Mauro GoldchmitOftalmologista e fundador do Instituto Strabos
No seu consultório no bairro de Pinheiros, em São Paulo, o oftalmologista Mauro Goldchmit vai pinçando pastas de um armário grande. Numa delas estão atestados de um currículo considerável: mestrado e doutorado na Unifesp, especialização em Estrabismo e Oftalmologia Pediátrica no The Smith-Kettlewell Eye Research Institute, em São Francisco, EUA, ex-chefe do setor de Estrabismo do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de São Paulo, da Universidade Santo Amaro e do Hospital Cema, ex-presidente do Centro Brasileiro de Estrabismo e do Conselho Latino-Americano de Estrabismo, membro do Conselho da International Strabismological Association e da World Society of Pediatric Ophthalmology & Strabismus. Outra pasta acumula certificados de participação em bancas examinadoras, congressos no Brasil afora, convidado de honra no exterior, aulas ministradas na Austrália, nos EUA, no Canadá.
“Mas a pasta mais importante é esta daqui, com mensagens dos meus pacientezinhos”, diz ele. Goldchmit se refere às manifestações de gratidão que recebe de crianças e seus familiares pelo atendimento prestado pelo Instituto Strabos, do qual é fundador e presidente. Desde 2013, quando foi criado, o Instituto já realizou mais de 1,3 mil cirurgias de estrabismo gratuitas.
Distúrbio visual caracterizado pela perda do paralelismo ocular, seja congênita ou adquirida, o estrabismo afeta cerca de 2% a 4% da população em geral, a maior parte crianças. O Brasil está dentro dessa porcentagem. O Instituto atende a população de baixa renda por meio de consultas, tratamento e promoção de cirurgias sem custo para os pacientes, além de oferecer cursos para a formação de especialistas e estimular a produção científica numa área complexa que, como ele gosta de afirmar, “depende menos de técnica e mais de neurônios do médico”.
Nesta entrevista, Goldchmit fala da importância que a cirurgia de realinhamento dos olhos traz para a autoestima e, emocionado, cita o bullying sofrido pela própria filha na escola: “Eu tive de tirá-la de lá. As outras crianças riam dos olhinhos dela”. Julie, diagnosticada com transtorno do espectro autista, nasceu com estrabismo. Ela mesma conta como era importunada todos os dias por outros alunos no livro Imperfeitos, que trata de inclusão e diversidade. Lançado pela Maquinaria Editorial em 2022, a obra foi candidata ao prêmio Jabuti daquele ano na categoria Ciências. Julie não necessitou de cirurgia, pois o tratamento, no caso dela, preconizava apenas a oclusão em função de uma diferença de graus entre os olhos. “São muitos os estrabismos”, lembra o oftalmologista. Aos 64 anos, Goldchmit é pai de Julie, hoje com 28 anos, e Melissa, de 32, além de avô de Mia, de 4 anos e 9 meses, todas meninas dos seus olhos.
Por que o senhor escolheu o estrabismo como especialidade?
Meu pai era oftalmologista especialista em estrabismo. À medida que eu avançava na residência em oftalmologia, também fui gostando dessa subespecialidade. Apesar de a pessoa poder ter estrabismo em qualquer idade, muita criança tem essa condição, e eu sempre gostei muito de criança. Juntei o útil ao agradável.
De onde veio a ideia de criar um instituto que atendesse à população de baixa renda?
Levei cinco anos, de 2008 a 2013, período que chamo de “minha gestação”, para entender que algumas coisas não iam bem no cenário de atendimento aos pacientes e como eu poderia resolver isso. Eram três coisas, na verdade.
Uma delas é que, no serviço público, ainda que os médicos planejem as cirurgias de estrabismo com certo número de pacientes, muitas vezes existe um gargalo, que é o centro cirúrgico. Ele não dá vazão para toda a demanda. Às vezes, o carrinho de anestesia quebra ou uma cirurgia se estende e você tem que cancelar a seguinte, enfim, coisas de hospital. Então, se a gente produzisse 40 planejamentos mensais e pudesse operar apenas 20, os 20 restantes iam para uma fila que mês a mês só aumentava. Tínhamos uma demanda grande e uma fila de espera tão grande quanto.
Havia escassez de médicos também?
Sim. A segunda coisa é que, justamente, o número de residentes que se formam em oftalmologia interessados em fazer estrabismo estava diminuindo por causa da complexidade dessa cirurgia.
Até hoje acho que a cirurgia de estrabismo é a mais complexa de toda a oftalmologia, quando se pensa no exame do paciente, nas medidas de planejamento, na execução, etc. Ela não é tecnológica, como uma cirurgia de catarata ou de retina, mas exige um raciocínio matemático, um pensamento diferente do pensamento das outras especialidades.
Às vezes, estamos operando e encontramos uma situação que nos leva a mudar completamente o planejamento. E, às vezes, o planejamento sofre com a falta de informação. Chega, por exemplo, um paciente de 40 anos que diz ter sido operado três vezes na infância, mas não tem qualquer registro ou exame relativo a esse passado. Tenho de abrir e decidir como proceder, a partir do que estou vendo naquela hora. O estrabismo não precisa de máquinas, precisa de neurônios do médico.
Para Mauro Goldchmit, a cirurgia de estrabismo é a mais complexa de toda a oftalmologia Foto: Rogério Rodrigues Panhan
Qual seria a terceira coisa que estaria faltando nesse cenário?
A terceira coisa é que sempre achei que o Brasil estava carente de pesquisas na área de estrabismo. Então, com tudo isso em mente, e com a ajuda de dois especialistas muito importantes em estrabismo que foram meus professores no Smith-Kettlewell Eye Research Institute, os doutores Arthur Jacob e Alan Scott, eu fundei o Instituto Strabos em 2013.
O Instituto é uma organização sem fins lucrativos baseado em três pilares: ação social, ensino e pesquisa. Eu convidei alguns colegas com quem eu mais convivia na época, e todos eles acharam a ideia sensacional.
A cirurgia de estrabismo é a mais complexa de toda a oftalmologia
Mauro Goldchmit, fundador e presidente do Instituto Strabos
Onde vocês atendiam nessa época?
Durante cinco ou seis anos, meu pai, que é dono desta clínica e já está aposentado, cedeu uma sala pequenininha aqui, que foi onde começamos. Tínhamos uma secretária que vinha três vezes por semana, e eu correndo atrás de doações para poder viabilizar as coisas. Começamos muito humildemente. Os médicos faziam os atendimentos de pessoas carentes nas suas próprias clínicas e a gente conseguia o hospital, mas operava apenas dez, 15 pacientes ao ano. Era pouco. À medida que fomos conseguindo verba, fomos aumentando esse número.
Quantos médicos atendem no Instituto?
Contando os cirurgiões principais e os auxiliares, temos 23 médicos que colaboram com o Instituto em São Paulo e mais 13 nos núcleos do Instituto Strabos em outras cidades: três no Rio de Janeiro, cinco em Brasília, três em Feira de Santana (BA) e mais dois em Ribeirão Preto. Você pode estar se perguntando por que esses lugares. A primeira coisa que preciso é que existam médicos especialistas em estrabismo que queiram fazer isso e, além disso, tenho meus alunos espalhados por aí, ex-residentes que fizeram a especialização. Afora eles, temos outros médicos que colaboram para o pilar de ensino. Alguns cirurgiões são jovens, estão numa fase em que precisam sobreviver, têm filhos pequenos, então esses ganham uma quantia simbólica. Os demais são todos voluntários.
Tem aumentado a procura por especialização em estrabismo?
Tem aumentado um pouco, acho que porque estão juntando duas especialidades, a oftalmologia pediátrica e o estrabismo. A residência, portanto, não seria só focada em estrabismo. Dá para trabalhar com outras áreas infantis também.
Como é feita a captação de recursos para o Instituto?
Existem várias formas de se fazer isso. Uma é através dos editais governamentais. Estamos no terceiro projeto aprovado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Condeca/SP. No mais recente, aprovado há dois meses, nos prontificamos a operar de 120 a 150 crianças e a atender 600 pacientes em um ano. A gente faz uma planilha detalhada de todos os custos que envolvem o projeto e, aí, o Condeca nos dá um CAC, que é o Certificado de Autorização de Captação. A bola volta para o nosso lado e precisamos correr atrás dessa captação. Para o primeiro ano, a proposta era conseguir R$ 1,4 milhão para esse projeto que mencionei, e nós conseguimos mais de R$ 2 milhões.
Onde vocês operam em São Paulo?
Operamos em três hospitais: no Sabará, no H.Olhos e na Prevent Senior. A Prevent tem o programa de residência médica em oftalmologia. Os residentes deles passam no nosso ambulatório para aprender estrabismo e, em contrapartida, a operadora nos oferece dois horários cirúrgicos para fazermos as cirurgias gratuitamente numa das unidades deles. No H.Olhos é um mutirão por mês com 10 pacientes. No Sabará, três pacientes por semana.
O senhor ainda opera bastante?
Durante muitos anos, eu estava em todas as cirurgias. Até a hora em que falei: “Isso está crescendo, não vou dar conta, confio na turma e as coisas estão saindo muito bem”. Hoje opero os casos complexos, como as reoperações. Um em cada cinco pacientes necessita de mais de uma cirurgia para alinhar os olhos.
Há também certas técnicas cirúrgicas que não são feitas todos os dias, doenças um pouco mais raras. Vou dar um exemplo. Da última vez que levantei os pacientes que foram examinados, um deles tinha uma movimentação dos olhos que não batia com nada. Então pedi uma ressonância da cabeça e da órbita. Foi quando percebi que essa pessoa não tinha dois músculos no olho, nasceu com malformação. É complexo, não é uma brincadeira e não adianta passar a cirurgia para quem está começando. Mas esse médico iniciante é chamado para entrar no centro cirúrgico, ver como funciona. É o ensino atuando o tempo todo.
Quantas cirurgias são feitas por ano?
Vou começar pelas consultas. Nos últimos anos, tem sido uma média de 2.800 delas. Durante a consulta, identificamos quem precisa de óculos, e aí damos armações e lentes. Há certos estrabismos que são corrigidos só com os óculos, mas são poucos. Para aqueles pacientes que necessitam de tampãozinho, a gente também dá. O tampão melhora um olho que não esteja enxergando tão bem. Você oclui o olho bom para melhorar o ruim.
Mas a grande maioria dos casos é cirúrgica. Nos últimos anos, a média tem sido entre 290 e 340 cirurgias por ano. Temos previsão de 340 cirurgias neste ano. E, desde que começamos a operar, já foram mais de 1,3 mil cirurgias.
O que mudou na sua vida depois da criação do Instituto?
A principal mudança é saber que estamos conseguindo mudar vidas, mudar histórias, ainda que muitas pessoas atendidas não saibam nem precisem saber quem somos nós. Fazemos porque acreditamos nisso. Uns mais, outros menos, somos privilegiados: temos comida, vestimenta, trabalho, plano de saúde. Mas há quem não tenha nem acesso a consultas, não conseguem chegar lá.
Além disso, minha entrada no terceiro setor me fez vislumbrar uma questão macro. Você viu quem ganhou o Nobel de Economia do ano passado? Foram três pesquisadores (Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson) por seus estudos sobre a diferença na prosperidade das nações. Eles demonstraram a importância das instituições sociais para a prosperidade de um país e terminaram dizendo que a gente deve investir tempo e energia para fortalecer as instituições que asseguram estabilidade e justiça, condições indispensáveis para a sustentabilidade sustentável de cada um e de todos os cidadãos. Encaixou.
Estamos conseguindo mudar vidas, mudar histórias
Mauro Goldchmit, fundador e presidente do Instituto Strabos
O que significa já ter mudado a vida de tanta gente assim?
É um sentimento muito gratificante saber que aquelas pessoas menos favorecidas podem ter alcançado alguns desejos, alguns objetivos que muitas vezes tinham dificuldade ou impossibilidade de conseguir. O que eu acho que é importante deixar muito claro é que, se um dia eu tive uma ideia, o sonho de criar esse instituto, hoje ele funciona graças a várias pessoas. Temos uma equipe de médicos, de doadores, membros do conselho consultivo e fiscal, membros da diretoria executiva, que trabalham de forma voluntária. Ou seja, é muita gente envolvida para que isso funcione.
Além disso, temos os professores que dão aulas nos cursos. Enfim, o Instituto como um todo traz um sentimento de muita gratificação, de falar que valeu a pena a gente ter investido nosso tempo, nosso conhecimento e nossos relacionamentos para que a gente pudesse ter esse trabalho sendo feito e poder atender aquelas pessoas que estão em vulnerabilidade social. Obviamente esses pacientes não sabem quem fundou ou quem os atende, e nem é essa a intenção. A gente faz, e que tenham seu estrabismo resolvido. Mas, quando a gente fala o que a gente muda na vida dessas pessoas, na verdade é o que a oportunidade de atendê-las muda na gente. Acabamos nos tornando pessoas melhores para esse mundo. E isso não tem preço. Eu acho que você poder fazer o bem, o bem volta para você.
A exemplo do seu trabalho, qual a importância de outros médicos ajudarem populações de baixa renda?
O que a gente faz passa a ser um exemplo para outras gerações. É mostrar para as pessoas que existem infelizmente grandes diferenças sociais no nosso país e que a gente pode dar um pouquinho de nós para ajudar o próximo. Procuramos fazer com que as pessoas que estão no Instituto Strabos tenham o sentimento de pertencimento, de que sintam que são importantes nessa engrenagem. Que esses médicos possam dar sequência a isso que foi iniciado e que esse círculo vicioso do bem possa continuar existindo.
Como os pacientes chegam ao Instituto?
Não é raro alguém que conhece o trabalho do Instituto ver uma pessoa estrábica em algum lugar e entrar em contato com a gente. Aí peço para passar o telefone da pessoa e falamos com ela. Essa é uma das fontes, mas não a mais comum. Hoje temos redes sociais, Instagram, TikTok, Facebook, que é a forma pela qual os pacientes mais chegam para nós.
Para ter acesso às consultas gratuitas, disponibilizamos online um formulário que a pessoa precisa preencher e enviar junto uma documentação que comprove a renda familiar mensal de até 3 salários mínimos. Trabalhadores informais podem mandar uma declaração de próprio punho listando renda média mensal e o tipo de atividade que desempenha. São uma média de cem formulários todos os meses pedindo consultas.
Qual a média de idade dos pacientes do Instituto?
Há de tudo. Muita criança, mas também muito adulto jovem, todos em vulnerabilidade social.
Bebês podem ser operados?
A visão do ser humano se desenvolve até o sexto, sétimo ano de vida. Por volta dessa idade, aquilo que o cérebro aprendeu a enxergar é o que vamos levar para o resto da vida. Se, algum dia, surgir alguma graduação de óculos, a visão vai atingir o potencial que seu cérebro aprendeu até essa idade.
Quando existem estrabismos de origem muito precoce, principalmente os congênitos, é importante que essas crianças sejam examinadas porque podemos precisar da oclusão para que os olhos desenvolvam igualmente sua visão. Isso deve ser feito antes de uma eventual cirurgia de estrabismo porque, dentro de uma hierarquia de importância, a visão vem na frente da posição dos olhos. É preferível ter uma pessoa estrábica com boa visão dos dois olhos do que uma pessoa com baixa visão em olhos alinhados.
Até o sexto mês de vida, desvios esporádicos podem ainda ser considerados fisiológicos, mas desvios constantes antes dos 6 meses de idade já configura um estrabismo que deve ser examinado. Há alguns tipos de estrabismo que você tem que operar cedo – já operei muitas crianças com 1 ano de idade – e outros que você tem de esperar quatro anos e meio ou cinco anos para indicar cirurgia. É muito técnico.
São muitos, então, os tipos de estrabismo?
Sim. Tem o multifatorial, que você não sabe por que a pessoa está estrábica. Tem estrabismo relacionado a diabetes, hipertensão, traumatismo, doenças da tireoide, miastenia grave (doença autoimune crônica que afeta a comunicação entre os nervos e os músculos). Várias doenças sistêmicas podem cruzar com o estrabismo.
A cirurgia de estrabismo pode recuperar a visão de um olho comprometido?
Não, a pessoa continuará não enxergando desse olho, mas o alinhamento dos olhos muda a autoestima dela. Nesse caso, usamos o termo “tratamento cosmético”, e não “estético”. Cosmético vem de “cosmos”, de organização. Estamos alinhando os olhos para deixar as coisas como devem ser.
Quais traumas podem levar ao estrabismo?
Os traumatismos cranianos podem afetar os nervos que enervam os músculos oculares, assim como um traumatismo que ocorra direto nesses músculos. Se uma pessoa cair, bater a cabeça e ficar estrábica, ela vai ver duplo. Para não ter essa duplicidade de imagem, pode adotar um torcicolo, inclinando, girando, levantando ou abaixando a cabeça. É possível melhorar a condição de quem enxerga duplamente alinhando os olhos. São cirurgias que a gente considera de finalidade funcional e que devem ser feitas o quanto antes porque a existência do desvio por si só já afeta a autoestima do paciente.
O alinhamento dos olhos muda a autoestima
Mauro Goldchmit, fundador e presidente do Instituto Strabos
Existe tratamento farmacológico para o estrabismo? Se sim, quando é recomendado?
O uso de toxina botulínica ou de bupivacaína são opções de tratamento farmacológico do estrabismo em casos seletos, como paralisias recentes do VI nervo, aquele que enerva o músculo reto lateral, responsável por levar o olho em direção à orelha. Quando existe paralisia desse músculo, o olho entorta para dentro. A ideia é, na fase inicial da paralisia, injetar a toxina botulínica no músculo oposto, o reto medial, do lado de dentro, para paralisar esse músculo enquanto aguardamos se haverá regeneração do nervo que foi paralisado. Pressão alta e diabetes podem causar essa paralisia, mas muitas vezes elas ficam indeterminadas. A gente pesquisa e não encontra a causa.
Eu venho de uma escola em que os estrabismos convergentes, aqueles com os olhos voltados para dentro e que as crianças nascem com ele, são tratados com cirurgias, mas tem escolas que preconizam o uso de toxina botulínica nesse caso. A questão é que a toxina tem que ser repetida e, para isso, é necessário levar a criança para o centro cirúrgico mais de uma vez, enquanto a cirurgia é mais resolutiva.
Mas, nos quadros em que os pacientes têm paralisia cerebral e problemas com anestesia, por exemplo, a toxina pode ser uma opção no arsenal terapêutico. Enfim, tem que ser bem escolhido o caso para utilizá-la. O doutor Alan Scott, um dos meus chefes nos EUA, foi quem descobriu o botox – e o primeiro uso de botox no mundo foi para estrabismo. Eu o vi injetar a toxina botulínica em muitos casos com excelentes resultados. Talvez o botox tenha sido o grande diferencial no tratamento do estrabismo nas últimas décadas.
Como o Strabos cuida dos outros pilares, o ensino e a pesquisa?
Damos duas bolsas de pesquisa por ano para jovens pesquisadores e seus orientadores. Na parte de ensino, a gente tem dois cursos anuais, um em português e outro em espanhol, que vão de março a novembro, com aulas duas vezes por mês. É um curso dedicado a colegas que fazem estrabismo na América Latina, Espanha e Portugal. Também temos o GEIS, Grupo de Estudos Instituto Strabos, criado para discutirmos trimestralmente publicações dos autores mais influentes da estrabologia.
Nos últimos três anos, estudamos 195 artigos científicos e um livro sobre estrabismo, provando que estudar em grupo é muito mais eficiente e prazeroso. Ainda temos a CAIS, a Comunidade Alumni, dos ex-alunos do instituto, em que a gente traz um caso bem discutido, bem apresentado, para que todo mundo possa debater a respeito.
Firmamos ainda uma parceria com a Fundação Altino Ventura, no Recife, com quem fazemos uma reunião científica a cada três, quatro meses. Eles atendem muitas crianças com microcefalia associada à síndrome congênita do zika, nas quais o estrabismo se manifestou sobremaneira. E há ainda o SIA, que é o Simpósio Internacional Anual. O nosso próximo evento, que ocorrerá em São Paulo nos dias 10 e 11 de outubro, trará oito conferencistas de fora do Brasil.