Qual é a diferença entre colesterol bom e ruim? Veja como mantê-los em níveis saudáveis
Embora o colesterol seja um tema conhecido, ainda existem muitas dúvidas sobre os reais efeitos do HDL e LDL no organismo. Crédito: Jefferson Perleberg
Você, com certeza, já ouviu falar em colesterol alto. Além disso, talvez já tenha escutado que ele é um vilão discreto, já que não costuma causar sintomas imediatos. Por isso, muita gente só descobre que está com níveis alterados quando realiza um exame de sangue de rotina ou depois de um problema sério, como um infarto ou um acidente vascular cerebral (AVC).
O grande problema é justamente esse perfil “silencioso”. Enquanto parece tudo bem por fora, por dentro, o colesterol pode estar se acumulando nas artérias, estreitando os vasos que levam sangue ao coração, ao cérebro e a outras partes do corpo.
Em alguns casos, porém, o organismo dá sinais de que algo não vai bem, o que pode ajudar a detectar o perigo antes que ele cause danos maiores. Veja a seguir indícios que merecem atenção.
Xantelasmas são pequenos depósitos de gordura que se formam sob a pele das pálpebras e podem ser um sinal de colesterol alto. Foto: Todorean Gabriel
Por que o colesterol alto é silencioso?
O colesterol é um tipo de lipídio (gordura) naturalmente presente no organismo. Embora o seu excesso possa causar problemas, ele é essencial para a vida. Produzido no fígado, ele ajuda a formar as paredes das células e é usado como matéria-prima para produzir ou processar substâncias importantes, como hormônios e algumas vitaminas.
Esse lipídio circula no sangue em partículas, chamadas de lipoproteínas. É justamente o tipo de partícula transportadora quem define se o colesterol é “bom” ou “ruim”. As principais são a lipoproteína de baixa densidade (LDL, na sigla em inglês), conhecida como “colesterol ruim”, e a lipoproteína de alta densidade (HDL), o “colesterol bom”.
De um lado, o HDL retira o excesso de colesterol das artérias e o leva de volta ao fígado para ser eliminado. Por isso, níveis mais altos de HDL são considerados protetores para a saúde do coração.
Já o LDL, quando em excesso, forma placas gordurosas e provoca uma reação inflamatória crônica, um processo lento e cumulativo chamado de aterosclerose, o popular “entupimento das veias”.
Embora não cause sintomas imediatos, a formação de placas estreita as artérias e compromete o fluxo de sangue para o coração, o cérebro e os músculos. Por isso, alguém pode se sentir bem por anos, enquanto o risco cardiovascular cresce de forma despercebida.
Sintomas
“Na grande maioria das vezes, o colesterol alto não dá sintomas, por isso a importância da prevenção e da identificação dos níveis alterados”, diz Fabiana Hanna Rached, cardiologista da Unidade Clínica de Aterosclerose do Instituto do Coração (InCor/USP) e diretora cientifica do Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Apesar do “silêncio”, existem alguns sintomas que indicam a necessidade de buscar um médico. Quando há quadro de aterosclerose já instalado, por exemplo, podem surgir:
- Dor ou desconforto no peito;
- Falta de ar e fadiga quando é realizado um esforço físico;
- Dores nas pernas ao caminhar que melhoram com o repouso (por má circulação);
- Pele fria e palidez nos dedos.
Segundo a SBC, esses já são sinais tanto de que o coração pode não estar recebendo sangue ou oxigênio suficiente quanto de um comprometimento das artérias que irrigam o corpo.
O cardiologista Andrei Sposito, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), enfatiza: “Não vale a pena esperar surgir a manifestação. A hipercolesterolemia (colesterol alto) é uma doença realmente silenciosa até que seja tarde demais”.
Sinais que merecem atenção
Além dos sintomas mencionados, alguns sinais podem indicar que algo desregulado nos níveis de colesterol:
São pequenos depósitos de gordura que se acumulam sob a pele, geralmente em decorrência de alterações nos níveis de lipídios no sangue, como colesterol. Essas lesões aparecem como nódulos levemente amarelados e podem surgir em várias partes do corpo, principalmente nos joelhos, mãos, pés, coxas, glúteos e tendões.
São um tipo específico e mais comum de xantoma, localizado nas pálpebras, geralmente perto do canto interno dos olhos. Aparecem como bolinhas, logo abaixo da superfície da pele. Apesar de serem benignas e indolores, costumam estar associados a níveis elevados de colesterol.
A SBC ressalta que há diversas outras condições de pele que se assemelham ao xantelasma e que o médico dermatologista está apto a fazer o diagnóstico.
Também chamado de arco senil, trata-se de um anel acinzentado ao redor da íris. Ele é causado pelo acúmulo de lipídios, como colesterol, e é comum em pessoas mais velhas. “Por isso, é preciso ficar atento principalmente quando acontece em pacientes mais jovens”, destaca Fabiana.
Quando procurar um médico?
“A avaliação do colesterol deve fazer parte dos check-ups de rotina”, destaca Márcio Weissheimer Lauria, coordenador do Departamento de Dislipidemia e Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
E esses exames de rotina não se restringem aos mais velhos. É recomendado medir os níveis de colesterol entre 9 e 11 anos de idade, na adolescência e quando adulto jovem. “Não é apenas após os 40 anos, como se falava antes. Quanto mais cedo identificarmos alterações, maior a chance de prevenção”, recomenda Fabiana.
Todos devem conhecer seus níveis de colesterol e, se houver alteração nos exames, procurar orientação médica.
Também é importante buscar um médico quando há histórico familiar de doenças cardíacas, especialmente se surgiram precocemente, ou em caso de fatores de risco como obesidade, diabetes, hipertensão ou tabagismo.
Como é feito o diagnóstico de colesterol alto?
O diagnóstico é feito pelo médico, após a avaliação dos resultados de um exame de sangue. Nele, é apresentada a soma do colesterol bom (HDL) com o colesterol ruim (LDL), ou seja, o “colesterol total”. O teste também aponta os valores individuais de cada tipo de colesterol.
De acordo com a diretriz da SBC, os valores ideais de colesterol são:
- Colesterol total (soma de HDL e LDL): abaixo de 200 mg/dL;
- Colesterol LDL: abaixo de 130 mg/dL para pessoas com risco baixo;
- Colesterol HDL: acima de 40 mg/dL.
Pacientes que já tiveram um infarto ou têm diagnóstico de doença cardiovascular são considerados de risco “muito alto”. Nesses casos, o valor ideal de LDL é abaixo de 50 mg/dL.
Já para pessoas com risco intermediário, como aqueles com histórico familiar de doença coronariana em idade jovem ou sinais de síndrome metabólica, o valor recomendado é abaixo de 100 mg/dL.
Os testes são disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e podem ser feitos em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS).
O que fazer para diminuir o colesterol?
Equilibrar a alimentação é muito importante para manter níveis saudáveis de colesterol bom e ruim. “É fundamental adotar uma dieta balanceada, rica em fibras, frutas, vegetais, grãos integrais e com baixo teor de gorduras saturadas e trans”, diz Fabiana.
Ao mesmo tempo, é necessário praticar atividade física regularmente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de pelo menos 150 minutos de exercícios por semana.
Outra recomendação é evitar o cigarro e, por fim, quando necessário, iniciar o tratamento medicamentoso para controlar os níveis de colesterol, sempre com orientação médica.
O que evitar quando o colesterol está alto?
A nutricionista Stéfany Datovo Prado, diretora do Serviço de Nutrição do InCor, explica que, após o diagnóstico de colesterol alto, é fundamental evitar ou reduzir o consumo dos seguintes alimentos:
- Carnes processadas e embutidos (como salsicha, linguiça, bacon e salame);
- Carnes vermelhas com gordura aparente e cortes com alto teor de gordura;
- Leite integral e derivados integrais (como queijos amarelos, manteiga e creme de leite);
- Frituras e alimentos ultraprocessados: além da gordura saturada, eles podem conter gordura trans, que é especialmente prejudicial ao perfil lipídico;
- Doces industrializados (bolos, biscoitos recheados, sorvetes);
- Óleos vegetais em excesso (mesmo os saudáveis). “O uso indiscriminado pode contribuir para o excesso calórico e ganho de peso, fator associado ao aumento do colesterol total”, diz Stéfany.