Sempre adorei finais de semana, e uma das coisas que mais gostava na infância e adolescência era quando chegava sexta-feira e eu ia com meus pais a uma locadora de vídeos perto de casa. Escolhíamos um ou dois filmes, que seriam assistidos duas ou mais vezes, caso despertassem paixão ou fascínio.
“Efeito borboleta”, lançado em 2004, foi um daqueles que me fizeram rebobinar a fita mais de uma vez e, por isso, marcou minha adolescência. Nele, o protagonista apresentava uma capacidade de viajar no tempo e alterar o passado. Mas, sempre que mudava alguma coisa, um evento não planejado dava errado ou resultava em um efeito catastrófico.
A premissa do filme envolve a teoria do caos, que pode ser utilizada na meteorologia, em investigações criminais e até mesmo nos negócios. Ela se refere ao fato de que pequenas ações, como o bater de asas de uma borboleta aqui, poderiam gerar grandes consequências, como um tufão do outro lado do mundo.
Ao contrário do personagem vivido por Ashton Kutcher em “Efeito borboleta”, nós não temos a capacidade de viajar no tempo — muito menos de controlá-lo. Porém, mesmo que seja impossível alterar nosso passado e a carga genética, há pequenas ações, como um bater de asas de borboleta, que, realizadas hoje, não irão se transformar num tufão, mas certamente contribuirão para uma vida mais saudável, ativa e com qualidade.
Doença de Alzheimer, alguns tipos de câncer e problemas no coração são alguns exemplos de doenças crônicas que podem ser prevenidas caso certas práticas sejam adotadas. Elenco, aqui, as principais:
Pareço um disco riscado com meus pacientes, uma vez que em todas as consultas questiono se a pessoa está se movimentando. Desfechos positivos em todos os sentidos podem ocorrer ao manter-se ativo fisicamente. Para quem perguntar qual é o melhor exercício a se fazer para retardar problemas no envelhecimento, digo: o que você fizer! Já há uma vantagem grande ao passar para um nível ativo e largar o sedentarismo. Portanto, nada de realizar uma meta impossível de ser cumprida. Está tudo bem começar com algo leve e de pouca intensidade. Talvez, com o tempo, uma progressão seja alcançada.
Fazer exercício físico e focar em práticas que beneficiem a saúde mental são medidas que garantem um envelhecimento com mais qualidade. Foto: BTK/Adobe Stock
- Ter uma alimentação saudável
Priorizar alimentos “in natura”, reduzir o consumo de gorduras animais, investir em uma variedade de frutas, verduras e legumes, além de evitar o consumo de alimentos ultraprocessados são tarefas necessárias. É preciso também debater políticas públicas que facilitem o acesso a uma alimentação suadável.
- Cuidados com a saúde mental
Algo que é fácil de falar, mas que também envolve pontos relacionados à família, ao estilo de vida e ao nosso trabalho. Para ter o direito ao envelhecimento, um sono com qualidade, uma vida digna e a promoção da saúde mental não podem faltar. Vale destacar que há muitos estudos relacionando a solidão com impactos danosos à saúde, da mesma forma que fumar ou até mesmo beber grandes quantidades de álcool.
- Controle de doenças crônicas
Ao contrário do que muitos possam acreditar, saúde não é sinônimo de ausência de doenças, mas sim o estado de bem-estar biopsicossocial. Dessa forma, uma pessoa com uma ou mais condições crônicas pode ser saudável, desde que seja educada para a necessidade do controle de questões como pressão alta, diabetes e problemas relacionados ao colesterol, por exemplo — e, claro, tenha acesso aos tratamentos.
Já não é novidade para ninguém que aquele cowboy da propaganda de cigarro adoeceu por câncer. Por isso, cessar o tabagismo (o que significa evitar também os cigarros eletrônicos, ou vapes) é fundamental para a boa saúde. O mesmo vale para o consumo de álcool — hoje, sabe-se que não existe dose segura.
O câncer de pele é o tipo mais frequente no Brasil, e uma medida simples é capaz de preveni-lo: usar filtro solar todos os dias.
Por fim, envelhecer é um processo. Dessa forma, não basta pensarmos em nos movimentar apenas aos 59 anos, na véspera do aniversário de 60. Existem mudanças que, quanto antes realizadas, mais benefícios trarão. Mas, claro, nunca é tarde para concretizá-las, mesmo que o início do novo hábito ocorra após certa idade.
Quando assisti ao filme “Efeito Borboleta” pela primeira vez, cogitei que seu personagem principal fosse superpoderoso. Cresci, envelheci alguns anos e amadureci um pouco. Vejo que, para ele, a tentativa ingênua de controlar o incontrolável apenas gerava caos. No nosso caso, pelo contrário, temos, sim, um superpoder. Ao atuar no presente, cuidando melhor de nós mesmos, daqueles que amamos e também do nosso planeta, as borboletas irão voar rumo a um futuro melhor.