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Consumo de carne processada pode aumentar o risco de demências, aponta estudo

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Consumo de carne processada pode aumentar o risco de demências, aponta estudo

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Uma pesquisa realizada ao longo de mais de quatro décadas nos Estados Unidos apontou que quanto maior o consumo de carne processada, maior o risco de desenvolver declínio cognitivo e doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Harvard, foi publicado na última quarta-feira, 15, na Neurology, revista científica da Academia Americana de Neurologia.

Para investigar o impacto da dieta sobre o risco de demência, os pesquisadores acompanharam 133.771 profissionais de saúde, com idade média de 49 anos – ninguém tinha demência no início do estudo. Durante 43 anos, os participantes registraram seu consumo alimentar regularmente, especificando os tipos e a frequência dos alimentos consumidos.

No grupo “carne vermelha”, foram consideradas as carnes bovina, suína, de cordeiro e hambúrgueres. Já a “carne processada” incluiu alimentos como bacon, linguiça, salsicha, salame e mortadela.

Os resultados revelaram que aqueles que consumiram, em média, 0,25 porções diárias de carne processada apresentaram um risco 13% maior de desenvolver demência em comparação a quem comia pouca ou nenhuma carne processada. Para ter ideia, essa quantidade equivale a cerca de 20 gramas, o que corresponde, por exemplo, à meia unidade de salsicha, segundo a nutricionista Lara Natacci, pós-doutorada pela Universidade de São Paulo (USP). É o equivalente também a duas fatias de mortadela ou presunto e a quatro rodelas de salame.

Esses indivíduos ainda apresentaram um risco 14% maior de relatar declínio cognitivo subjetivo — nesses casos, embora existam queixas cognitivas, como problemas de memória, as pessoas mantêm um desempenho normal nos testes neuropsicológicos.

Além disso, a cada porção adicional de carne processada consumida por dia, o envelhecimento cognitivo foi acelerado em até 1,69 anos.

Em estudo, o consumo diário de 21 gramas de carne processada, o equivalente à meia unidade de salsicha, foi ligado a um aumento no risco de demência Foto: Giovanni.Seabra/Adobe Stock

E a carne vermelha?

O consumo desse grupo também teve impacto, embora menos expressivo. No caso do risco de demência, os resultados não mostraram associação significativa. Por outro lado, participantes que consumiam uma porção ou mais de carne vermelha por dia (ou 85 gramas, o equivalente a um bife do tamanho de uma carta de baralho) apresentaram um risco 16% maior de relatar declínio cognitivo subjetivo em relação àqueles que ingeriam menos de 0,50 porção.

Vale ressaltar que, antes de chegar nessas conclusões, os pesquisadores levaram em consideração fatores como idade, histórico de doenças crônicas e estilo de vida, que podem influenciar no surgimento das doenças neurodegenerativas.

“A carne vermelha é rica em gordura saturada e foi demonstrado, em estudos anteriores, que aumenta o risco de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, que estão diretamente ligadas à piora da saúde cerebral”, disse o nutricionista Dong Wang, principal autor da investigação, em comunicado à imprensa.

Por outro lado, a pesquisa também apontou que a substituição da carne processada por uma porção diária de nozes e leguminosas levou a uma redução de 19% no risco de demência e 1,37 anos a menos de envelhecimento das funções cerebrais.

A troca por peixe mostrou resultados ainda melhores, com uma redução de 28% no risco de demência e 51% no risco de comprometimento cognitivo subjetivo. Já a substituição por aves reduziu o risco de demência em 16% e atrasou o envelhecimento cognitivo em 1,33 anos.

Carne vermelha x processada

É válido reforçar as diferenças entre os dois grupos. As carnes processadas, turma formada por salsicha, presunto, bacon e linguiça, concentra gorduras saturadas, sódio e uma gama de aditivos químicos. Em geral, a recomendação dos nutricionistas é para que as pessoas evitem esse tipo de produto no dia a dia, reservando-os apenas a ocasiões especiais.

Já a carne vermelha fresca, seja de boi, porco ou cordeiro, só tende a ser ligada a problemas quando há exagero. Por isso, os especialistas defendem uma redução em sua participação no cardápio semanal, e não a eliminação completa. Até porque ela não apresenta apenas gordura saturada – oferece ainda proteínas e muitos minerais, como fósforo, magnésio, potássio, zinco e, principalmente, o ferro.

“A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês), por exemplo, recomenda não ultrapassar 500 gramas de carne cozida por semana”, destaca a nutricionista Giselle Vitto Reis Pereira, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em entrevista recente ao Estadão.

É fundamental tentar seguir essas recomendações, afinal, diversos estudos já associaram o consumo de carnes processadas e também o exagero na ingestão de carne vermelha a impactos negativos na saúde, como diabetes do tipo 2, problemas cardíacos, acidente vascular cerebral (AVC) e até alguns tipos de câncer. “No caso do declínio cognitivo, há indícios de que sobretudo as carnes processadas podem, em longo prazo, causar inflamação neural e estresse oxidativo”, afirma o neurologista Diogo Haddad, head do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Em documento com princípios básicos da alimentação saudável, divulgado em novembro de 2024, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deu destaque para essa orientação de controle no consumo da carne, reforçando a importância de colocar mais proteínas de origem vegetal na rotina – como apontado também na pesquisa de Havard. “Dietas com maior presença de alimentos como leguminosas, grãos integrais e oleaginosas contribuem para a redução de fatores de risco associados a doenças como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares”, diz o documento.

Apesar dessas descobertas, cabe destacar que evitar carnes processadas ou maneirar na carne vermelha não garante que alguém estará livre da demência no futuro. “Estamos nos referindo à diminuição da probabilidade de desenvolver a condição, e não em sua eliminação completa. Além disso, outros aspectos, como a genética, também desempenham um papel significativo [no surgimento de demência]”, destaca o neurologista do Hospital Albert Einstein, Marcel Simis.

Limitações

Na opinião do neurologista, a metodologia utilizada pela pesquisa é interessante. Mas ainda se trata de um estudo observacional, isto é, que não estabelece uma relação definitiva de causa e efeito.

Haddad alerta ainda que, embora os pesquisadores tenham se preocupado em eliminar variáveis capazes de interferir nos resultados (como doenças preexistentes ou hábitos de vida, a exemplo do tabagismo), é difícil garantir que isso seja 100% controlado.

Outro ponto é que o consumo de carne, bem como os sintomas associados ao declínio cognitivo, foram registrados com base no autorrelato dos participantes, o que pode render uma certa imprecisão.

“Pode ter acontecido de as pessoas, principalmente por serem profissionais de saúde, terem ficado envergonhadas de relatar determinados hábitos alimentares”, observa a geriatra Claudia Suemoto, da Universidade de São Paulo (USP). “Além disso, eles selecionaram apenas profissionais de saúde, americanos e brancos, o que acaba deixando o questionamento: será que o resultado seria o mesmo para diferentes pessoas e culturas?”.

Apesar das limitações, Simis reforça que a pesquisa traz uma evidência científica importante e que, sobretudo, reforça uma série de estudos que caminham no mesmo sentido. “Dá um peso ainda maior ao que já vem sendo demonstrado aos poucos: que o consumo elevado de carne vermelha, especialmente as processadas, pode ser prejudicial à saúde. A melhor orientação segue sendo reduzir o consumo de carne vermelha e, sempre que possível, evitar as processadas”.

Fonte: Externa

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