Exposição ao dólar e confiança nos negócios
Por conta da crescente volatilidade, os investidores globais vêm repensando sua exposição aos ativos dos Estados Unidos. Tal mudança é uma resposta à crescente preocupação com a política fiscal e comercial dos EUA e com a estabilidade das instituições americanas. “[Os investidores] iniciaram o ano pensando: ‘na dúvida, é melhor alocar tudo no dólar’”, diz Kaplan. “Agora, eles ponderam que talvez precisem de mais equilíbrio, ou mesmo que seja mais prudente reduzir a exposição à moeda norte-americana.”
E esse ajuste não diz respeito apenas à moeda: ele sinaliza uma erosão da confiança na governança econômica dos EUA. Políticas comerciais pontuais estão substituindo estratégias de longo prazo e deixando as empresas sem um referencial claro. A incerteza política impacta especialmente as pequenas e médias empresas, que não possuem os recursos dos grandes players do mercado. Preocupadas com a concorrência, muitas estão adiando investimentos ou reduzindo operações.
Uma das origens da ansiedade generalizada é o caminho nebuloso da política comercial. “Aplicamos tarifas a todos”, diz Kaplan. “Agora, estamos negociando acordos isolados, mas isso leva tempo. As empresas não sabem qual é o objetivo final ou não conhecem o cronograma, por isso estão travadas.”
Ainda segundo o especialista, o declínio na confiança de empresas e investidores já ultrapassou as preocupações econômicas e agora é uma questão institucional: “Países e investidores de todo o mundo estão se perguntando: qual é o arcabouço institucional dos EUA? Como será em três ou quatro anos?”, ele questiona.
O desafio do Fed e as novas expectativas sobre as lideranças
Em 2025, os bancos centrais têm contado com uma margem de manobra estreita. A inflação persiste no setor de serviços, surgem pressões de custo impulsionadas pelas tarifas, e as tensões políticas complicam a política monetária. O desafio do Federal Reserve (Fed) é não apenas equilibrar a inflação e o crescimento, mas também gerenciar a incerteza, sem agravá-la. Os mercados agora buscam o Fed não em busca de precisão, mas de estabilidade. Como diz Kaplan: “O Fed não fará prognósticos, será um gestor de riscos.”
E os riscos são duplos: reagir de forma exagerada a dados ruidosos, ou perder o controle sobre as expectativas de inflação.O presidente do Fed, Jerome Powell, caminha sobre uma corda bamba. “Ele precisa estabilizar as expectativas de inflação”, afirma Kaplan. “Não se pode perder o controle sobre ela. O último sinal que o Fed quer transmitir é de que está aliviando no controle da inflação.”
A postura cautelosa também encontra eco nos altos escalões da gerência corporativa. Decisões estratégicas estão sendo adiadas diante das mudanças constantes e da falta de clareza sobre cadeias de suprimentos, força de trabalho e níveis de consumo. O novo modelo pós-Covid, baseado em reshoring, digitalização e normalização da demanda, está sendo redefinido em tempo real. “As empresas estão lutando para entender como ajustar suas cadeias de suprimentos, operações e força de trabalho”, afirma Kaplan.
Alguns modelos de liderança emergem como resposta. Os executivos não estão sendo mais avaliados por sua precisão preditiva, mas pela adaptabilidade e capacidade de manter a calma sob pressão. Ações governamentais, como tarifas, controle dos déficits e designações regulatórias, vêm sendo monitoradas com o mesmo rigor aplicado a lucros e taxas.
As instituições financeiras também estão sendo redefinidas. Agora, o valor vem da capacidade de a empresa oferecer suporte integrado, e não apenas conhecimento especializado. “Os clientes não querem contratar uma pessoa”, diz Kaplan. “Eles querem uma empresa cuja equipe traga consigo toda a força da instituição.”
Stefan Simon, ex-CEO do Deutsche Bank nas Américas, tem uma perspectiva similar. “Os clientes precisam estar seguros de seu comprometimento a longo prazo”, ele diz. “Saber que você entende os desafios enfrentados e consegue entregar resultados consistentes.”
A Europa reajusta estratégias
Enquanto esses desafios dominam o cenário norte-americano, as instituições europeias também estão mudando. A crescente volatilidade e a demanda dos clientes por diversificação estão levando a uma reavaliação estratégica.
Simon observa que os clientes buscam, cada vez mais, uma combinação de parceiros financeiros tanto dos EUA quanto da Europa. “Trabalhamos com os grandes bancos dos EUA, mas queremos um ou dois bancos europeus no grupo”, eles avaliam. Segundo Simon, essa tendência cresceu no segundo trimestre de 2025. Como resposta, os formuladores de políticas da Europa estão investindo na independência estratégica em áreas como infraestrutura, defesa e competitividade industrial.
“Ainda estamos muito atrás dos EUA e do Reino Unido”, diz Simon. “Mas parece haver um entendimento crescente de que precisamos nos atualizar e de que a cultura do investimento em ações é fundamental para financiar o crescimento e a inovação.” Ele acrescenta ainda que o alerta político veio nos últimos três meses: “Precisamos impulsionar a competitividade, investir em infraestrutura e defesa e ser mais autossuficientes.”
Porém, ainda que as instituições europeias estejam ampliando seu papel para atender às expectativas crescentes dos clientes, elas ainda enfrentam entraves devidos a complexidades estruturais e regulatórias. “Na Europa, tudo é excessivamente elaborado”, diz Simon. “Os reguladores nos querem mais bem capitalizados, mais robustos e mais diversificados. Tudo é bem intencionado, mas também exagerado. E isso prejudica a nossa competitividade.” E continua: “Às vezes, parece que estamos competindo com uma mão amarrada nas costas. O ambiente regulatório é muito fragmentado e complexo.”
Liderança sem visibilidade
Da contenção fiscal à desvinculação geopolítica, as forças estruturais que estão remodelando as finanças globais desafiam os modelos tradicionais de liderança. A cobrança sobre as instituições é pela entrega de resultados sem previsibilidade e pelo oferecimento de serviços em meio à incerteza.
Do outro lado do Atlântico, ganha força o consenso de que o papel das lideranças não é mais prever o futuro, mas garantir que as equipes e sistemas continuem funcionando, mesmo em momentos de visibilidade limitada. A incerteza, agora, não é mais exceção – é a regra.
Nesse sentido, as empresas de sucesso serão as que adotarem estratégias como flexibilidade, resiliência e comunicação ágil, desenvolvendo culturas internas que apoiem a tomada de decisões em meio à ambiguidade e inspirem a confiança dos clientes, mesmo em mercados voláteis.
Como observa Kaplan, “os empresários se adaptam; os investidores, também”. Em 2025, terão sucesso os que conseguirem agir sob pressão, tomar decisões fundamentadas e liderar com confiança em meio à incerteza.
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Os insights deste artigo são baseados em painéis e conversas do Fórum Bloomberg Sell-Side Leaders, realizado em Nova York em abril de 2025.