Pequenas, dolorosas e comuns, as estomatites aftosas, mais conhecidas como aftas, são pequenas feridas que aparecem na cavidade oral. Mas nem toda lesão oral é uma afta. Especialistas alertam que a confusão com outros tipos de feridas pode atrasar diagnósticos e comprometer tratamentos.
“As aftas são mais comuns em crianças e adolescentes. Com o avanço da idade, os episódios tendem a diminuir. Elas são mais comuns na parte interna do lábio, nas bordas da língua e nas bochechas”, explica Fábio Alves, presidente da Câmara Técnica de Estomatologia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CRO-SP).
Aftas costumam aparecer na parte interna do lábio, nas bordas da língua e nas bochechas Foto: Sarmoho/Adobe Stock
“Mas, muitas vezes, as aftas são confundidas com outros tipos de lesões. É comum que chamem todas as feridas na boca de afta, mas não é bem assim”, pontua.
“Às vezes, uma pessoa traumatiza a boca ao morder os lábios ou a língua e chama isso de afta, mas não é. É uma úlcera causada por um trauma”, exemplifica Alves.
Ele afirma que as aftas duram, no máximo, 15 dias, costumam ter cerca de 1 centímetro de diâmetro e não levam a um quadro mais grave. Caso a lesão não cicatrize nesse período ou comece a aumentar, é indicado procurar um especialista, pois pode ser o indício de outros problemas, como um câncer de boca.
“Muitos diagnósticos (de câncer de boca) estão sendo feitos tardiamente porque os pacientes acreditam que qualquer ferida na boca é apenas uma afta. Mas, quando finalmente buscam atendimento, a doença já está em um estágio avançado”, alerta Alves.
Outro fator que pode diferenciar as aftas de outros tipos de lesão é a dor. “A afta, em geral, é muito dolorida. Outras feridas podem não ser. A ferida do câncer, por exemplo, pode não apresentar muitas dores. Quando ela dói é porque já está em um estado muito avançado”, acrescenta.
Como tratar e diminuir a dor?
Para acelerar a cicatrização e evitar a dor, são recomendados antissépticos, anti-inflamatórios, anestésicos ou protetores de mucosa. Os produtos, no entanto, só devem ser utilizados após a indicação de um profissional.
Receitas caseiras devem ser evitadas porque podem agredir ainda mais a região e provocar o aumento da dor.
Outra possibilidade é o tratamento com laser de diodo. “O laser vai agir como um anti-inflamatório, como analgésico e vai ajudar na reparação”, diz José Todescan Júnior, especialista em prótese dental e membro da International Federation of Esthetic Dentistry (IFED).
Qual a causa das aftas?
As aftas podem aparecer por diferentes razões, e nem todas são conhecidas. “O que nós sabemos é que a falta de vitaminas como a B12 ou a deficiência de ferro pode causar surtos”, afirma Alves.
Segundo Todescan, aspectos hormonais, incluindo as variações na menstruação, e doenças autoimunes também podem predispor o aparecimento das feridas.
De acordo com Graziella Jaguar, estomatologista do A.C. Camargo Cancer Center, problemas gástricos também podem influenciar o desenvolvimento de aftas. “O refluxo gastroesofágico, que ocorre quando o ácido do estômago retorna para a boca, pode causar uma inflamação da mucosa e favorecer o surgimento de aftas”, exemplifica.
Ela explica que o contato do ácido com a mucosa da boca pode levar a pequenas lesões que propiciam as feridas. Além disso, quando o refluxo acontece de forma prolongada, o pH da boca é alterado, causando um desequilíbrio na microbiota oral e o aumento de bactérias nocivas — outro fator que contribui para o aparecimento das aftas.
Pacientes com refluxo costumam fazer uso de medicações antiácidas que também podem afetar a microbiota da boca e aumentar a possibilidade de aftas.