A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, afirmou nesta sexta-feira (4) que a disseminação de “fake news” e a inteligência digital criaram uma espécie de “cabresto digital” nos eleitores.
A declaração ocorreu durante a abertura de um encontro com convidados de outros países, que estão no Brasil para acompanhar o primeiro turno das eleições municipais, no próximo domingo.
Em sua fala, Cármen Lúcia comparou as novas tecnologias à invenção do carro, que melhorou a vida das pessoas, mas que exigiu que o Estado editasse novas regulamentações para não permitir que um “alucinado ao volante” causasse danos a inocentes.
“As tecnologias hoje oferecem a possibilidade de morte até de liberdades. Nós não temos uma regulação no Brasil sobre essas tecnologias de maneira integral”, disse.
Em sua fala, ela defendeu a necessidade de que o país regulamente as redes socias e lembrou que os “algoritmos têm dono, têm interesses”. “Essas máquinas vêm tentando capturar a liberdade da expressão, que é uma conquista democrática da humanidade, afirmando que qualquer regulação seria uma forma de censura. Isto também é mentira, é ‘fake news'”, disse.
A presidente do TSE afirmou ainda que as ferramentas de inteligência artificial potencializaram esse problema, criando fatos, dados e até imagens verossimilhantes, que confundem o cérebro humano. “E o cérebro confundido não é um cérebro livre. Ele não pode fazer escolhas livres, porque não tem o prumo necessário, o raciocínio necessário para que a liberdade crítica se estabeleça.”
Para a ministra, até mesmo o uso da expressão “fake news” já é uma forma de desinformar. “Uma coisa é dizer que alguém é mentiroso, que isso é mentira. Outra é alguma coisa tão leve, que podia ser até um aplicativo a mais no celular. Há uma quebra de honestidade com o outro, quando alguém mente e te induz a condutas erradas, a opções que não são as suas.”
Cármen Lúcia lembrou ainda que, no domingo, mais de 155 milhões de brasileiros irão às urnas, “para construírem as sua história política a partir de suas cidades”. Segundo ela, mais de 465 mil candidatos estarão sujeito à escolha dos brasileiros e das brasileiras. A ministra apontou também que esses número são “impressionantes” e tornam o Brasil a “quarta maior democracia do planeta”.
“A Justiça Eleitoral trabalha com afinco e empenho permanente para que cada um saia tranquilamente de casa e exerça o seu direito fundamental do voto. As eleições representam, quando livres, independentes e democráticas, um passo adiante do fortalecimento das instituições”, defendeu.
A presidente do TSE lamentou ainda que, além das crises climática e de desinformação, o mundo também esteja vivendo tantas guerras. “Estamos caminhando para o final de 2024 com mais de 70 países em guerra, o que é a demonstração de uma doença, porque a guerra é a ausência de democracia entre os povos.”