Pergunta: Um urologista recentemente me disse que eu não deveria ir ao banheiro “por precaução”. Isso é verdade?
Resposta: Quando somos crianças, muitos de nós somos incentivados a fazer xixi antes de sair de casa ou sempre que um banheiro estiver por perto. Isso tem um bom motivo: usar o banheiro “por precaução” pode ajudar a evitar acidentes em crianças propensas a segurar a urina por muito tempo.
Urologistas chamam essa prática de “micção por conveniência” ou “micção proativa”, e pessoas de todas as idades fazem isso — muitas vezes antes de sair de casa ou de dormir.
Ir ao banheiro ocasionalmente “por precaução” não faz muito mal, segundo Ariana Smith, professora de urologia na Faculdade de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia. Mas fazer isso várias vezes ao dia pode aumentar a chance de problemas na bexiga, ao interferir no circuito natural de comunicação entre a bexiga e o cérebro.
Se for frequente, a chamada micção proativa pode causar prejuízos à saúde Foto: Pixel-Shot/Adobe Stock
Como fazer xixi “por precaução” afeta a saúde da bexiga?
Para entender por que a micção proativa pode ser prejudicial, é útil saber como funciona a bexiga. À medida que os rins filtram o sangue para remover resíduos, eles produzem urina, que é armazenada na bexiga. Mulheres geralmente conseguem reter até 500 mililitros de urina — cerca de dois copos — enquanto homens armazenam até 700 mililitros — quase três copos.
Normalmente sentimos vontade de ir ao banheiro bem antes de atingir esse limite, quando a bexiga contém entre 150 e 250 mililitros de líquido. À medida que a bexiga se enche, ela envia sinais nervosos ao cérebro avisando que é hora de ir ao banheiro.
Especialistas explicam que, ao urinar “por precaução”, a bexiga começa a alertar o cérebro cedo demais, antes de atingir o volume padrão. Essa interferência pode reduzir “a quantidade que sua bexiga consegue armazenar ao longo do tempo”, explica Siobhan Sutcliffe, epidemiologista e professora de cirurgia na Universidade de Washington.
Como resultado, você pode sentir desconforto quando estiver em uma situação em que não pode usar o banheiro imediatamente, diz Ariana.
Urinar antes de sentir necessidade também aumenta a probabilidade de forçar o esforço. Esse esforço excessivo coloca pressão nos músculos do assoalho pélvico — um grupo muscular que sustenta a bexiga e outros órgãos — e pode enfraquecê-los, afirma Kathryn Burgio, psicóloga comportamental e professora emérita de gerontologia, geriatria e cuidados paliativos na Faculdade de Medicina da Universidade do Alabama em Birmingham.
Por essas razões, urinar “por precaução” pode levar ao desenvolvimento de bexiga hiperativa, uma condição caracterizada por vontade frequente e intensa de urinar, segundo Siobhan.
É possível quebrar esse hábito?
A resposta curta é sim. Pesquisas mostram que o cérebro tem mais controle do que imaginamos — ou, como gosta de dizer aos pacientes Alayne Markland, chefe de geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Utah: “Mente acima da bexiga”.
Se quiser reduzir as idas preventivas ao banheiro, tente respiração profunda, distrações ou afirmações como “eu estou no controle”, sugere Kathryn. Alguns estudos pequenos indicam que técnicas de atenção plena (mindfulness) podem ajudar a reduzir as vontades súbitas e intensas de urinar. Mais pesquisas são necessárias, mas especialistas acreditam que métodos como esses podem ajudar a reeducar a bexiga para enviar sinais apenas quando houver mais líquido acumulado.
Se você já estiver enfrentando condições como bexiga hiperativa ou incontinência urinária, há outras medidas que pode experimentar:
- Trabalhe com um terapeuta do assoalho pélvico. Um número crescente de estudos sugere que a fisioterapia para os músculos do assoalho pélvico pode ajudar as pessoas a ter mais controle sobre quando urinam, diz Siobhan. Com o acompanhamento de um fisioterapeuta, os pacientes aprendem a ativar e fortalecer esses músculos para controlar a bexiga. “Ensinamos as pessoas a esperar, respirar fundo e contrair repetidamente os músculos do assoalho pélvico”, explica Kathryn. Isso “ajuda a acalmar a bexiga, fazendo com que a vontade passe”.
- Monitore o que você bebe. Especialistas enfatizam que mudanças no estilo de vida, como o controle da ingestão de líquidos, também podem ajudar. Cafeína, álcool, bebidas muito ácidas e até alguns ingredientes artificiais — como adoçantes — podem irritar o revestimento da bexiga e causar mais urgência. Reduzir o consumo de cafeína, destaca Ariana, “é algo que observamos como universalmente útil”, pois pode diminuir a vontade urgente e os episódios de perda urinária.
- Verifique se há outras condições de saúde. Converse com um médico sobre sua saúde geral, já que doenças como diabetes ou apneia do sono podem causar mais urgência urinária. Outras intervenções, como medicamentos, também podem ser consideradas em casos assim. O objetivo é romper o “ciclo vicioso entre o cérebro e a bexiga”, afirma Ariana, que está otimista de que, na maioria dos casos, os efeitos de fazer xixi “por precaução” podem ser revertidos. “Bexigas saudáveis são resilientes”, diz ela.
Este texto foi originalmente publicado no The New York Times. Ele foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.