A sertralina é um dos antidepressivos mais receitados e utilizados no Brasil. A seguir, entenda como ela funciona, quais os efeitos esperados e os cuidados que seu uso exige.
Sertralina pode ser usada no tratamento de depressão, estresse pós-traumático, TOC, transtorno do pânico e casos de ansiedade Foto: Robin/Adobe Stock
Como a sertralina age?
O medicamento é de uso diário e pertence à classe dos chamados inibidores seletivos de recaptação de serotonina, neurotransmissor envolvido em diversas funções, incluindo a regulação do humor.
“Imagine uma pia em que você começa a fechar o ralo. A água vai se acumulando, certo? A sertralina funciona de forma parecida: ela impede que a serotonina volte para o neurônio, fazendo com que seus níveis se acumulem na fenda sináptica”, explica a psiquiatra Tânia Ferraz Alves, diretora do corpo clínico do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
De acordo com Tânia, o aumento da disponibilidade de serotonina causa uma redução na quantidade de receptores (downregulation) responsáveis por retirar esse neurotransmissor da fenda sináptica, além de uma série de modificações secundárias.
É por conta dessas modificações que os antidepressivos não têm um efeito imediato. “Habitualmente, podemos perceber uma pequena melhora. Às vezes no sono, às vezes no apetite, mas muito discreta. Os efeitos terapêuticos costumam aparecer entre quatro e seis semanas. Também depende da dose. Não há uma dose padrão, como os antibióticos. A gente tem que achar a dose do paciente”, diz a psiquiatra.
Remédio não é usado apenas para depressão
O uso do medicamento não se restringe a pessoas diagnosticadas com depressão. “O nome antidepressivo é ruim”, destaca Tânia. “A sertralina vai agir em vias serotoninérgicas. Então, também vai servir para estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno do pânico e para vários casos de ansiedade, além da depressão.”
“O nome acaba passando a ideia de que é apenas para tratar a depressão, mas funciona para vários quadros”, acrescenta.
Quais os efeitos colaterais?
Apesar de existirem, os efeitos colaterais da sertralina são menores do que de outros medicamentos. Por conta disso, ela costuma ser uma das primeiras opções após o diagnóstico de depressão. “De forma geral, eles são mais frequentes no começo do tratamento e a maioria (dos pacientes) cria uma tolerância”, diz Tânia.
Segundo a psiquiatra, os efeitos colaterais mais comuns envolvem inapetência, enjoo e um pouco de dor de cabeça no início do tratamento. Em certos casos, o sono também pode ser afetado, tanto com insônia quanto com sonolência, e o intestino pode ficar mais solto ou preso.
“Algumas pessoas podem ter um pouco de tremor, principalmente em doses mais altas. Uma coisa que é rara e costuma ser mais frequente em pessoas com ansiedade associada é uma piora inicial dos sintomas ansiosos, mas que passa em 24 a 48 horas. Outro efeito, que talvez seja mais difícil, é a questão da disfunção sexual. Alguns pacientes podem ter uma diminuição de libido, um retardo orgástico, mas na grande maioria isso não acontece”, detalha.
Risco de dependência é baixo
De acordo com Josélia Frade, coordenadora do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos do Conselho Federal de Farmácia (CFF), o uso de sertralina não está associado à dependência química ocasionada por certos medicamentos, álcool ou drogas ilícitas. O corpo, no entanto, pode se acostumar com o fármaco e, por isso, a interrupção brusca deve ser evitada.
“A interrupção do uso da sertralina pode causar sintomas de abstinência, como insônia, náuseas, tontura, irritabilidade, ansiedade e sensações estranhas, como ‘choques’ na cabeça. Por isso, a interrupção deve ser gradual e orientada por um médico, que vai reduzir a dose aos poucos para evitar esses efeitos”, explica.
Existem contraindicações?
As contraindicações são poucas e incluem a hipersensibilidade ou alergia ao medicamento. Pessoas com problemas no fígado podem precisar de maior atenção, mas o uso não é proibido. “Nesse caso, pode ser necessário fazer um pequeno ajuste de dose porque a sertralina é metabolizada pelo fígado, mas é uma medicação de uso bem seguro”, pontua Tânia.
O que pode acontecer e exige cuidado são as interações entre medicamentos. A sertralina não deve ser tomada em períodos próximos aos da ingestão de certas substâncias. Por exemplo, ela não pode ser usada em conjunto com inibidores da monoaminoxidase (IMAOs), uma outra classe de antidepressivos.
Entre os principais problemas que podem surgir ao associar a sertralina com outros medicamentos ou substâncias destacam-se:
- Risco aumentado de síndrome serotoninérgica: especialmente quando combinada com substâncias como erva-de-são-joão, fluoxetina, paroxetina, escitalopram, amitriptilina, nortriptilina, venlafaxina, duloxetina, bupropiona, lítio, tramadol, linezolida, selegilina, fenelzina, tranilcipromina, sumatriptana, rizatriptana, zolmitriptana, naratriptana, eletriptana, almotriptana e suplementos de triptofano (5-HTP).
- Maior risco de sangramentos, sobretudo no estômago e intestino: quando usada junto a ácido acetilsalicílico, ibuprofeno, diclofenaco, naproxeno, clopidogrel ou varfarina.
- Aumento da concentração de sertralina no organismo: em combinação com carbamazepina ou fenitoína.
- Potencial para sonolência excessiva, tontura, confusão mental e rebaixamento do humor: ao ser associada ao consumo de álcool.
Quanto custa?
O valor do medicamento pode variar dependendo da dosagem, marca e local de compra, mas geralmente uma cartela com 30 comprimidos de 50 mg custa entre R$ 24,90 e R$ 79,90, enquanto uma cartela de 100 mg pode variar entre R$ 69,90 e R$ 74,90, de acordo com valores consultados em sites de farmácias.