sistemas avançados de mísseis. Foi um dos seis contratos de petróleo por armas que os países assinaram no final da década de 1970, com um valor estimado de US$ 1,2 bilhão”, diz a RAND.

O caso acima exposto coincide com um relatório de abril de 1986 do New York Times, no qual informam sobre o acordo de mísseis entre Israel e o governo iraniano do Xá Mohammad Reza Pahlavi.

Embora Israel tenha se retirado do projeto “Flower” pouco antes da revolução de 1979, os países discutiram nele a possibilidade de incluir ogivas nucleares nos mísseis, mas isso foi descartado pelo Irã e Israel porque “levantaria um problema com os americanos”, indica o meio americano, cujo relatório inclusive foi retomado pela CIA.

“Há provas de que, entre 1975 e 1977, Israel estava ajudando o Irã a desenvolver um programa de armamentos. Assim de perto estavam em termos de aliança”, acrescentou o especialista Abbas Milani.

A inimizade chegou ao seu ponto culminante com a Revolução iraniana de 1979, com a qual se produziu a queda do Xá Mohammad Reza Pahlavi e se instaurou o regime confessional do aiatolá Ruhollah Musavi Jomeini, que esteve 14 anos no exílio.

Vários grupos sociais que se opunham ao Xá e à sua gestão do país aderiram à revolução.

Uma das maiores críticas girava em torno da Revolução Branca, um programa que o Xá do Irã instaurou no país em 1963 e que buscava transformar a economia e o sistema social tradicional do país.

Os clérigos se opuseram às tentativas de modernização e desdenhavam a participação da minoria judaica do Irã no progresso econômico da nação.

O governo do Xá do Irã e Israel eram aliados em vários outros aspectos, como a oposição ao presidente egípcio Gamal Abdel Nasser e sua ideologia de Pan-Arabismo ou sua luta contra a influência da União Soviética no Oriente Médio, segundo o livro Israel e Irã: A Dangerous Rivalry.

“O Xá via Israel como um contrapeso útil para o mundo árabe e também acreditava que a influência de Israel em Washington beneficiaria o Irã como aspirante a grande potência.

No entanto, o Xá também estava ciente do sentimento anti-israelense em todo o Oriente Médio, e estava relutante em abraçar Israel ou publicamente”, acrescenta o livro da organização RAND.

Embora os grupos revolucionários incluíssem comunistas, socialistas e secularistas e nem todos queriam uma teocracia, Khomeini e seus seguidores conseguiram eliminar facções rivais e estabelecer uma república islâmica e com isso, entre outras coisas, levar membros de minorias religiosas a abandonar o Irã.

A relação entre a República Islâmica e Israel não acabou completamente com a Revolução Iraniana, já que em alguns momentos houve cooperação limitada, como ressalta a RAND.

Como exemplo temos o ataque aéreo de 1981 que Israel fez a um reator nuclear iraquiano na instalação conhecida como Osiraq, segundo um artigo da revista especializada Nonproliferation Review.

Este ataque conseguiu atrasar o programa nuclear do Iraque pelo menos 15 anos, acrescenta a revista, o que beneficiou o Irã em sua guerra de oito anos (1980-1988) com o regime iraquiano de Saddam Hussein.

No entanto, a revolução iraniana foi um ponto de virada e as coisas nunca mais voltaram a ser como eram antes de 1979.

Com informações de Reza Sayah, Tamara Qiblawi, Irene Nasser, Benjamin Brown, Eugenia Yosef, Nadeen Ebrahim, Abbas Al Lawati, Jennifer Hansler, Priscilla Alvarez, Negar Mahmoodi, Adam Pourahmadi, Zeena Saifi, Jeremy Diamond, Peter Bergen, Frederik Pleitgen, Claudia Otto e Shahrzad Elghanayan, da CNN.

Fonte: Externa

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