A chegada do carnaval pode favorecer um aumento de casos de gastroenterite, inflamação capaz de transformar a folia em dor de cabeça – e de barriga.
A gastroenterite é uma inflamação no trato gastrointestinal que afeta o estômago, o intestino delgado e o intestino grosso, explica Gustavo Patury, cirurgião do aparelho digestivo da Rede D’Or. A principal causa são as infecções virais, com destaque para agentes como o rotavírus e o adenovírus, por isso o quadro costuma ser chamado de virose.
Pacientes com virose costumam apresentar mal-estar geral, dores musculares e de cabeça, diarreia, náusea, vômito e cólica abdominal Foto: vachiravit/Adobe Stock
Segundo os especialistas, o calor intenso e a grande circulação de pessoas criam o cenário perfeito para a transmissão dos vírus, como aconteceu em cidades do litoral paulista, no Réveillon. “Quando falamos de gastroenterites virais, a contaminação pode ser tanto por alimentos contaminados quanto por contaminação direta. O que vimos no Guarujá foi essa contaminação direta, de paciente para paciente”, contextualiza Patury.
Para curtir a folia sem sustos, ele recomenda atenção redobrada à higiene, hidratação e alimentação durante a festa. Lavar bem as mãos e os alimentos são algumas das medidas fundamentais. Veja a seguir outras orientações.
Quais os sintomas?
Geralmente, os pacientes apresentam mal-estar geral, febre baixa, dores musculares e de cabeça, além de cansaço excessivo. É comum ocorrerem sintomas gastrointestinais, como diarreia, náusea, vômito, falta de apetite e cólica abdominal.
“Às vezes, os pacientes evoluem para casos de diarreia mais intensa, com cerca de seis a sete episódios por dia, mas também vemos pacientes com quadros mais brandos, com um ou dois episódios, e depois fica apenas o mal-estar”, diz Patury.
Ele afirma que o cuidado pode incluir remédios para febre, cólica ou enjoo, mas o principal ponto no tratamento das gastroenterites virais é a hidratação. É fundamental manter a pessoa hidratada, seja com água, sucos ou isotônicos. “Se o paciente está vomitando demais e não consegue se alimentar, aí é importante ir para um pronto-socorro”, orienta.
O que comer?
O indicado é evitar alimentos muito salgados, açucarados ou gordurosos. O excesso de sal pode causar retenção de líquido, enquanto o consumo exagerado de açúcar sobrecarrega o metabolismo. Já a gordura em grande quantidade é difícil de digerir, podendo causar desconforto gástrico. O recomendado é preferir pratos mais leves e balanceados, como frutas, saladas e carnes magras.
Outro ponto de atenção é a forma de preparo e armazenamento. Nesta época, é comum comer fora de casa e, em algumas situações, as pessoas acabam expostas a alimentos mal conservados.
“É bom evitar alimentos que ficam expostos ao calor e à manipulação de outras pessoas”, ressalta Daniel Magnoni, nutrólogo da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo. “Em locais de alimentação por quilo, por exemplo, tente observar se os alimentos estão sendo resfriados por baixo e por cima e se as pessoas que estão reabastecendo as mesas usam equipamentos de proteção”.
O que beber?
Uma prática comum entre os foliões é consumir muito álcool de barriga vazia. Esse hábito representa um grande risco, diz Magnoni, pois acelera a desidratação. “Além de outros malefícios relacionados ao consumo do álcool, a substância aumenta a diurese (secreção de urina) e a pessoa perde mais líquido. Então, se você sair para beber, beba pouco, mas, se abusar, também abuse de hidratantes”, aconselha.
A água é a principal fonte de hidratação, porém chás e sucos também podem contribuir. A água de coco é uma ótima opção, de preferência quando extraída diretamente da fruta no momento do consumo. As versões industrializadas são permitidas, mas é recomendável escolher aquelas com menos aromatizantes e conservantes. “No caso dos sucos, cuidado com o gelo. Às vezes, eles são coletados de recipientes com um alto grau de contaminação. Se puder beber sem o gelo, é melhor”, cita o nutrólogo.
No dia seguinte à folia, o indicado é abusar das frutas. “Além do líquido, elas vão repor vitaminas e minerais que se perdem na sudorese excessiva”, destaca Magnoni.
Além das gastroenterites
Segundo Patury, a aglomeração de pessoas neste período favorece a transmissão de outras doenças virais. “Gripes em geral, H1N1 e o próprio vírus da covid-19 se espalham com facilidade. O maior contato íntimo entre as pessoas, o compartilhamento de bebidas e a intensa interação social aumentam o risco de contaminação por quadros virais”, explica.
Outro ponto de atenção é o calor intenso. “O principal alerta é relacionado à desidratação. Aqui em São Paulo e no Sul, há duas coisas associadas: o calor intenso e um ambiente muito seco nesta época do ano. A prática de exercícios, que faz com que você perca mais líquido, pode piorar esses quadros. É importante que todas as pessoas, mesmo que não estejam se exercitando, se hidratem constantemente, além de fazerem uso de protetor solar”, destaca Patury.
“Os pacientes que precisam ter um pouco mais de cuidado são aqueles que já têm algum quadro prévio, como pessoas com diabetes ou hipertensão”, continua. “Outros três grupos que exigem mais atenção são os idosos, as crianças e as gestantes”.