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É fácil identificar um sociopata? Psicóloga que descobriu ter o transtorno responde

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É fácil identificar um sociopata? Psicóloga que descobriu ter o transtorno responde

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Foto: Stephen Holvik/Divulgação

Patric GagneDoutora em psicologia clínica e autora de Sociopata – Minha História

A escritora Patric Gagne tinha 11 anos quando ouviu pela primeira vez a palavra “sociopata”. Foi durante uma visita ao Tio Gilbert, chefe dos guardas da penitenciária da Flórida. “Eu diria que 80% dos homens desta prisão são sociopatas”, comentou Bobby, um dos agentes. “Sociopata?”, a garota arregalou os olhos. “O que é isso?’, quis saber. “Alguém que não se sente mal com o que faz”, definiu o sujeito em poucas palavras.

Desde os sete anos, Patric sabia que havia algo errado com ela. Enquanto as outras crianças do bairro andavam de bicicleta e brincavam de boneca, ela roubava as mochilas das amigas e invadia as casas dos vizinhos. Na segunda série, chegou a furar a cabeça de uma colega de turma com um lápis. “Não sentia culpa quando mentia. Nem compaixão quando se machucavam. Em geral, não sentia nada. Assim, fazia coisas para substituir o nada por… algo”, explica a autora de Sociopata – Minha História (Harper Collins).

O tempo passou e a garota cresceu. Na adolescência, decidiu estudar psicologia na UCLA, a Universidade da Califórnia em Los Angeles. Foi lá, durante uma aula, que a suspeita ganhou ares de “diagnóstico”. “A sociopatia é um transtorno caracterizado pela falta de propensão a sentir empatia pelos outros”, explicou a professora. “Os sociopatas não sentem como todo mundo. E muitos pesquisadores acreditam que é essa falta de sentimentos que os leva a se comportar de forma agressiva e destrutiva”.

Terminada a aula, Patric sentiu um misto de alívio e encantamento. Finalmente, descobrira por que fazia o que fazia. Era, como ela mesma define, “uma criminosa sem ficha na polícia”. “Não quero minimizar a gravidade do transtorno. Nem romantizá-lo. A sociopatia é uma doença mental perigosa”, alerta a PhD em psicologia clínica. “Foi por isso que quis contar minha história: para que os indivíduos afetados pela sociopatia consigam a ajuda de que precisam. E se vejam refletidos numa pessoa que tem mais a oferecer do que apenas escuridão”.

Você diz que não existe uma única definição para a palavra “sociopata”. Qual é a sua definição favorita?

Essa é uma das razões pelas quais escrevi meu livro. Há muita confusão sobre o meu tipo de personalidade. As pessoas não sabem muito bem como definir a sociopatia nem como diagnosticá-la. Dito isto, definiria um sociopata como alguém que tem dificuldade de conexão com as emoções sociais e, por essa razão, recorre a estratégias de manipulação e comportamentos de destruição como um mecanismo de enfrentamento.

A maioria das pessoas confunde sociopatas com psicopatas. Quais são as principais diferenças?

É complicado porque o conceito de sociopatia é mais usado em ambientes clínicos. Hoje em dia, pessoas como eu provavelmente receberiam o diagnóstico de psicopatia secundária ou Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS). Mas, se você prestar atenção, o psicopata primário, acredita-se, teria anormalidades cerebrais que o impedem de passar por um desenvolvimento emocional complexo. Então, embora sejam capazes de sentir as emoções primárias, isto é, medo, tristeza, raiva, nojo, surpresa e alegria, não são capazes de sentir as emoções sociais: amor, culpa, vergonha, remorso e até ciúme.

A psicopatia secundária, por outro lado, não parece ser o resultado de qualquer influência ou anormalidade biológica. Esses indivíduos podem progredir através do desenvolvimento emocional e aprender emoções sociais. Eles apenas aprendem de uma maneira diferente dos demais. No livro, me refiro a isso como uma dificuldade de aprendizagem porque é assim que se parece. Mas, respondendo à sua pergunta, a maior diferença entre a psicopatia primária e a secundária é que a secundária parece ser receptiva a tratamento.

É fácil identificar um sociopata?

Nem um pouco. Essa é outra razão pela qual escrevi meu livro. Para identificar algo, você precisa ser capaz de definir algo. E, neste momento, não existe uma definição única para sociopata ou psicopata. Esses distúrbios exigem mais pesquisa e atenção. Minha esperança ao compartilhar minhas memórias é que elas possam dar início a uma conversa mais ampla, geral e irrestrita sobre o tema.

O que torna alguém sociopata? O estresse e a hiperconexão podem contribuir?

Não há consenso sobre o que há por trás da sociopatia ou da psicopatia. Alguns dizem que a psicopatia primária é causada pela incapacidade do organismo de processar a ocitocina – o chamado “hormônio do amor”. Outros dizem que é um problema dentro da amígdala – a área do cérebro responsável pelo processamento do medo e da agressão. A verdade é que a causa do transtorno ainda não está muito bem esclarecida. Por isso mesmo, é preciso ter mais pesquisas e estudos. Já passou da hora de ter uma resposta para essa pergunta.

A cultura pop está repleta de sociopatas. Dexter Morgan e Wandinha Addams são apenas dois deles. Qual deles está mais próximo da realidade?

Tanto Dexter quanto Wandinha são mais críveis do que a maioria dos sociopatas unidimensionais que vemos por aí em filmes e séries. Ambos são leais e responsáveis. Demonstram bondade e generosidade. Distinguem o certo do errado. São até capazes de amar. Acontece que o que eles entendem por amor é diferente do que nós entendemos. O que não quer dizer que não deva ser levado em consideração.

Por que alguns sociopatas/psicopatas cometem crimes e outros não? Há alguma explicação?

Não tenho uma resposta concreta para isso. Mas se você considerar a teoria de que a psicopatia existe em um espectro, eu pensaria na hipótese de que o comportamento criminal talvez seja o resultado do perfil. Alguém cujo tipo de personalidade se encontra no lado leve a moderado do espectro, por exemplo, pode não ser tão motivado para o crime quanto alguém cujo diagnóstico é mais extremo.

Aos sete anos, Patric Gagne já percebia que era diferente das outras crianças Foto: Divulgação/Harper Collins

Desde os sete anos, você sabia que havia algo errado. A que sintomas ou sinais os pais devem estar atentos?

O comportamento destrutivo é o maior alerta vermelho que existe. O problema é que cada criança se comporta de maneira diferente. No meu caso, a maior parte do meu comportamento destrutivo acontecia fora do alcance de meus pais. Por isso, recomendo aos responsáveis que procurem por sinais emocionais. Se você suspeita que seu filho está lutando contra emoções sociais, como culpa, empatia e remorso, procure conversar com ele. Pergunte o que está sentindo. Crie um ambiente favorável para que ele possa se expressar sem julgamento. Só assim você conseguirá resolver os problemas em vez de apenas detectar os sintomas.

No livro, você relata algumas das mentiras, dos roubos e das violências que cometeu. Se arrepende de algo?

Não sinto arrependimento como as pessoas neurotípicas (aquelas que apresentam um funcionamento cerebral típico ou convencional, ou seja, que não têm problemas de desenvolvimento neurológico). Não consigo atribuir emoções às minhas ações. Há casos em que vejo os potenciais benefícios de ter feito escolhas diferentes.

Como terapeuta, você trata pacientes com sociopatia, certo? Tem cura? Qual é o tratamento mais indicado?

Não trabalho mais como terapeuta. Minha única experiência é a minha história de vida. No meu caso, técnicas psicoterápicas aliadas a intervenções cognitivo-comportamentais foram extremamente eficazes para reduzir meu comportamento destrutivo.

O que mudou em sua vida desde que se tornou doutora em psicologia clínica? Hoje, leva uma vida mais próxima do normal?

Fiz doutorado em psicologia clínica para me compreender melhor. E tenho o prazer de informar que, hoje em dia, me conheço mais e melhor do que nunca. Conhecimento é poder. Assim que descobri por que agia dessa maneira, fui capaz de me controlar. Substituí comportamentos destrutivos por mecanismos construtivos de enfrentamento. Como resultado, passei a levar uma vida mais feliz e “normal”.

Existe luz no fim do túnel?

Existe. Quero que as pessoas como eu saibam que há um caminho a seguir. Compartilhei minhas histórias para mostrar que, ao contrário do que muitos dizem, alguém com diagnóstico de sociopatia pode viver uma vida funcional. Espero que meu livro ajude as pessoas a entender isso.

Fonte: Externa

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