BRAIP ads_banner

Câncer de próstata: Pacientes atendidos na rede privada vivem mais do que os tratados no SUS

CasaNotícias

Câncer de próstata: Pacientes atendidos na rede privada vivem mais do que os tratados no SUS

Psicólogos sabem que pacientes mentem na terapia; confira os motivos mais comuns
Cachorros podem farejar seu estresse – e tomar decisões a partir disso
Não consegue dormir bem? Estes 8 hábitos podem estar sabotando o seu sono

Pacientes com câncer de próstata que fazem tratamento na rede privada vivem, em média, dois anos e quatro meses a mais do que aqueles atendidos pelo sistema público de saúde. A diferença foi identificada em um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros do Grupo Cooperativo Latino-Americano de Oncologia (LACOG) e apresentado recentemente no Simpósio de Câncer Geniturinário da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.

Os pesquisadores analisaram os prontuários de 582 homens diagnosticados com câncer de próstata em estágio avançado. Todos já estavam em fase metastática e não respondiam mais ao tratamento hormonal convencional — a chamada “castração”, que reduz os níveis de testosterona para tentar conter a progressão do tumor.

Entre os participantes do estudo, 55% eram atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 45% pela rede privada. Os resultados mostraram que os pacientes da rede privada viveram, em média, 102 meses após o diagnóstico, enquanto os do SUS tiveram uma sobrevida média de 73,8 meses.

“O câncer de próstata é a segunda principal causa de morte por câncer em homens no mundo todo”, descreve o oncologista Fernando Maluf, líder do estudo. “Nosso levantamento não só quantifica a disparidade entre o SUS e a rede privada, como também pode ajudar a orientar políticas públicas para reduzir essa diferença.”

Depois de analisar 582 pacientes com câncer de próstata de 18 instituições públicas e privadas, estudo concluiu que homens tratados na rede particular vivem, em média, dois anos e quatro meses a mais do que aqueles atendidos pelo SUS. Foto: Peakstock/Adobe Stock

O que explica essa diferença na sobrevida?

A principal explicação, segundo Maluf, está no acesso desigual aos tratamentos mais avançados. Ele destaca que, enquanto pacientes da rede privada podem contar com terapias de ponta, as opções disponíveis no SUS são mais limitadas. “À medida que a ciência avança, novas terapias são incorporadas ao tratamento, mas nem sempre essas inovações chegam ao sistema público com a mesma agilidade. Isso cria uma disparidade na qualidade do atendimento”, explica.

A pesquisa aponta que, na primeira linha de tratamento – ou seja, a terapia inicial administrada assim que o diagnóstico é confirmado –, 60% dos pacientes da rede privada iniciaram o tratamento com medicamentos mais modernos, como abiraterona e enzalutamida, conhecidos como ARPIs. No SUS, porém, apenas 7% tiveram acesso a essas terapias, enquanto a maioria recebeu medicamentos mais antigos, como ciproterona e bicalutamida.

Outra diferença é o uso da quimioterapia. No SUS, 42% dos pacientes receberam esse tipo de terapia na primeira linha do tratamento, enquanto na rede privada a taxa foi de 27%. Segundo o oncologista Denis Jardim, embora os ARPIs tenham um papel importante e inovador no tratamento do câncer de próstata avançado, a quimioterapia continua sendo uma estratégia fundamental. “É muito provável que, independentemente do sistema de saúde, o paciente precise dela em algum momento”, afirma.

O grande problema, de acordo com Jardim, é que no SUS a quimioterapia muitas vezes se torna o principal recurso disponível. “Por ser um tratamento mais agressivo, ela pode comprometer a qualidade de vida do paciente. Quando há alternativas terapêuticas e a quimioterapia é utilizada em contextos mais específicos, com um melhor equilíbrio entre eficácia e toxicidade, o cenário é outro”, explica.

Apesar das limitações no tratamento, Jardim – que não participou da pesquisa – alerta que o estudo não permite afirmar que essa é a única explicação para a discrepância na sobrevida dos pacientes. “A pesquisa é importante para entender a desigualdade no tratamento do câncer de próstata no Brasil, mas é preciso analisar o problema sob um olhar multifatorial”, destaca.

Um dos pontos de atenção, de acordo com ele, é que 56% dos pacientes do SUS analisados no estudo descobriram o câncer já no estágio mais avançado da doença. “Muitos já estavam com metástases e no estágio 4B, o mais grave. Diferente daqueles na rede privada, que identificaram a doença em fases menos críticas. Isso impacta diretamente a evolução da doença e, consequentemente, na sobrevida”, defende Jardim, que é membro do Comitê de Tumores Geniturinários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

Por trás desse cenário, há fatores estruturais e sociais que, para o oncologista, não podem ser ignorados. Dificuldades no acesso a exames, longas filas de espera e disparidades socioeconômicas são alguns exemplos. “Muitos pacientes da rede pública enfrentam barreiras como alimentação inadequada, dificuldades de transporte para consultas e menos acesso à atividade física. Tudo isso influencia na saúde geral e na resposta ao tratamento”, aponta o médico, que destaca a ausência de dados sobre comorbidades como uma limitação do estudo.

“Incluir essa informação enriqueceria ainda mais a pesquisa, pois os hábitos de vida influenciam o desenvolvimento de condições como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares, que, por sua vez, estão associadas ao câncer de próstata. Dado que os perfis dos pacientes são distintos, será que aqueles atendidos na rede pública não apresentam uma maior carga de comorbidades? Essa é uma questão que vale ser investigada, pois pode impactar tanto a resposta ao tratamento quanto a sobrevida.”

Soluções: um assunto complexo

Segundo Maluf, a principal barreira para a aplicação de terapias avançadas no SUS é a falta de aprovação ou financiamento desses medicamentos, considerados de alto custo. A solução para isso está longe de ser simples, mas ele sugere pontos básicos, como elaboração de projetos de lei para aumentar o financiamento da saúde, a implementação de protocolos de custo-efetividade para tratamentos oncológicos e a reestruturação do orçamento, com foco em reduzir desperdícios em algumas áreas para redirecionar a outras.

“O SUS tem centros de excelência e presta um serviço que merece reconhecimento, mas a gestão poderia ser mais eficiente”, analisa o oncologista, que é fundador do Instituto Vencer o Câncer. “O governo não deixa de comprar medicamentos por opção, mas porque os recursos para a saúde são limitados e a gestão nem sempre é estratégica. Faltam prioridades bem definidas, e isso impacta diretamente a incorporação de novos tratamentos, especialmente na oncologia.”

Considerando que muitos medicamentos modernos são importados, o que eleva os custos, Jardim aponta que outra medida importante é investir em pesquisa nacional. Dessa maneira, alguns desses tratamentos poderiam ser disponibilizados sem custos para o sistema público. “Felizmente, nós temos muitos centros de excelência no Brasil que podem conduzir esses estudos”, destaca o médico.

Além disso, ele enfatiza que a reorganização do sistema de saúde deve ser prioridade. “Do ponto de vista financeiro, garantir terapias modernas de forma ampla e ágil não é uma tarefa simples. Mas, enquanto isso não se concretiza, é muito importante adotarmos estratégias para fortalecer os diagnósticos precoces. Se bem implementada, essa ação pode ser decisiva na luta contra o câncer e no prolongamento da vida do paciente.”

O Ministério da Saúde foi procurado para comentar o assunto, mas ainda não se manifestou. A matéria será atualizada assim que houver um posicionamento.

Fonte: Externa

BRAIP ads_banner