Uma década atrás, aos cinquenta e poucos, eu não conseguia ficar em paz com a minha idade. Tentei evitar o inevitável mergulhando em banhos de gelo e bebendo uma marca de café que prometia melhorar a cognição. Paguei caro por cremes faciais (para acabar com as olheiras) e produtos de cabelo (para deixá-lo mais volumoso). E editei meu currículo, eliminando o ano em que me formei na faculdade.
Eu achava que precisava esconder a verdade por causa do etarismo que me cercava: propagandas que retratavam pessoas da minha idade como decrépitas e frágeis, cartões de aniversário que zombavam de nós e outras mídias que simplesmente nos apagavam. Com certeza, eu não iria descansar tranquilo.
Levei muitos anos para entender que existem diferentes modos de etarismo, entre eles o que os pesquisadores chamam de “etarismo internalizado”, ou seja, a discriminação contra nós mesmos – e nossos contemporâneos – à medida que envelhecemos. Ou, como disse Todd D. Nelson, professor de psicologia na Universidade Estadual da Califórnia em Stanislaus, que editou o livro Ageism [ou seja, “Etarismo”]: preconceito contra “nosso temido eu futuro”.
Com dificuldade de ficar em paz com a própria idade, jornalista percebeu que estava vivenciando o chamado etarismo internalizado Foto: nicoletaionescu/Adobe Stock
É claro que nós, com mais de 55 anos, enfrentamos estereótipos negativos, preconceitos e discriminação – na área da saúde (somos excluídos de ensaios clínicos por causa da idade), no trabalho (somos preteridos nas promoções) e na mídia (todos aquelas propagandas dizendo “pareça mais jovem”).
Mas enfim percebi que as mensagens antienvelhecimento que eu escutava não vinham só das outras pessoas. Essa conscientização me colocou no caminho para reverter meus próprios preconceitos em relação ao envelhecimento.
Associações negativas com o envelhecimento têm efeitos colaterais, de acordo com pesquisas.
Becca Levy, professora de psicologia na Universidade de Yale e pesquisadora em psicologia do envelhecimento, escreveu que o etarismo internalizado pode encurtar a vida em até 7,5 anos – aproximadamente o mesmo que fumar em excesso. Levy argumenta em seu livro Breaking the Age Code: How Your Beliefs About Aging Determine How Long and Well You Live [algo como “Quebrando o código da idade: como suas crenças sobre o envelhecimento determinam quanto tempo e quão bem você vai viver”, em tradução direta] que pessoas com menos de 60 anos que partilham de estereótipos negativos sobre o envelhecimento (fragilidade, declínio cognitivo) têm maior probabilidade de sofrer ataque cardíaco ou desenvolver outras doenças cardiovasculares depois dos 60 anos do que aquelas que fazem associações positivas com o envelhecimento (sabedoria, lealdade, confiabilidade).
“A maneira como pensamos o envelhecimento afeta a forma como envelhecemos”, escreveu Levy.
Essas associações negativas estão impregnadas na nossa cultura e nas nossas memórias. Mas não precisa ser assim. Sim, nós podemos mudar.
Abraçando os pontos positivos
Para minha redefinição, recorri primeiro a Chip Conley, autor de Wisdom at Work: The Making of a Modern Elder [algo como “Sabedoria em ação: a construção de um idoso moderno”]. Conley também é o fundador da Modern Elder Academy (MEA), um centro de retiro criado para ajudar pessoas na meia-idade a lidar com seus desafios, sejam eles decorrentes da aposentadoria, da síndrome do ninho vazio, do divórcio ou do envelhecimento. Participei de um de seus retiros em 2022, prestes a completar 65 anos.
No MEA, passei uma semana com outras 19 pessoas, ouvindo coisas como: “É tarde demais para aprender coisas novas” ou “Já passei da idade de me reinventar”. Conley nos alertou sobre os perigos da “mentalidade fechada”, ou seja, de ficarmos rígidos, com medo de mudanças e até mesmo acreditando que é tarde demais para uma renovação.
Em um exercício chamado “Grande Edição da Meia-Idade”, escrevemos nossas ideias sobre o envelhecimento em pedaços de papel. (Vocês já conhecem as minhas, que eram muito parecidas com as dos outros). Em seguida, jogamos esses pedaços – representando nossas antigas mentalidades – na fogueira e ficamos vendo enquanto pegavam fogo. “Estamos nos desapegando”, disse um novo amigo, animado.
No segundo dia, Conley nos pediu para descrever o que ele chamou de “mentalidade substituta”: uma lista dos aspectos positivos do envelhecimento. Há muitos, como mais experiência e sabedoria, menos julgamento dos outros e mais aceitação de nós mesmos e até maior contentamento ou equilíbrio. Entendi o que Conley estava dizendo, mas levaria tempo para que eu compreendesse completamente a importância da sua mensagem.
Pondo as crenças em prática
Depois do MEA, comecei a pensar sobre intenção e prática. Levy descreveu um processo de três etapas para fortalecer crenças positivas sobre a idade. A primeira é aumentar a conscientização: “Sabemos, por meio de nossas pesquisas, que muitas vezes temos crenças sobre a idade sem consciência delas”. Ela observou que crianças a partir dos 3 anos muitas vezes internalizam as crenças sobre a idade da cultura ao seu redor.
Para combater isso, Levy recomenda manter um diário e “anotar todas as crenças sobre a idade que você encontrar ao longo de uma semana”. A representação foi positiva ou negativa? Ou os idosos estavam ausentes de um filme ou programa de TV? “Sabemos que a falta de representatividade também pode levá-los à marginalização”.
Seu segundo exercício é se perguntar: “O que se diz sobre os idosos é preconceituoso?”
O etarismo é considerado uma das últimas formas aceitáveis de discriminação e pode ser difícil de identificar. Quando não se tem certeza se é preconceito, Levy sugere mudar o alvo para outro grupo marginalizado, como as mulheres: “Se um funcionário afirma a necessidade de demitir funcionários mais velhos, pergunte-se como soaria se os mesmos comentários fossem feitos sobre a demissão de mulheres”.
Por fim, ela recomenda um exercício para desmantelar crenças negativas sobre a idade, “combatendo-as com informações precisas”. Por exemplo: a crença de que a cognição inevitavelmente declina à medida que envelhecemos. “Na verdade, descobriu-se que vários tipos de cognição melhoram mais tarde na vida, como a metacognição, ou seja, pensar sobre o pensamento”, disse Levy.
Usando o sistema dela, fiz alguns avanços para reformular o envelhecimento. Semanas atrás, falei ao gerente de uma loja de presentes que o estabelecimento só vendia cartões de aniversário que zombavam das pessoas mais velhas. O gerente, mais ou menos da minha idade, primeiro se ofendeu e depois entendeu, prometendo encomendar uma linha diferente. E agora, quando as pessoas me dizem “Você está muito bem para a sua idade”, eu explico educadamente que isso não é um elogio e que pode ser considerado etarismo, porque implica que a maioria das pessoas da minha idade tem uma aparência péssima.
Também estou tentando desencorajar o “recital de órgãos”, aquele papo interminável sobre dores, doenças e cirurgias que domina as conversas dos mais velhos e perpetua estereótipos negativos.
Por último – e o mais desafiador –, parei de mentir minha idade, especialmente em aplicativos de namoro. No meu aniversário este ano, postei uma selfie, parafraseando a famosa declaração de Gloria Steinem: “40 anos é isso”, só que, no meu caso, a legenda dizia: “67 anos é isso”.
Ainda não acabei com os meus preconceitos sobre a idade – provavelmente nunca vou acabar – mas já sinto os benefícios. Os autores de um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology observam que a aceitação interior do envelhecimento leva a menos raiva e ansiedade e a mais “calma e serenidade”.
Também me lembro do que Andrew Weil, fundador do Centro Andrew Weil de Medicina Integrativa da Universidade do Arizona e autor de Healthy Aging: A Lifelong Guide to Your Well-Being [”Envelhecimento saudável: um guia para o seu bem-estar ao longo da vida”, em tradução livre], escreveu: “Não somos reféns do nosso destino”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU