Além de aumentar as chances de um bom prognóstico, o diagnóstico precoce do câncer é fator fundamental para a sustentabilidade do sistema de saúde, segundo especialistas que participam nesta quinta-feira, 31, do evento “Retratos do Câncer”.
O diretor médico do A.C. Camargo Câncer Center, Antônio Antonietto, afirmou que o custo de um atendimento para tratar câncer em estágio 1 é 15 vezes menor do que um tratamento para a mesma doença em estágios mais avançados.
“Um atendimento completo para câncer em estágio 1 custa cerca de R$ 40 mil ao todo. Já para um câncer de estágio 3 ou 4, (o custo) vai para R$ 600 mil, provavelmente sem resultados tão bons quanto a gente teria se tivesse começado a tratar no estágio 1″, disse o médico no painel “Prevenção, Diagnóstico e Tratamento no Brasil: Avanços, Desafios e Sustentabilidade”.
Entre os desafios para diminuir o tempo para o diagnóstico da doença está a redução do tabu em relação a alguns procedimentos, como o exame de próstata e os colorretais — o câncer de próstata é o mais comum entre homens e o de intestino e reto, o segundo mais comum em homens e mulheres. Além da necessidade de constante atualização de protocolos de rastreio, já que alguns tipos de câncer se tornam cada vez mais comuns entre os mais jovens.
“Começa com informação (o combate ao câncer). Décadas atrás, nós não tínhamos muitas mulheres com câncer de pulmão, por exemplo. Mas começamos a ter à medida que as mulheres começaram a fumar. É preciso deixar isso claro”, disse Luisa Lina Villa, chefe do Laboratório de Inovação em Câncer do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Evento “Retratos do Câncer”, realizado pelo Estadão Blue Studio no Unibes Cultural, em São Paulo, conta com diversos painéis com especialistas em oncologia. Na foto, o painel “Prevenção, diagnóstico e tratamento no Brasil: avanços, desafios e sustentabilidade”. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Segundo Angélica Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), o impacto no sistema público de saúde “é enorme” à medida que o câncer se torna mais comum entre jovens, público menos alerta ao possível aparecimento de doenças e que não é incluído nos exames de rastreio.
Nos últimos dias, a divulgação da importância do exame de colonoscopia para a identificação precoce do câncer colorretal, por conta da morte da cantora Preta Gil aos 50 anos, levou a um aumento de 57% na busca por esse tipo de procedimento no Google, conforme dados do Google Trends.
Idades mínimas
De acordo com Angélica, há uma defasagem entre os padrões de início de exames e os dados mais recentes sobre as doenças. “É fundamental ajustar essas idades de rastreio e ser dinâmico, porque esses números mudam.”
O exame de mamografia, por exemplo, principal ferramenta para diagnosticar o câncer de mama, é indicado para rastreamento no Sistema Único de Saúde (SUS) em mulheres a partir dos 50 anos. Mas, diante do aumento do número de casos em mulheres na faixa dos 40 anos — hoje, cerca de 40% das pacientes têm essa idade — a Sociedade Brasileira de Mastologia já recomenda que o exame seja feito a partir dos 40.
Inteligência artificial
Diante dos desafios, Antonietto afirmou que o governo federal pretende utilizar inteligência artificial para aprimorar e acelerar diagnósticos de câncer, especialmente em áreas remotas, onde o acesso a especialistas é mais difícil.
O médico lembrou que, em parceria com o A.C. Camargo, estão sendo instalados scanners em diferentes regiões do Brasil para leitura de lâminas de exames para diagnóstico da doença.