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Conhece o paradoxo da atividade física? Conceito mostra que nem sempre ela é benéfica; entenda

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Conhece o paradoxo da atividade física? Conceito mostra que nem sempre ela é benéfica; entenda

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Faz pouco mais de um ano que tenho o privilégio de usar um espaço nobre como este para disseminar a apaixonante e complexa ciência do exercício. Em quase todos os vinte e tantos textos que já escrevi, tenho feito questão de destacar, talvez até de forma insistente demais, o quanto a atividade física é importante para a saúde.

A lista de benefícios é enorme, e é difícil pensar em um órgão ou tecido biológico que não seja impactado positivamente pela prática regular. Alguns autores chegam a comparar a atividade física com a sonhada, porém inexistente, polipílula: um medicamento que, sozinho, seria capaz de curar todos os males. O exercício, claro, não faz isso, mas é uma das mais potentes estratégias de prevenção de diversas doenças crônicas, incluindo as cardiovasculares, as metabólicas e até alguns tipos de câncer. Não à toa, a literatura científica é quase unânime em mostrar seu impacto significativo na redução da mortalidade.

Pelas diretrizes oficiais, quanto mais nos mexermos, melhor. Vale tudo: desde “petiscos” de exercício (alguns segundos de atividade intensa realizados ao longo do dia de trabalho para interromper longos períodos sem movimentação) até descer do ônibus alguns pontos antes do seu destino e completar o percurso a pé. A ideia é que se mexer é sempre bom, independentemente do contexto.

Essa ideia, obviamente, não está errada. Mas há importantes nuances que devem ser consideradas. O contexto em que a atividade física é praticada importa bastante, a ponto de fazer com que seus benefícios à saúde sejam perdidos ou, pior, convertam-se em prejuízos. Sim, eu sei que soa muito paradoxal associar a prática de atividade física à piora de saúde, mas é exatamente disso que estou tratando: do fenômeno conhecido como paradoxo da atividade física.

Atividade física não é tudo igual

Uma quantidade relativamente grande de estudos tem avaliado, nas últimas décadas, como diferentes categorias de atividade física apresentam impactos distintos sobre nossa saúde. Essa classificação distingue a atividade feita em momentos de lazer daquela realizada durante o trabalho e em razão dele (é o que se denomina atividade física ocupacional). Vale destacar que o exercício programado – quando reservamos um tempo para ir à academia, por exemplo, enquadra-se dentro da esfera de lazer.

Pois bem: enquanto os estudos mostram de forma uníssona que a atividade física de lazer é protetora, muitos apontam que a ocupacional é deletéria ou, no melhor dos casos, inócua.

Atividade física ocupacional não traz ganhos à saúde, mostram estudos Foto: StockPhotoPro/Adobe Stock

Pode-se argumentar que trabalhadores que se mexem mais no trabalho normalmente pertencem a grupos sociais de menor grau de instrução formal e menor renda – falamos, para ter ideia, de empregadas domésticas, funcionários de fábricas, entregadores e trabalhadores braçais. Nesses grupos, os índices de obesidade e tabagismo tendem a ser mais elevados. Talvez, por esses motivos, imaginava-se que a associação entre atividade física ocupacional e piora na saúde pudesse ser uma mera coincidência. No entanto, estudos mais recentes corrigiram seus métodos para levar esses fatores em conta e, mesmo assim, os resultados continuam confirmando o que já se sabia: altos níveis de atividade física ocupacional estão relacionados com maior risco de mortalidade.

Esse aumento é de cerca de 25% em homens – e não depende do tabagismo ou da quantidade de gordura corporal.

Além da maior taxa de mortalidade, estudos mostram que o excesso de atividade física ocupacional eleva o risco de doenças mentais, como ansiedade e depressão, e de doenças do aparelho locomotor, a exemplo da osteoartrite.

Possíveis explicações

Não é simples encontrar os motivos para esse paradoxo, mas os cientistas têm proposto que o tipo de atividade que se realiza nos momentos de lazer é muito diferente daquela feita durante o trabalho.

As atividades de lazer costumam envolver movimentos dinâmicos, em intensidade alta o suficiente para gerar efeitos positivos no condicionamento físico; ocorrem por períodos curtos e com intervalos de descanso adequados. São atividades voluntárias, divertidas, associadas ao prazer e com impactos positivos para a saúde mental. Já as atividades ocupacionais frequentemente são de baixa intensidade, monótonas, realizadas repetitivamente por períodos longos, muitas vezes em posições estranhas e desconfortáveis, e sem muitos períodos de descanso. Em geral, elas acontecem sob estresse psicológico e, eventualmente, em condições degradantes, com exposição a poluentes e agentes tóxicos.

Não é muito difícil perceber que isso reflete uma injustiça social que acomete desde os países mais ricos até os mais pobres: trabalhadores de classes socioeconômicas mais baixas tendem a acumular a maior parte de sua atividade física durante o período de trabalho. Eles normalmente têm menos tempo de lazer, aproveitam menos os momentos de ócio e, claro, fazem menos atividade física durante esses períodos. São trabalhadores que, portanto, sofrem mais com os efeitos nocivos ou inócuos da atividade física ocupacional, e se beneficiam menos dos efeitos protetores da atividade física de lazer.

O paradoxo da atividade física é um exemplo que ilustra como as políticas de promoção de saúde não podem se desvincular das políticas de melhoria das condições de vida e trabalho de todas as classes socioeconômicas, em especial das mais desfavorecidas. Diretrizes de promoção de atividade física que se limitam a incentivar o movimento corporal independente do contexto mais amplo em que as pessoas estão inseridas serão pouco efetivas – sobretudo entre os mais vulneráveis, que mais precisam desse tipo de diretriz.

Fonte: Externa

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