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A Chevron é essencial para a economia da Venezuela — e Trump sabe disso | Mundo

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Uma das principais razões pelas quais a economia da Venezuela está se recuperando lentamente do pior colapso da história moderna é uma gigante do petróleo a 3,5 mil km de distância: a Chevron Corp.

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Agora, Donald Trump está prestes a usar a presença da Chevron na Venezuela para obter o que deseja de Maduro.

A licença de exploração emitida em 2022, que permitiu à Chevron aumentar suas exportações da Venezuela para o maior nível em sete anos, é a ferramenta mais poderosa que o presidente possui para avançar sua agenda em Caracas. Essa agenda inclui cumprir sua promessa de campanha de interromper a migração irregular para os EUA.

Revogar a autorização cortaria um importante sustento financeiro da economia venezuelana no momento em que começa a se recuperar — e geraria mais corrupção ao devolver ao governo o controle total do comércio de petróleo.

A Chevron opera na Venezuela há mais de um século, mas só recentemente começou a exercer uma influência desproporcional na economia do país.

Há duas razões principais para isso. Primeiro, à medida que a empresa estatal de petróleo da Venezuela se deteriorava, devido a anos de subinvestimento, a Chevron se tornou a principal força impulsionadora do crescimento da produção de petróleo. Segundo, após o colapso dos padrões de vida na Venezuela devido às políticas fracassadas de Maduro e às sanções dos EUA, a produção da Chevron passou a representar uma parcela muito maior da economia do país.

Empreendimentos administrados conjuntamente com a estatal Petróleos de Venezuela SA (PDVSA) contribuíram com cerca de US$ 4 bilhões em pagamentos de impostos nos últimos dois anos, representando cerca de um quarto da receita total do regime no mesmo período, segundo a Ecoanalítica, uma consultoria com sede em Caracas. Enquanto isso, a economia da Venezuela caminha para crescer 9% este ano.

“A atividade da Chevron introduziu um elemento crucial para a estabilização macroeconômica do país”, disse Asdrúbal Oliveros, um dos diretores da Ecoanalítica, por telefone. “Ela impulsionou a economia ao gerar empregos, novos contratos de serviços para a recuperação de poços e a venda de moeda estrangeira no mercado interno.”

A receita em dólares gerada pela Chevron com o aumento da produção de petróleo permanece no país é, na maior parte, reinvestida em moeda local através de bancos privados, que podem conceder empréstimos a empresas que ajudam a impulsionar a economia — tudo fora do controle do governo. Parte desse dinheiro chega aos consumidores, ajudando a alimentar uma recuperação incipiente que implica na abertura de lojas de luxo, redes varejistas e concessionárias de automóveis na capital, mesmo que a maioria dos venezuelanos continue empobrecida.

No entanto, isso não resultou em eleições livres e justas, como esperava o ex-presidente dos EUA Joe Biden ao criar uma brecha nas sanções impostas por Trump a Maduro em seu primeiro mandato.

Entretanto, em um movimento ousado, Trump reabriu o diálogo com o líder socialista com o envio de um assessor de alto escalão a Caracas no final de janeiro. A iniciativa resultou na liberação de seis prisioneiros americanos e na retomada dos voos de deportação, sendo que um deles chegou na última quinta-feira transportando cerca de 180 pessoas que haviam sido expulsas dos EUA para a Baía de Guantánamo.

Embora não esteja claro se questões energéticas foram discutidas durante as conversas do enviado especial Ric Grenell com Maduro, a licença da Chevron permaneceu intocada. Ela foi renovada automaticamente por seis meses no dia seguinte, como acontece no primeiro dia de cada mês.

“A licença é uma carta muito difícil de jogar”, disse David Goldwyn, líder do grupo consultivo de energia do Atlantic Council, por telefone. “A atividade da Chevron na Venezuela é do interesse de ambos os países, pois impede que a economia venezuelana colapse e previne a volta de migrantes.”

Trump está mantendo suas opções em aberto. As operações da empresa americana no país sancionado estão atualmente sob revisão, disse o presidente a repórteres, em 18 de fevereiro, em sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida. Questionado se permitiria que as exportações de petróleo continuassem através da Chevron, Trump respondeu: “Talvez não”.

A produção de um milhão de barris é um marco significativo para a Venezuela, que viu sua produção cair para 365 mil barris por dia, de um pico de 3,2 milhões nos anos 1990. O setor petrolífero deve crescer 17% até o final de 2025, de acordo com a Sintesis Financiera. O crescimento é liderado pela “solidez” da atividade da Chevron, disse Tamara Herrera, diretora da empresa de análise financeira em Caracas, que descreveu o trabalho da companhia americana com a PDVSA como profissional e eficiente.

“A Chevron tem sido uma presença construtiva na Venezuela”, disse o porta-voz da empresa, Bill Turenne, por e-mail. Todo o negócio, acrescentou ele, é conduzido “em conformidade com todas as leis e regulamentações aplicáveis”. Representantes da PDVSA e do governo da Venezuela não responderam a pedidos de comentários a respeito.

Contratados pela Chevron viram um aumento no trabalho, com subsequentes aumentos na receita e contratações, principalmente no Estado venezuelano oriental de Anzoátegui, onde estão localizadas duas das empresas conjuntas com a PDVSA.

Novos contratos, mais liberais, oferecidos pelo regime de Maduro após a emissão da isenção, permitiram que a empresa ganhasse maior controle sobre as finanças e o comércio nas empresas, desfazendo anos de gestão errática da PDVSA.

Desde 2023, a Chevron ofereceu mais contratos para licitação a empresas que já haviam sido avaliadas. A empresa também direcionou mais de seu fluxo de caixa para manutenção, aquisição e questões de recursos humanos. “Isso teve um efeito multiplicador na economia em Anzoátegui e no país”, disse Herrera.

A Chevron vende dólares no sistema de financiamento privado para comprar bolívares que usa para pagar suas operações. O fluxo constante de moeda estrangeira ajudou importadores privados a obter dólares para suas compras, mantendo o fornecimento de bens e controlando a inflação. “Em um país altamente dependente de importações como a Venezuela, isso é muito importante para o consumo interno”, disse Herrera.

A inflação anual desacelerou para 8% de um pico de seis dígitos e o bolívar se estabilizou após desvalorizações acentuadas. Para ser claro, a recuperação também foi ajudada por uma economia menor — resultado de um grande êxodo de pessoas e da destruição generalizada do setor privado sob o governo autoritário de Maduro.

No lado comercial, as vendas de petróleo agora são mais transparentes e obtêm melhores preços, uma mudança em relação aos anos anteriores, quando o controle total da PDVSA levou à corrupção e a grandes descontos no mercado asiático. A supervisão mais rigorosa da Chevron também ajudou a aliviar a crise de combustível crônica da Venezuela, pois não depende da produção decrescente de diluentes da PDVSA e, em vez disso, traz seus próprios dos EUA.

A Chevron, a única produtora de petróleo dos EUA que resta na Venezuela, atualmente está bombeando cerca de 240 mil barris por dia, ou quase 23% da produção total do país, representando cerca de US$ 6 bilhões em receita. Esse nível de produção é semelhante ao que a empresa produziu em 2018, antes de Trump impor sanções a Maduro pela primeira vez.

Enquanto a equipe do presidente dos EUA envia sinais contraditórios, o conselheiro do Atlantic Council, Goldwyn, é cautelosamente otimista de que a Chevron será autorizada a continuar bombeando petróleo, dado o quanto ela se tornou essencial para evitar que a economia da Venezuela entre em colapso novamente.

“O governo Trump percebe que a política de ‘máxima pressão’ causou o estresse econômico que levou à migração para países vizinhos e não resultou em mudanças políticas”, disse ele. “Estamos nos primeiros dias do governo Trump e ainda precisamos ver se Maduro é cooperativo.”

Colaboraram Kevin Crowley e Jennifer A. Dlouhy.

Fonte: Externa

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