Nos últimos anos, as canetas injetáveis para tratamento da obesidade, como Wegovy e Mounjaro, ganharam destaque por seus efeitos na perda de peso e na proteção contra problemas cardiovasculares, entre outros benefícios. O valor dos medicamentos, no entanto, pode afastar os pacientes: eles podem custar mais de R$ 1,7 mil.
Mas os análogos de GLP-1, classe à qual pertencem as canetas, não são a única opção no mercado. Existem medicamentos mais baratos que podem ajudar no tratamento da obesidade, doença crônica complexa que afeta milhões de brasileiros.
Além dos análogos de GLP-1, existem outros medicamentos para tratamento da obesidade Foto: Iuliia Pilipeichenko/Adobe Stock
Segundo Marcio Mancini, coordenador do Departamento de Farmacologia da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), essas alternativas ainda são muito úteis, principalmente por conta do custo. “Esses remédios estão no mercado porque estudos mostraram que eles são eficazes no tratamento da obesidade”, diz.
“Os medicamentos podem, inclusive, ser associados ao tratamento com os injetáveis, não há nenhuma contraindicação. Podem potencializar a perda de peso”, adiciona Mancini, que também é membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
Ele ressalta, porém, que a redução de peso com os medicamentos é inferior à das canetas e que sua eficácia na redução das comorbidades é menor — algumas opções, inclusive, podem aumentar a pressão arterial. Outro ponto que vale reforçar: essas substâncias devem ser prescritas por um profissional de saúde e utilizadas com acompanhamento.
Sibutramina
Uma das opções no mercado é a sibutramina, com valores que variam de R$ 30 a R$ 120. “A principal função da sibutramina é diminuir a vontade de comer carboidratos e doces, porque ela tem um efeito serotoninérgico e noradrenérgico”, afirma Paulo Rosenbaum, endocrinologista do Einstein Hospital Israelita.
“Ela vai dar um poder de saciedade, mas a perda de peso e os resultados são inferiores em comparação com as canetas”, afirma.
O principal efeito colateral do remédio é o risco cardiovascular. Em pacientes com hipertensão ou diabetes, por exemplo, ele pode aumentar a pressão arterial e frequência cardíaca. Por conta dos riscos, a sibutramina chegou a ser retirada do mercado europeu em 2010, após uma determinação da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
Orlistate
Outra opção é o orlistate, antes chamado de xenical, com preços que variam entre R$ 47 e R$ 274. “Esse medicamento diminui a absorção de gordura no intestino, levando a uma perda de peso em pessoas que ingerem uma quantidade maior de gordura”, detalha Rosenbaum.
Ele destaca que a perda de peso é pequena, de cerca de 2,5 a 3%, e que os efeitos colaterais incluem flatulência e diarreia. Por conta disso, o medicamento é pouco utilizado na prática clínica.
Bupropiona e naltrexona
A associação de bupropiona e naltrexona, chamada comercialmente de Contrave, também pode ser usada no tratamento. O primeiro atua como um antidepressivo e pode ajudar a reduzir o apetite, enquanto o segundo é frequentemente usado no tratamento de dependência química e álcool, mas tem sido associado à redução de desejos compulsivos por alimentos.
“(A associação) tem um bom resultado em termos de perda de peso. A principal indicação é para indivíduos que têm uma certa compulsão, porque ele tem uma ação no mecanismo de recompensa”, pontua Rosenbaum. Cada caixa custa entre R$ 600 e R$ 700.
Uso combinado de medicamentos
A combinação da sibutramina com topiramato — medicamento usado principalmente para tratar epilepsia e enxaqueca, mas que também gera perda de peso — é um outro método que pode ajudar no tratamento da obesidade, segundo um estudo conduzido por pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
A combinação já vinha sendo usada de forma off-label na prática clínica, mas havia pouca informação sobre sua segurança e eficácia. “A sibutramina e o topiramato levam à perda de peso quando usados isoladamente, mas a associação dos dois leva a uma perda de peso muito maior. Por isso a gente resolveu fazer o levantamento”, explica a endocrinologista Maria Edna de Melo, uma das autoras do estudo e médica do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do HCFMUSP.
Os resultados apontam uma perda de peso de 11% em média, próxima à de alguns estudos com as canetas. A tirzepatida (Mounjaro) tem uma estimativa de perda de peso que varia entre 15% e 22%. A semaglutida (Wegovy) apresenta uma redução estimada de 10% a 15%, enquanto com a liraglutida a diminuição varia entre 5% e 8%.
O estudo incluiu 246 pacientes com 18 anos ou mais. Todos apresentavam índice de massa corporal (IMC) superior a 30 kg/m² ou acima de 27 kg/m², desde que tivessem pelo menos uma comorbidade, como diabetes tipo 2, hipertensão ou dislipidemia. Eles usaram a combinação por, pelo menos, três meses.
Os participantes receberam orientação para seguir uma dieta hipocalórica e foram incentivados a praticar atividade física regularmente. Além disso, foram acompanhados por uma equipe formada por endocrinologistas e nutricionistas.
Entre os efeitos colaterais, foram relatados formigamento nas mãos e nos pés, diminuição de memória e aumento da pressão arterial. “Interrompemos o uso da medicação em 24% dos pacientes. Em estudo clínico, é uma média comum”, diz Maria Edna.
Segundo a pesquisadora, a combinação não é recomendada para pacientes com alto risco cardiovascular, com quadro psiquiátrico grave, hipertensão ou glaucoma. Ela também não deve ser usada por gestantes.