De acordo com o relatório “Inter Forecast”, do Inter, o juros altos tendem a ficar por mais tempo no Brasil. O documento aponta que, apesar da inflação
em março menor que o esperado e indicadores prévios de abril não apontarem mudança na tendência de queda, o balanço de riscos deteriorou nas últimas semanas, tanto pelo cenário externo como doméstico.
“Revisamos nossa projeção de Selic para o final de 2024 de 8,50% para 9,25%, mas mantemos em 8,5% a taxa terminal em 2025”, aponta o relatório.
Segundo o levantamento, a discussão do corte no próximo Comitê de Políticas Monetárias (Copom) do Banco Central em maio deve ficar em aberto, apesar do guidance na última ata, e dependente da evolução dos dados nas próximas semanas, principalmente os que afetam o cambio e as expectativas de inflação futura.
O Inter afirma que, mesmo com esse cenário, mantém a expectativa de corte de 0,50 ponto percentual (p.p.) em maio, mas com uma desaceleração para 0,25 p.p
na reunião seguinte e encerrando 2024 em 9,25%.
“Entendemos que uma deterioração maior do cenário pode resultar em uma adoção de um ritmo menor de corte pelo Copom, já em maio, mantendo o tom de cautela desde o início do ciclo”, avalia.
Este ambiente de incertezas não alterou a expectativa para a inflação. Conforme consta no relatório do Inter, o índice se manteve em 3,9% para esse ano, apesar da surpresa de baixa em março.
A mudança no patamar de câmbio, segundo a avaliação, deve trazer algum impacto nos próximos meses, compensando em parte a desaceleração nos preços dos alimentos que vimos entre março e abril.
“Para 2025, também mantemos a expectativa em 3,5%, apoiada no maior aperto monetário que perdurará ao longo de 2024 impactando a retomada do crédito e do consumo”, pontua.
A preocupação com o risco fiscal aumentou após o anúncio de revisão da meta para 2025, revela o documento do Inter.
Nas últimas semanas, os dados das contas públicas voltaram a preocupar o investidor. O crescimento dos gastos continua elevado, 6% real nos primeiros meses do ano (excluindo o pagamento antecipado dos precatórios em fevereiro).
Mas, a revisão de meta de superávit primário para 2025, de 0,5% para 0%, trouxe um cenário de maior afrouxamento das regras, o que significa que não haverá gatilhos para conter alta de gastos acima do orçado.
“Mantemos a projeção de déficit de R$ 100 bilhões para 2024 e R$ 60 bilhões em 2025 (déficit primário de 0,9% e 0,5% respectivamente), mas uma nova frustração pelo lado da receita pode levar a um resultado ainda pior. Vale ressaltar que o déficit nominal tem aceleração ainda maior e ultrapassou R$ 1 trilhão em 12 meses em fevereiro, acima de 9% do PIB, devido ao elevado custo de dívida que terá nova pressão com a alta de juros observada no mercado”, destaca o documento.
O relatório da instituição revisamos também a expectativa para a taxa de cambio — de R$ 4,90 para R$ 5,00 em 2024 e de R$ 4,95 para R$ 5,05 em 2025.
No cenário externo, o adiamento da expectativa de queda de juros pelo Fed pressionou as taxas de juros lá fora, o que por sua vez impactou o câmbio em mercados emergentes.
“O cenário é de maior incerteza com relação à trajetória da inflação americana, com a atividade ainda aquecida e principalmente o mercado de trabalho. Com juros maiores por mais tempo por lá, o cenário base hoje é de início do ciclo de cortes somente no segundo semestre”, conclui.