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Osteoporose é doença da terceira idade, mas que começa na infância; entenda

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Osteoporose é doença da terceira idade, mas que começa na infância; entenda

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Quando o assunto é osteoporose, logo pensamos que se trata de uma doença exclusivamente associada à velhice, que afeta sobretudo mulheres na pós-menopausa. Caracterizada pela diminuição da massa óssea, a doença torna os ossos mais frágeis e suscetíveis a fraturas, sobretudo na coluna, nos braços, no quadril e no fêmur. O que pouca gente sabe é que, na verdade, suas repercussões é que ocorrem com o envelhecimento, já que o caminho até o quadro se estabelecer vai sendo definido muitos e muitos anos antes, desde a infância – daí a importância de cuidarmos da saúde dos ossos desde cedo.

Nos últimos anos, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, estudos têm demonstrado que a osteoporose de adultos pode ter começado na infância ou adolescência, já que mais de 90% da massa óssea é adquirida nas duas primeiras décadas de vida. A formação do esqueleto humano começa ainda na gestação, entre a 5ª e 7ª semanas de vida do embrião. Essa mineralização vai aumentando progressivamente a partir do terceiro trimestre de gravidez e continua após o nascimento. A massa óssea é adquirida de maneira acentuada durante os dois primeiros anos de idade, e aumenta de maneira gradativa, atingindo o pico no início da fase adulta.

Entretanto, ao longo da vida, a perda óssea é maior do que a formação e renovação dos ossos. Nesse sentido, quanto maior o pico de massa óssea alcançado pelo indivíduo e menos acelerada for a perda óssea ao longo dos anos, menor será o risco de fragilidade óssea na idade adulta. “Sempre digo que a criança, ao nascer, precisa começar a fazer uma ‘previdência de ossos’”, brinca o endocrinologista pediátrico Guido de Paula Colares Neto, coordenador da Comissão de Pediatria da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso).

Osteoporose na terceira idade muitas vezes é resultado de hábitos da infância e adolescência, quando há o pico de produção óssea. Foto: Alrandir/Adobe Stock

Fatores que influenciam

Um dos pontos mais básicos para garantir uma boa formação óssea é cuidar da alimentação, garantindo uma ingestão adequada de todos os tipos de nutrientes: proteínas, vitaminas e, principalmente, os minerais que vão compor esse osso.

“A criança precisa consumir uma quantidade boa de cálcio e de fósforo. A principal fonte de cálcio é o leite e seus derivados e, por isso, a gente recomenda uma dieta com aproximadamente 250 mg de cálcio para lactentes e 1.300 mg de cálcio por dia para adolescentes a fim de garantir esse aporte. O fósforo está distribuído de forma mais ampla em vários alimentos”, descreve Colares Neto. Isso significaria ingerir três porções de laticínios por dia, como um copo de leite, uma fatia de queijo e um pote de iogurte.

Manter níveis adequados de vitamina D é outra medida valiosa, pois ela desempenha um papel crucial na regulação da absorção do cálcio pelo organismo. A substância é naturalmente produzida pelo corpo – por meio da ação do sol na pele –, mas também pode ser obtida por meio de uma alimentação equilibrada. Déficits de vitamina D estão relacionados à diminuição da absorção de cálcio, desencadeando uma redução na mineralização óssea.

“As crianças estão cada vez mais dentro de casa, em ambientes fechados, com menor exposição à luz solar e baixa ingestão de alimentos ricos em vitamina D. Os raios solares são o principal ativador da formação dessa vitamina pelo organismo. Por isso, há casos de deficiência da substância. A nossa recomendação é que as crianças brinquem mais em ambientes abertos e sejam expostas à luz do sol durante 10 a 15 minutos por dia”, ensina o endocrinologista.

A prática de atividade física compõe o combo de atitudes bem-vindas aos ossos. Afinal, eles precisam do estímulo da contração muscular para que sejam formados e se renovem – um processo chamado de remodelação óssea. Para que isso aconteça de forma saudável, as crianças devem fazer pelo menos de 30 a 45 minutos de atividade física moderada diariamente – como correr, nadar, pular, andar de bicicleta e experimentar variados esportes. A partir dos 6 anos, recomenda-se pelo menos 60 minutos diários de atividade física de intensidade moderada a intensa. Então, não adianta depender somente das aulas de educação física da escola: a criança precisa se manter ativa.

“A inatividade física pode gerar transtornos na mineralização óssea. Se ficamos com um braço engessado por algumas semanas, por exemplo, há uma perda mineral pela falta de uso. Por isso a atividade física é tão necessária: ela cria um estímulo para o aumento da massa óssea. Sem esse estímulo, assim como ocorre com os músculos, o osso não melhora sua resistência e força”, explica o ortopedista Eiffel Tsuyoshi Dobashi, professor adjunto do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina e coordenador do grupo de trabalho da infância na Sociedade Brasileira de Pediatra (SBP).

O impacto da genética

Não dá para ignorar que a genética desempenha um papel fundamental na qualidade óssea – cerca de 4% a 5% dos nossos genes estão associados à formação do nosso esqueleto. Homens têm ossos mais largos e densos, e pessoas de raça negra também têm ossos mais densos em comparação com as de raças caucasiana e amarela. “Se temos variantes ou mutações nesses genes, temos maior risco de que esse esqueleto não seja formado de forma adequada”, alerta Colares Neto.

Há ainda vários hormônios que atuam na formação dos ossos – especialmente o estrogênio nas mulheres e a testosterona nos homens (os chamados hormônios sexuais), pois eles estimulam a formação do osso. Pessoas com problemas hormonais têm, portanto, maior risco de fragilidade óssea na idade adulta – e é por isso que a mulher na menopausa fica mais suscetível a desenvolver a osteoporose (afinal, há queda significativa na produção do estrogênio).

Como manter a massa óssea após o auge da produção

O adulto deve continuar com os mesmos hábitos das crianças: ter uma ingestão boa de cálcio por meio de leite e derivados; consumir alimentos fortificados com cálcio e vitamina D; manter uma exposição solar adequada; fazer atividade física regularmente pelo menos cinco vezes por semana. “Se esse estilo de vida não for mantido, os ossos tendem a se desgastar ao longo do tempo. Mulheres começam a perceber sinais na pós-menopausa e os homens, entre 50 e 60 anos”, esclarece Colares Neto.

A suplementação de cálcio e de vitamina D pode ser realizada quando o paciente não consegue atingir os níveis necessários apenas por meio da dieta. Mas isso só deve ser feito com indicação e prescrição médica, para que não ocorram excessos – apenas a falta deve ser suplementada.

Existe osteoporose na infância?

A resposta é sim, apesar de ser menos comum e praticamente não ser considerada antes dos 18 anos. Algumas condições aumentam o risco secundário de osteoporose, como distrofias musculares, doenças reumáticas, doenças da medula óssea, fibrose cística, uso de determinados medicamentos (corticoides), entre outros.

Crianças com problemas no colágeno do tipo 1, por exemplo, são mais suscetíveis. Normalmente, elas são diagnosticadas com osteogênese imperfeita, uma condição genética popularmente chamada de “ossos de vidro”, em que há um risco aumentado de fraturas em braços e pernas causadas por quedas simples – o que seria uma repercussão incomum para essa faixa etária.

“Muitas vezes, a fratura na infância é um sinalizador de um problema, porque ela pode ser a consequência de um esqueleto mais frágil, sem a qualidade óssea necessária”, informa Colares Neto. Mas, atenção: estima-se que 25% das crianças vão quebrar algum osso durante a vida, ou seja, vale reforçar que não se trata de um incidente raro. O importante é ficar atento para saber identificar quadros incomuns, e que de fato podem sinalizar problemas, como uma fratura na coluna ou após uma queda da própria altura (cujo impacto não justificaria a quebra do osso).

Diagnóstico

Para confirmar a osteoporose em adultos, o exame de imagem chamado densitometria óssea é o suficiente, mas, na criança, não. Esse exame vai somente sinalizar que a criança tem alguma potencial fragilidade óssea por causa da baixa densidade mineral. Para formalizar um diagnóstico de osteoporose na infância, essa criança precisa ter tido múltiplas fraturas: duas ou mais de ossos longos antes dos 10 anos de idade, três ou mais entre 10 a 19 anos, ou uma fratura vertebral.

“É muito importante ter uma vigilância apropriada e o pediatra tem a função de acompanhar a evolução das crianças e observar esses fatores suspeitos de fragilidade óssea. Se esses problemas não forem reconhecidos e tratados na infância, poderemos ter mais risco de osteoporose na idade adulta”, informa Dobashi.

Com o envelhecimento, naturalmente ocorre uma modificação da densidade óssea por uma questão fisiológica, já que o cálcio dos ossos pode ser removido pelo organismo para atender outras funções do corpo. Daí porque pessoas mais velhas são mais suscetíveis ao problema. Assim, garantir uma ingestão adequada de cálcio e vitamina D desde a infância e fazer atividades físicas regularmente é fundamental para promover a saúde óssea ao longo da vida. “Se uma criança mantiver uma saúde plena em todos os aspectos e se nada acontecer no futuro, isso vai determinar uma condução muito segura, com reserva óssea suficiente”, finaliza Dobashi.

Fonte: Externa

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