Um novo colírio aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, pode ser uma alternativa temporária ao uso de óculos de leitura para pessoas que convivem com presbiopia, quadro chamado popularmente de ‘vista cansada’ e que dificulta enxergar de perto.
O grande diferencial do medicamento, batizado de Vizz, é o tempo de duração do efeito: até 10 horas. Em 2021, outro medicamento com a mesma proposta, o Vuity, também foi aprovado pela FDA, mas com ação de até seis horas.
Apesar dos benefícios, os colírios não substituem totalmente o uso de óculos. Foto: dragonstock/Adobe Stock
Na Europa, os princípios ativos dos colírios, aceclidina (Vizz) e pilocarpina (Vuity), foram usados por mais de 50 anos para o tratamento do glaucoma.
“Hoje, (essas substâncias) não são mais usadas, temos drogas melhores para isso. Mas ambos os medicamentos tinham um efeito colateral no tratamento do glaucoma: faziam com que a pupila ficasse muito pequena. Normalmente, ela vai ter uns 4 milímetros (mm) de diâmetro. Com o uso desses colírios, vai para 2 mm. Esse efeito colateral faz com que a visão para perto fique melhor”, detalha Wallace Chamon, professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
De acordo com Halim Féres Neto, oftalmologista e membro do CBO, os colírios agem de forma parecida com câmeras fotográficas: ao diminuir o tamanho da pupila, eles aumentam a profundidade de foco. “Ao fazer isso, o paciente consegue ter uma visão um pouco mais nítida para perto.”
Cabe destacar que a vista cansada é uma condição comum a partir dos 40 anos. “É uma coisa natural, não é uma doença. Todas as pessoas vão apresentar. Alguns fatores fazem com que a pessoa apresente antes, como a hipermetropia, e outros fazem ter um pouco mais tarde, como a miopia”, explica Chamon.
Em testes clínicos, os primeiros efeitos do Vizz foram notados cerca de 30 minutos após a aplicação. No grupo tratado, 71% dos voluntários conseguiram ler com clareza sem comprometer a visão à distância, contra menos de 12% no grupo placebo.
Existem riscos e efeitos colaterais?
Segundo Chamon, cerca de 10% dos pacientes podem ter uma sensação de pressão, dores e vermelhidões nos olhos. Um outro possível efeito é a diminuição da qualidade de visão em ambientes pouco iluminados. “Como a pupila fica pequena, entra menos luz no olho.”
É importante mencionar a possibilidade de doenças associadas. ”Também não vai acontecer com todos os pacientes, mas alguns deles têm maior risco de descolamento de retina, que é uma doença séria. O uso desse tipo de colírio pode aumentar a chance desse tipo de complicação em até duas vezes”, destaca o professor.
“Por isso, os pacientes não devem usar esses colírios sem antes serem avaliados por um oftalmologista, para verificar se não apresentam risco aumentado para o quadro”, adiciona.
Neste momento, o recado vale principalmente para quem faz viagens ao exterior, já que o produto ainda não está disponível no Brasil.
Os colírios podem substituir definitivamente os óculos?
Apesar dos benefícios, os colírios não substituem totalmente o uso de óculos. Um dos motivos é a dificuldade em enxergar de noite ou em ambientes pouco iluminados. Outro fator tem a ver com a duração do efeito – no caso do Vizz, de 10 horas.
Mas, para determinadas atividades, o uso é especialmente bem-vindo. Um exemplo é a prática de esportes.
“Tenho um paciente que é triatleta, e durante a prática esportiva ele precisa olhar o relógio, o controle da bicicleta, mas não conseguia enxergar. Tentamos um óculos, mas, como ele tem que nadar e a bicicleta é muito agitada, não dava certo. Então, optamos pelas lentes de contato, mas elas incomodavam. Daí, como ele faz as atividades ao ar livre, com abundância de luz, o uso do colírio foi excelente para ele”, exemplifica Chamon. O paciente teve acesso ao medicamento após o médico solicitar a formulação em uma farmácia de manipulação.
“Então, basicamente, para aqueles pacientes que não têm riscos adicionais para o descolamento de retina e que ficam em ambientes bem iluminados, os medicamentos são úteis”, resume.