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Sua mente é invadida por pensamentos sobre comida? Conheça o ‘food noise’

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Sua mente é invadida por pensamentos sobre comida? Conheça o ‘food noise’

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Sou nutricionista e gosto de comida – e isso, infelizmente, virou um diferencial em minha área

Você sofre com pensamentos persistentes sobre comida?

A nutricionista Desire Coelho explica o que é o “food noise” e como ele pode impactar o dia a dia. Crédito: Desire Coelho/Estadão e Motion Array

Recebi um áudio de uma paciente que acompanho há meses. Ela tinha começado recentemente o uso de uma medicação para o tratamento da obesidade. Chorando, me disse: “Eu nunca senti isso antes. Agora tem um silêncio na minha cabeça. Sobra espaço para pensar em outras coisas…”.

Ela não estava falando de emagrecimento em si, nem da balança. Estava falando de tranquilidade mental, algo que até então ela nem sabia que era possível. E ela não é a única.

Cada vez mais pacientes relatam esse mesmo efeito: a redução do que hoje é conhecido como “food noise”, termo que descreve os pensamentos repetitivos, obsessivos e desgastantes sobre comida. Normalmente temos esse tipo de pensamento quando estamos com fome física, mas não é esse o caso. Pessoas com food noise pensam o tempo todo em comida. O que comer, quanto, quando, como evitar, como resistir. É o tempo todo. É desgastante. É um barulho que não para.

É como se fosse o fundo de tela de um computador. Por mais que você esteja trabalhando em diferentes coisas, vira e mexe ele aparece, ele está sempre por lá e, para piorar a situação, ele “fala”, o que torna ainda mais difícil ignorá-lo.

Embora o food noise seja uma condição ainda sem critérios diagnósticos bem definidos, um recente artigo o definiu como “pensamentos persistentes sobre comida que são percebidos pela pessoa como indesejados e/ou disfóricos e podem trazer prejuízos ao indivíduo, incluindo problemas sociais, mentais e físicos”.

Estudos (Müller et al. Appetite, 2021 e Weingarten et al. Eating Behaviors, 2022) mostram, por exemplo, que o histórico de dietas restritivas, controle alimentar rígido e relação conturbada com o corpo podem estar relacionados com o quadro.

A grande novidade é que as novas medicações para o tratamento da obesidade, como liraglutida, semaglutida e tirzepatida, têm mostrado impacto direto sobre isso. Não apenas ajudam a reduzir o apetite e a ingestão calórica, mas parecem modular áreas do cérebro ligadas à recompensa alimentar, ao desejo e à capacidade de inibir comportamentos permissivos, ou seja, a capacidade de a pessoa “dizer não”.

Estudos com exames de imagem mostram que esses medicamentos reduzem a atividade de áreas do cérebro ligadas ao desejo por comida e à capacidade de tomada de decisão, como o hipotálamo e o córtex pré-frontal. Mais recentemente, um estudo mostrou que a tirzepatida ajuda a diminuir a fome hedônica e a fissura alimentar, facilitando o controle diante de estímulos alimentares. Esse poderia ser um dos possíveis mecanismos pelos quais essas mediações seriam capaz de diminuir o food noise.

Pensamentos repetitivos, obsessivos e desgastantes sobre comida dificultam as escolhas alimentares Foto: Viacheslav Yakobchuk/Adobe Stock

A ciência começa a entender o que pacientes relatam há muito tempo: para muitas pessoas, a comida aparece como um pensamento intrusivo, insistente, emocionalmente desgastante.

Como seria sua capacidade de fazer escolhas alimentares se sua mente pensasse obsessivamente sobre comida o tempo todo? Com certeza suas escolhas seriam muito mais difíceis. Para quem nunca viveu essa situação, fica muito fácil julgar, olhar de fora e dizer: “é só comer menos”, “é só se controlar”, “é só fechar a boca”…

Para uns a relação com o alimento é neutra, tranquila. Outros vivem em guerra com ele — e com o próprio cérebro –, tornando cada tomada de decisão muito mais desafiadora. É para esses casos que essas novas medicações representam um ponto de virada.

Isso não quer dizer que o tratamento da obesidade virou algo simples, que essas medicações são mágicas ou que não tenham efeitos colaterais importantes.

A verdade é que ainda temos muito a aprender sobre elas, inclusive no longo prazo. Mas elas trazem uma esperança e uma calma, especialmente para quem, além das dificuldades e problemas relativos à obesidade, vive ainda o sofrimento crônico e invisível do food noise.

Fonte: Externa

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