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Bobbie Goods: livros para colorir podem reduzir estresse e ansiedade?

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Bobbie Goods: livros para colorir podem reduzir estresse e ansiedade?

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Ursinhos, cupcakes e nuvens fofas. Assim são os desenhos dos livros de colorir “Bobbie Goods”, que estão bombando nas redes sociais. Pode até parecer coisa de criança, mas a febre pegou mesmo os adultos. É que, para os adeptos, pintar virou uma ferramenta para desestressar, fugir das telas e dar pausa na rotina agitada. Alguns até enxergam nos Bobbie Goods uma prática de mindfulness, técnica meditativa que prega a atenção plena ao presente, longe das distrações.

Para entender melhor os possíveis efeitos dos cadernos de colorir sobre a saúde mental, o Estadão conversou com médicos e especialistas em psicologia.

Livrinhos de colorir Bobbie Goods têm desenhos simples e atmosfera nostálgica e lúdica. Foto: Reprodução/bobbiegoods.com

O papel no estresse

Segundo o psicólogo Rodrigo Acioli, conselheiro do Conselho Federal de Psicologia (CFP), não dá para cravar que os livros são antídotos para a ansiedade, mas, assim como outras atividades, eles podem ser considerados aliados do bem-estar emocional. “As pessoas podem usar isso para exercitar a criatividade, desopilar e desestressar”, afirma.

A lógica também está no estímulo ao cérebro. “No trabalho, lidamos com planilhas, prazos, lógica. Já colorir acessa uma área diferente do cérebro, ligada à criatividade e subjetividade. Parar para fazer algo lúdico ajuda a equilibrar esse uso cerebral”, explica Rita Calegari, psicóloga do Hospital Nove de Julho, da Rede Américas.

Vale dizer, no entanto, que a atividade pode ter o efeito oposto quando associada a cobranças ou perfeccionismo. “O hobby entra como forma de aliviar a pressão do dia a dia. Por isso, não devemos focar em produtividade ou em ser bom naquilo. Você não precisa pintar como um Da Vinci”, brinca Rita.

Colorir para meditar?

Práticas terapêuticas conhecidas podem utilizar o ato de colorir e pintar em prol da saúde mental, como a arteterapia e o mindfulness, que envolve direcionar nossa atenção plena para o momento presente.

“Se você foca no desenho, percebendo as cores, com espontaneidade e sem um objetivo pré-determinado, isso pode gerar uma sensação de bem-estar e até um estado de flow (profunda concentração)”, afirma Marcelo Demarzo, médico e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), especialista em mindfulness.

Mas ele frisa que, para ser uma ferramenta útil dentro do mindfulness, o ato de desenhar ou colorir precisa ser realizado com as técnicas corretas e o acompanhamento especializado. Até porque a prática abrange outros aspectos, como o foco na respiração, com a percepção do ar entrando e saindo do corpo. Além disso, é essencial que a atividade aconteça com regularidade e intenção.

“No caso da atenção plena, é um treinamento. Não é uma vez que você faz e pronto. Para ter benefícios reais para a saúde mental e física, é necessário praticar com constância”, reforça.

Segundo Demarzo, desenhos que auxiliam na meditação costumam ser livres e não padronizados. “Para que a pessoa realmente tenha fluidez e não entre na questão do autojulgamento”, justifica.

Evidências e limitações

A moda dos livros de colorir entre adultos não é exatamente nova. Em 2015, o Jardim Secreto, da ilustradora escocesa Johanna Basford, se tornou um fenômeno editorial tão grande que as gráficas não conseguiam acompanhar a demanda. Naquele ano, os 20 livros mais vendidos da Amazon pertenciam à mesma categoria.

Atentos a esse movimento, pesquisadores da Universidade Pepperdine, nos Estados Unidos, decidiram investigar a relação entre livros de colorir e a redução da ansiedade. No estudo, 160 participantes foram expostos a diferentes atividades artísticas — como desenho livre, mandalas pré-impressas, criação de mandalas e o uso de livros de colorir — para avaliar os efeitos imediatos sobre um estado de ansiedade previamente induzido.

O resultado: todas as quatro abordagens contribuíram significativamente para a diminuição da ansiedade dos participantes.

Entre elas, o uso de mandalas tem se destacado na arteterapia clínica, reconhecida como uma prática eficaz em diferentes contextos. No entanto, a complexidade de seus padrões pode afastar alguns usuários.

É nesse ponto que se explica o sucesso dos livros com desenhos mais simples, como o Bobbie Goods. Com traços simples e temas lúdicos, do cotidiano, eles atraem justamente por sua acessibilidade.

“Isso cativa as pessoas porque a execução é fácil, o resultado aparece rápido, e os benefícios são semelhantes aos dos livros mais detalhados”, afirma Rita. Segundo ela, a fácil conclusão da atividade, sem pressão, é um ótimo reforço para a autoestima.

Autocuidado ou modismo?

Criada pela artista americana Abbie Goveia, a marca virou referência nessa nova onda de livros de colorir. No TikTok, são mais de 105 mil publicações com a hashtag #BobbieGoods e mais de 700 mil com #coloringbook (livro de colorir, em português), muitos deles feitos por brasileiros.

Mas esses livrinhos não são exatamente baratos. Além dos cadernos, os kits incluem canetas coloridas, com estojos de até 120 cores, e acessórios com visual kawaii — o que levanta a dúvida: estamos diante de uma prática legítima de autocuidado ou apenas de mais um produto impulsionado pelo marketing?

“Sempre tem os dois lados”, diz Demarzo. “Se a pessoa conhece os princípios por trás e está motivada a incluir isso no seu dia a dia, pode ser válido. Mas, se é só algo da moda que a pessoa compra e deixa de lado, aí não faz sentido.”

Rita reforça a importância de ter consciência do próprio perfil antes de investir em materiais caros. “Não adianta relaxar pintando e, depois, ficar estressado ao ver o extrato bancário. A gente precisa comprar coisas que realmente façam sentido para o propósito que têm.”

Seja como for, os especialistas destacam que há muitas formas de buscar bem-estar em meio à rotina agitada. Entre eles, a prática da arte pode realmente ser útil, e não envolve só a pintura: pode ter relação com teatro, música, leitura, etc. Fazer exercício físico também entra no combo de opções. “Tudo isso pode ajudar também no processo de desestresse”, diz Acioli. O que vale é buscar maneiras de desacelerar que caibam na sua rotina — e que não virem mais uma fonte de tensão e cobrança.

Fonte: Externa

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