O apresentador Faustão foi submetido a um transplante de fígado e a um retransplante de rim na última semana após novas complicações de saúde, conforme informou o Einstein Hospital Israelita, onde ele está internado desde maio.
Mas em quais casos um retransplante é necessário? E quais os cuidados e riscos desse tipo de procedimento?
Um retransplante é feito quando há necessidade de substituir um órgão previamente transplantado que parou de funcionar de forma irreversível. No caso do rim, isso significa que o primeiro órgão doado deixou de filtrar adequadamente o sangue.
De acordo com Luís Edmundo da Fonseca, hepatologista do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, entre as causas que podem levar à perda de função do rim transplantado estão rejeição do primeiro órgão recebido pelo paciente, efeito tóxico de medicamentos imunossupressores, e o retorno da doença de base que levou à necessidade do primeiro transplante.
Desde 2023, o apresentador Faustão já passou por três transplantes e um retransplante Foto: Débora Lima/Globo
“Isso pode acontecer precocemente, logo após o primeiro transplante, ou tardiamente, geralmente porque a doença original recidivou. O rim também é mais sensivel do que o fígado, por exemplo, às medicações imunossupressoras que o paciente têm que tomar para evitar a rejeição. Essas medicações podem comprometer a função renal”, explica o especialista.
Faustão passou por um transplante de coração em agosto de 2023 e recebeu um novo rim meses depois, em fevereiro de 2024. Apesar de as duas cirurgias terem sido bem sucedidas, o organismo do apresentador passou a rejeitar o novo rim pouco tempo depois do transplante. Com isso, Faustão começou a fazer sessões de hemodiálise semanalmente.
Fonseca explica que condições agudas como a sepse (uma infecção generalizada e grave) também podem comprometer temporariamente ou de forma definitiva a função renal, mesmo em pessoas que nunca passaram por um transplante. De acordo com o Einstein, Faustão foi internado em 21 de maio devido a uma infecção bacteriana aguda com sepse.
“O rim é um dos órgãos mais afetados na ocorrência de uma sepse. Ele pode entrar numa insuficiência renal temporária ou irreversível”, explica o médico.
Cuidados e riscos de um retransplante
Segundo Arilson Carvalho, coordenador da Departamento de Transplante da Sociedade Brasileira de Urologia, uma cirurgia de retransplante de rim apresenta complexidade extra, pois, como já houve manipulação anatômica prévia da região, a operação exige mais atenção técnica e envolve potencial maior de complicações.
“Nem sempre há necessidade de remoção do rim anteriormente transplantado porque o novo rim é colocado no lado oposto ao do anterior. A remoção só é feita quando há indicação específica, como uma infecção grave”, explica o médico.
Os cuidados após um retransplante são similares aos da primeira cirurgia, com especial atenção a terapias que possam reduzir o risco de uma rejeição. As taxas de sucesso são levemente menores num segundo transplante, mas, ainda assim, o procedimento pode ter um resultado melhor do que manter o paciente em diálise.
Por causa do risco maior de complicações, as internações de pacientes que passaram por um retransplante costumam ser mais demoradas, segundo o especialista da SBU.
Quanto tempo dura um rim transplantado?
O rim transplantado, quando não sofre rejeição ou complicações, pode durar anos ou décadas sem a necessidade de retransplante, mas isso vai depender de fatores como a idade do doador e do receptor e as condições clínicas do paciente que recebeu o órgão.
“O retransplante não é super comum, mas faz parte da rotina de qualquer centro transplantador. Temos rins que duram 10, 15 anos, até a vida inteira. A média é de cerca de 10 anos, variando conforme as condições do paciente e do doador”, explica Carvalho. Por isso, há um cuidado especial em associar doadores mais idosos a receptores também mais velhos, otimizando o aproveitamento do órgão.
“O rim é um órgao que envelhece, diferentemente do fígado, que resiste mais ao tempo. Tanto é que, quando a gente faz transplante de fígado, a gente nao se preocupa com a idade do doador. Quando a doação é de rim, eu preciso me preocupar com a idade do doador porque se for o rim de um idoso, por exemplo, ele terá menor tempo de duração”, diz Fonseca.
Quando é necessário um transplante de fígado?
Fonseca explica que não é incomum que o paciente passe por transplante de fígado e rim ao mesmo tempo. No caso do Faustão, a primeira cirurgia foi feita no último dia 6 e o retransplante, no dia seguinte.
Quanto às principais causas que levam ao transplante de fígado, o hepatologista cita as hepatites crônicas B e C, o consumo excessivo de álcool e a doença hepática gordurosa. Esta última, associada à epidemia global de obesidade, está se tornando a principal indicação de transplante, de acordo com o médico do Oswaldo Cruz. Casos agudos, como falência hepática induzida por medicamentos, também são relevantes.
O paciente pode precisar de um transplante simultâneo de fígado e rim geralmente no caso de doenças crônicas que comprometem os dois órgãos, como o diabetes.
Carvalho ressalta que o Sistema Nacional de Transplantes segue critérios científicos e protocolos bem definidos, sem privilégios por questões financeiras ou pessoais. “A lista é pública, e a prioridade é sempre determinada por critérios médicos e técnicos”, afirma. Vale lembrar que a lista de espera por um órgão é única e gerida pelo Ministério da Saúde, mesmo que o paciente vá passar pela cirurgia num hospital privado.