Síndrome do ovário policístico: conheça os sintomas, o tratamento e os mitos sobre a condição

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Síndrome do ovário policístico: conheça os sintomas, o tratamento e os mitos sobre a condição

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A síndrome do ovário policístico, também conhecida pela sigla SOP, é uma endocrinopatia, ou seja, uma disfunção no sistema endócrino e reprodutor que atinge de 6% a 19% das mulheres em idade reprodutiva, de acordo com documento do Ministério da Saúde, divulgado em 2020.

A SOP é marcada pela ausência de ovulação e ciclos menstruais irregulares ou ausentes. Além disso, os ovários passam a produzir de maneira errática e regular uma quantidade muito grande de hormônios masculinos, que provocam manifestações reprodutivas e metabólicas. Cistos nos ovários também são comuns.

Os sintomas da condição são presentes da primeira menstruação até a última.

Por ser uma condição que se apresenta de múltiplas formas, há muita desinformação sobre o assunto nas redes sociais, sobretudo em relação aos tratamentos. O Estadão ouviu especialistas em SOP para esclarecer 10 pontos sobre a síndrome.

1- Quais os principais sintomas da SOP?

Entre as principais características da síndrome estão irregularidade menstrual e excesso de hormônios masculinos em circulação, situação chamada de hiperandrogenismo. Como resultado, pode ocorrer, por exemplo, a presença exagerada de pelos em regiões não tão comuns nas mulheres, como rosto, busto, acima ou abaixo do umbigo, costas e região lombar. A acne regular é outra consequência comum em quem tem SOP.

O hiperandrogenismo também pode causar uma queda de cabelo que leva à calvície. “Felizmente, é o mais raro dos sintomas”, pondera a ginecologista Rosana Maria dos Reis, presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia na Infância e Adolescência da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Outra característica da SOP é a resistência à insulina, quando esse hormônio não consegue cumprir adequadamente sua função de levar a glicose do sangue para dentro das células, onde é usada como energia. De acordo com Ana Paula Beck, ginecologista do Einstein Hospital Israelita, esse sintoma está presente em até 70% das pacientes, independentemente do índice de massa corporal (IMC).

“O pâncreas chega a fabricar de 10 a 20 vezes mais insulina que o normal para compensar a falta de eficácia da insulina. E esse excesso do hormônio é que vai fazer o ovário funcionar mal”, descreve o endocrinologista Cristiano Barcellos, diretor do Departamento de Endocrinologia do Esporte e Exercício da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Ana Paula acrescenta que a resistência insulínica aumenta significativamente o risco de diabetes do tipo 2 em alguma fase da vida. “A prevalência é até quatro vezes maior em mulheres com SOP em comparação à população geral”, conta.

Segundo Rosana, a resistência insulínica também pode provocar acantose nigricans, que são manchas escuras em região de dobras, sendo mais frequente no pescoço, nas axilas, abaixo dos seios e na virilha.

2- SOP é sempre visível em ultrassom?

Em algumas mulheres, não, responde Rosana. Ou seja, nem sempre os ovários terão essa característica de apresentar múltiplos cistos.

Segundo a médica, há 100 anos, aqueles que descreveram a síndrome de fato observaram tal sintoma – daí porque o quadro ganhou esse nome. Mas a manifestação não é regra.

“O ovário policístico faz parte do diagnóstico da síndrome, mas não é a única característica”, resume Barcellos.

3- Há mais de um tipo de SOP?

Não, a SOP é uma única síndrome. O que acontece é que ela pode se manifestar de formas variadas.

Para fechar o diagnóstico, os médicos precisam confirmar dois de três critérios: irregularidade menstrual, manifestação de hiperandrogenismo e ovário com aspecto policístico.

Ana Paula explica que ciclos menstruais irregulares são definidos como intervalos superiores a 35 dias entre menstruação (oligomenorreia), ausência de menstruação por mais de 90 dias (amenorreia) ou ciclos imprevisíveis.

A ginecologista Rosana Maria dos Reis lista os quatro fenótipos da síndrome:

  • Fenótipo A: irregularidade menstrual, hiperandrogenismo e alteração policística no ultrassom.
  • Fenótipo B: irregularidade menstrual e manifestação de hiperandrogenismo, sem ter o achado de ultrassom.
  • Fenótipo C: manifestação de hiperandrogenismo, ultrassom com ovário policístico, mas ciclo menstrual regular.
  • Fenótipo D: irregularidade menstrual, ovário policístico, mas sem manifestação de hiperandrogenismo – nem clínica, nem laboratorial.

4- SOP sempre leva à infertilidade?

A infertilidade é comum na SOP por causa da ausência de ovulação todos os meses. Mas há tratamento.

Após uma avaliação minuciosa das possíveis causas de infertilidade – incluindo questões relacionadas ao parceiro –, a mulher afetada pela síndrome pode, com acompanhamento médico, fazer uso de remédios via oral para induzir a ovulação.

De acordo com Rosana, é possível acompanhar o pico ovulatório no consultório por meio de exames de ultrassom ou a partir de testes em formato de tirinhas.

5- Como é a barriga de quem tem síndrome do ovário policístico?

Mulheres com SOP têm predisposição ao aumento da gordura abdominal. Como elas produzem mais androgênio, a gordura fica predominantemente concentrada na região central do corpo, assim como acontece com os homens.

“Por isso elas notam que perdem a cintura mais rapidamente”, diz Rosana. “Por outro lado, mulheres que não têm essa alteração hormonal tendem a ganhar mais gordura no quadril”, compara a médica.

6- Todas as mulheres com SOP têm sobrepeso?

Não, mas a literatura científica cita que 60% delas têm obesidade ou sobrepeso. “Dependendo da população, é possível observar cifras até maiores”, comenta Rosana.

Ela alerta que o risco de alteração metabólica é maior quando as complicações da obesidade se somam às da SOP.

7- Alimentação equilibrada e exercícios ajudam no tratamento?

Sim. Segundo Barcellos, se a mulher fizer uma restrição calórica e exercício físico, observará uma melhora nos sintomas da SOP.

Rosana concorda e vai além: a médica ressalta que a mudança no estilo de vida é a primeira linha de tratamento. De acordo com a ginecologista, qualquer tipo de exercício traz benefícios – o crucial mesmo é praticá-lo com regularidade, isto é, pelo menos três vezes na semana e por 50 minutos.

“Isso facilita a entrada da glicose para dentro da célula. Também melhora a sensibilidade do receptor para a insulina”, descreve Rosana. O resultado é uma redução na resistência à ação do hormônio, o que alivia todos os sintomas.

8- Há alimentos específicos capazes de controlar o quadro?

Não, não existe ingrediente nem padrão alimentar específicos para SOP, enfatiza Barcellos. Para o endocrinologista, o importante é restringir as calorias. “A restrição calórica comum é a dieta mais simples, mais tranquila e é a que mais tem chance de ser mantida em longo prazo”, avalia.

Ana Paula concorda, mas acrescenta que a dieta deve ser individualizada, com ênfase em alimentos integrais, vegetais, proteínas magras e redução de açúcares simples e ultraprocessados.

Rosana destaca que maneirar no açúcar é especialmente necessário por causa da resistência insulínica observada na SOP.

9- Como é o tratamento? Basta usar anticoncepcional?

Não. O uso exclusivo de anticoncepcional atua no controle de alguns sintomas do hiperandrogenismo. O tratamento da SOP também inclui a modificação do estilo de vida, com prática de exercício físico e manutenção de uma alimentação equilibrada.

Segundo Rosana, uma das linhas de tratamento é com contraceptivo hormonal com estrogênio e progesterona, para regularizar a menstruação, fazer anticoncepção e bloquear os androgênios, melhorando as manifestações dermatológicas – acne e o crescimento de pelos.

Em mulheres que já possuem alguma complicação metabólica, como hipertensão arterial ou distúrbios de glicose (ligados à resistência à insulina), o estrogênio não é uma opção. A ginecologista orienta o uso do contraceptivo apenas com progesterona. Nesses casos, há indicação de associação com espironolactona, para bloquear o receptor de androgênio, e a metformina, para melhorar essa resistência insulínica.

Rosana informa que todas essas medicações estão disponíveis no sistema público de saúde, facilitando o acesso ao tratamento.

10- A síndrome pode desaparecer sozinha?

Não. A SOP é uma condição crônica, com manifestações que podem variar ao longo da vida, e que exige cuidado constante.

“Embora algumas mulheres possam apresentar melhora espontânea dos sintomas, especialmente com o envelhecimento e as mudanças hormonais, a maioria requer acompanhamento e manejo contínuos, principalmente para prevenção de complicações metabólicas e reprodutivas”, explica Ana Paula.

Barcellos alerta que a resistência insulínica, uma das características da síndrome, aumenta o risco de doenças cardiovasculares. E, ao contrário de outros sintomas da SOP, essa situação tende a piorar depois da menopausa. Daí a necessidade de monitoramento ao longo da vida.

Fonte: Externa