Silencioso, muitas vezes inicialmente confundido com gripe comum ou crise de asma, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) representa risco crescente à saúde de adultos mais velhos, especialmente os com doenças crônicas. Associado à infância, o vírus agora aparece nas estatísticas de hospitalizações e óbitos em pessoas com mais de 60 anos — faixa etária que muitas vezes só recebe o diagnóstico com o quadro agravado.
Segundo estudo baseado em dados brasileiros ao longo de uma década, idosos com comorbidades infectados pelo VSR apresentaram altas taxas de internação em UTIs e letalidade. No Brasil, dados publicados no final do mês de maio de 2025 mostram que 28% dos óbitos por VSR ocorreram em adultos com 65 anos ou mais.
Vírus Sincicial Respiratório representa risco crescente à saúde de adultos mais velhos, especialmente os com doenças crônicas. Foto: Getty Image
“Os idosos com essas comorbidades normalmente são pessoas com maior suscetibilidade a complicações clínicas, como um todo. Diante da infecção do vírus sincicial respiratório, eles são muito mais suscetíveis a complicações. A baixa reserva funcional desses idosos com comorbidades acaba transformando essa doença em algo mais arrastado, com maior possibilidade de hospitalização e consequentemente com maior mortalidade”, explica o geriatra Marcelo Altona, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Dados confirmam: indivíduos com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) têm até 13 vezes mais risco de hospitalização por complicações do VSR; portadores de ICC, até 7,6 vezes; diabéticos, 6,4 vezes; e pessoas com asma, 3,6 vezes.
E mais: a circulação intensa do vírus no outono e inverno agrava o risco de surtos simultâneos com Influenza e SARS-CoV-2. Os sintomas semelhantes dificultam o diagnóstico precoce e o início do tratamento adequado.
A ameaça invisível do subdiagnóstico
O VSR é um dos principais causadores da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), mas raramente é a primeira hipótese diante de idosos com tosse, febre e falta de ar. A ausência de protocolos claros para testagem e o desconhecimento sobre a existência da vacina contribuem para o subdiagnóstico.
Dados do SIVEP-Gripe mostram que 1 a cada 5 pacientes hospitalizados com VSR acima de 60 anos pode evoluir para óbito. Na semana epidemiológica 21 de 2025, mais de 47% dos óbitos por SRAG em idosos não tiveram agente identificado. “O que dificulta a testagem adequada é, muitas vezes, não reconhecer o VSR como potencial causador daquela infecção”, diz Altona. Por isso, a educação em saúde é essencial. “Acho que os profissionais de saúde podem ajudar a disseminar a informação falando a respeito do VSR em adultos, levando a informação para o paciente, discutindo sobre prevenção e apresentando vacinação como opção importante nessa prevenção”, avalia o especialista.
Prevenção e futuro
Embora o Brasil ainda não inclua vacinas do VSR no calendário nacional, a vacinação contra VSR é uma estratégia importante na prevenção da doença. “A vacinação é um ponto de importância no cuidado do VSR, especialmente nessa população com comorbidades e em idosos, e também nas mulheres grávidas. A vacina pode diminuir a gravidade da doença, internações e mortes”, afirma o especialista.
Junto à vigilância epidemiológica, testagem e atenção aos grupos de risco, vacinas podem auxiliar na prevenção de quadros graves de VSR. “Não existe motivo para desespero. O importante é focar na prevenção e saber que todo quadro de infecção respiratória no idoso com comorbidades deve ser mais bem avaliado. O principal segredo é monitorar e ficar muito atento aos sinais de piora clínica, e procurar o serviço médico para uma melhor avaliação”, conclui.