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Se para emagrecer ‘é só ter força de vontade’, por que tem tanto magro usando remédio?

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Se para emagrecer ‘é só ter força de vontade’, por que tem tanto magro usando remédio?

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Pessoas magras estão usando remédios para perder poucos quilos; além de irônico, pode trazer riscos

Segundo a nutricionista Desire Coelho, colunista do Estadão, esses mesmos indivíduos sempre defenderam que, para emagrecer, “basta ter força de vontade”.

Desenvolvidos inicialmente para o tratamento do diabetes tipo 2, medicamentos como Ozempic, Mounjaro e similares têm revolucionado o tratamento da obesidade e de doenças associadas. Pela primeira vez na história, a medicina conta com drogas que, além de promover emagrecimento, entrega benefícios reais à saúde na população estudada. Mas, apesar do entusiasmo, ainda sabemos pouco sobre os efeitos de longo prazo em pessoas fora do escopo dos estudos – primordialmente aquelas com IMC (índice de massa corporal) acima de 30, o que caracteriza a obesidade, ou com IMC acima de 25 associado à presença de comorbidades – isto é, doenças e alterações ligadas ao excesso de adiposidade.

Como sempre acontece com drogas revolucionárias, surge a questão do uso indiscriminado. Neste caso, estamos vendo pessoas recorrendo a essas medicações para eliminar poucos quilos, com fins puramente estéticos — entre elas, estão influenciadores que adoravam afirmar que “para emagrecer é só fechar a boca”.

Pessoas magras estão recorrendo às canetas emagrecedoras para perder poucos quilos, comportamento que tem efeitos desconhecidos Foto: Lana Pietukhova/Adobe Stock

A ironia é evidente: esses indivíduos que apontaram o dedo para quem sofre com obesidade durante anos, agora fazem uso de remédios cujos efeitos no longo prazo ainda são desconhecidos – e para pequenas perdas de peso. A pessoa encontra justificativas para seu uso estético, mas condena quem tem obesidade pela “falta de força de vontade” para emagrecer. Será que perder 5 quilos é mais difícil que perder 30?

É fácil julgar o outro quando não se compreende a complexidade do metabolismo, da genética e do comportamento alimentar. Já escrevi nesta coluna sobre os diferentes fenótipos metabólicos. Existem os “gastadores”, com metabolismo acelerado, que têm dificuldade de ganhar peso e facilidade de emagrecer. Na outra ponta, temos os “poupadores”, que acumulam gordura com facilidade e enfrentam enormes barreiras fisiológicas para perdê-la. A maioria de nós está no meio do caminho, com um corpo que responde à média do que fazemos. Esses fenótipos são determinados, em grande parte, por fatores genéticos — aqueles que herdamos e sobre os quais não temos controle. Entender isso nos ajuda a realinhar expectativas e a respeitar a individualidade de cada corpo.

Pessoas com obesidade, em especial nos graus mais elevados, geralmente têm o fenótipo de poupadoras. E elas frequentemente se sentem envergonhadas por recorrer aos medicamentos, quando são justamente as que mais se beneficiam deles. Já aquelas com o corpo dentro (ou muito próximo) do que a sociedade considera “ideal” – os gastadores ou intermediários – parecem não pensar duas vezes antes de utilizar os remédios.

A pergunta que fica é: quais serão as consequências desse uso por aqueles que não precisam? Algumas hipóteses começam a se desenhar.

Uma delas ouvi recentemente e adorei: a “viuvez do peso mínimo”. Seria mais ou menos assim: pessoas adotam como meta o menor peso possível e, com a medicação, perdem tanto gordura quanto massa magra. Chegam a um ponto extremo, que o corpo não sustentaria naturalmente. Quando param a medicação, o peso volta e, junto com ele, a frustração. Isso pode gerar um ciclo de reuso, dependência emocional e um padrão de comparação contínuo com um corpo que não é sustentável – e, muitas vezes, sequer saudável.

Outra hipótese vem de estudos clássicos sobre dietas restritivas: ao passar por períodos de escassez, o corpo tende a reagir acumulando mais gordura do que antes. Isso é conhecido como “fat overshoot”, ou ganho compensatório de gordura, e foi observado em diversos experimentos, como no famoso Estudo de Minnesota. O efeito parece estar diretamente relacionado ao peso inicial da pessoa: quanto mais magra, maior o ganho compensatório. Em resumo, o indivíduo vê o ponteiro da balança despencar, mas seu corpo passa a trabalhar para ganhar mais peso e gordura do que os valores eliminados inicialmente. Ainda que seja um modelo extremo, ele nos alerta: mexer com o sistema de regulação do peso tem consequências.

Fora o reganho do peso corporal, outros fatores são preocupantes: o risco de desequilíbrio metabólico, desnutrição, perda de massas óssea e magra, além de fragilidade no envelhecimento são algumas das possibilidades pouco compreendidas com o uso crônico dessas medicações.

Na verdade, o que faltou não foi força de vontade das pessoas com obesidade, mas sim conhecimento, letramento científico e, acima de tudo, empatia daqueles que as julgavam.

Fonte: Externa

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