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Jovens adultos não são mais tão felizes quanto antes, mostra estudo global; o que está acontecendo?

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Jovens adultos não são mais tão felizes quanto antes, mostra estudo global; o que está acontecendo?

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Por muito tempo, pesquisadores falaram sobre uma “curva em U” da felicidade: pessoas mais jovens tendem a relatar altos níveis de bem-estar, que caem na meia-idade e voltam a subir a partir dos 50 anos. Mas dados recentes sugerem que esse padrão está mudando – e para pior.

Segundo o Global Flourishing Study, um dos maiores levantamentos sobre o tema já realizados, com cerca de 200 mil participantes em 22 países, a curva tradicional da felicidade está se achatando. Os mais jovens já se mostram infelizes e seguem assim por décadas.

Jovens estão mais infelizes, mostra levantamento global Foto: O/Adobe Stock/Gerado com IA

A pesquisa, conduzida por instituições como a Universidade Harvard e a Gallup, mede o que os pesquisadores chamam de “florescimento” – um conceito que vai além da felicidade momentânea e abrange áreas como propósito de vida, saúde mental, sentido, conexões sociais e segurança econômica.

De forma preocupante, os dados mostram que os jovens entre 18 e 24 anos apresentam os menores níveis de bem-estar em praticamente todos os indicadores. Enquanto isso, os mais velhos – especialmente os acima de 60 anos – estão se tornando os mais satisfeitos com a vida. “Esse contraste é uma confirmação do que temos percebido: estamos vivendo uma crise sem precedentes de saúde mental entre os mais jovens”, resume Henrique Bueno, mestre em Psicologia Positiva pela University of East London e especialista em Felicidade.

Motivos

Os motivos para essa infelicidade precoce são complexos e multifatoriais, envolvendo desde mudanças culturais até transformações tecnológicas profundas. Para Bueno, um dos fatores centrais é o ambiente de alta comparação social promovido pelas redes sociais. “Os jovens são mais cobrados, e se cobram mais, a performar segundo padrões pré-estabelecidos, o que se torna ainda mais tóxico nesse cenário digital, criando uma percepção de desconexão e solidão”, afirma.

Essa geração também enfrenta um cenário econômico instável, com insegurança no emprego, aumento no custo de vida, dívidas estudantis e pressão por produtividade. Tudo isso em um contexto de crise climática global, que alimenta sentimentos como ansiedade e desesperança. “Fenômenos como a ecoansiedade se somam a uma pressão existencial. O jovem de hoje está tentando definir quem é, se firmar profissionalmente e ainda lidar com um futuro incerto”, diz o psicólogo Alexandre Coimbra Amaral.

O paradoxo da juventude

Todas essas transformações vividas atualmente ocorrem em paralelo a um momento bastante peculiar na vida de um indivíduo. Afinal, ao longo do tempo, a juventude tem sido compreendida como um momento de intensa liberdade e descobertas. “Ela é frequentemente idealizada como uma época de energia e possibilidades”, comenta Bueno. “Mas também pode ser emocionalmente turbulenta”, acrescenta.

“Na juventude, a felicidade costuma ser intensa, mas instável – impulsionada pela excitação, ambição e conquistas externas. Os jovens adultos tendem a se concentrar no futuro, buscando sucesso e aprovação, mas frequentemente vivenciam volatilidade emocional, ansiedade e comparação. A incerteza sobre quem são e para onde estão indo pode fragilizar o bem-estar”, diz.

O novo envelhecer

Se a juventude está mais difícil, envelhecer tem se tornado, para muitos, uma experiência de potência e reinvenção.

“Essa geração que está envelhecendo agora, no Brasil, está ensinando a sociedade a vê-la de forma diferente”, afirma Amaral. Segundo ele, a velhice não é apenas um lugar de passividade, ócio e tempo livre para a família – embora isso possa fazer parte do desejo das pessoas. “A biografia do envelhecimento não é mais engessada com aquela imagem do idoso aposentado que veste um pijama, senta na cadeira de balanço e vai seguir uma espécie de inércia em relação às escolhas que ele fez até aquela fase”, ressalta.

“Essas pessoas estão se dando o direito de ter inícios num período da vida em que antigamente a gente percebia somente como uma fase de términos. Hoje, muitas estão começando novas carreiras, se separando após 30 anos de casamento, fazendo cursos, experimentando relações mais livres e resgatando desejos antigos”, nota.

Essa nova forma de viver a maturidade também contribui para um senso maior de autonomia e liberdade existencial. “Sempre que tenho a possibilidade de me colocar na vida como autor da minha própria trajetória, eu me entusiasmo”, diz Amaral. E essa empolgação é um fator essencial para a percepção de felicidade.

Além disso, pessoas mais velhas tendem a ter maior aceitação da vida como ela é, fazer menos comparações sociais e investir em vínculos afetivos. “Após os 60, há um deslocamento do foco de status e ganho material para gratidão e conexões significativas. São objetivos mais intrínsecos e, portanto, mais satisfatórios”, complementa Bueno.

A situação precisa mudar. Mas como?

O achatamento da curva da felicidade acende um alerta importante: se os jovens estão infelizes hoje e tendem a permanecer assim por décadas, o impacto para a sociedade pode ser profundo. A geração que deveria liderar transformações sociais e econômicas corre o risco de estar exausta, desmotivada ou emocionalmente fragilizada.

Reverter esse cenário exige um esforço coletivo e ações coordenadas em várias frentes. Isso inclui incentivar uma relação mais equilibrada com o ambiente digital, fortalecer a saúde mental por meio de programas de apoio e conscientização e construir um futuro mais promissor com políticas públicas que ofereçam segurança econômica e ambiental.

É um desafio que demanda diálogo e cooperação entre famílias, escolas, governos e empresas, para que as novas gerações possam se reconectar com uma vida mais significativa.

No plano individual, o caminho também passa por revisar expectativas e adotar práticas que favoreçam o bem-estar de forma duradoura: nutrir vínculos genuínos, reduzir a exposição às redes sociais, valorizar o momento presente e encontrar pequenas fontes de alegria no cotidiano.

Fonte: Externa

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