A inovação em saúde ganhou protagonismo nos últimos anos, impulsionada pelos avanços científicos que permitiram o surgimento de tratamentos mais eficazes para diversas doenças — e pela pandemia, que escancarou a importância da pesquisa clínica no enfrentamento de emergências sanitárias. No Brasil, esse reconhecimento se reflete em números: 73% dos internautas consideram a saúde como a principal área que deve ser priorizada pela inovação, segundo levantamento do Instituto Ipsos-Ipec encomendado pela Interfarma, entidade que representa 41 farmacêuticas responsáveis por trazer inovação científica ao sistema de saúde brasileiro.
O dado, que supera com folga os porcentuais atribuídos à educação (52%) e à segurança (51%), revela uma percepção cada vez mais clara do valor da ciência e da tecnologia para o bem-estar da população. “O brasileiro entende que a inovação é o que muda o curso das doenças e traz soluções antes inexistentes”, afirma Renato Porto, presidente executivo da Interfarma.
O estudo revela ainda que 83% dos entrevistados acreditam que o investimento no desenvolvimento de novos medicamentos contribui para o crescimento do País. Porém, na prática, trata-se de um processo longo e complexo. “O desenvolvimento de um único medicamento pode levar até 15 anos e consumir mais de US$ 2,5 bilhões, considerando que, em média, apenas uma entre 10 mil moléculas chega à fase final”, explica Porto.
Diante desse cenário, a pesquisa mostra que 55% da população já ouviu falar em patentes de medicamentos e sabe o que são. Para Porto, esse instrumento é essencial para garantir a sustentabilidade da inovação. “A patente assegura que a indústria tenha fôlego financeiro para seguir pesquisando. Sem essa proteção, o ciclo da inovação quebra”, afirma.
Entre os pontos sensíveis, está a associação entre patente e preço. Para Porto, essa relação precisa ser revista. “Nem sempre um medicamento inovador é mais caro. Muitas inovações reduzem internações, aceleram diagnósticos e geram economia para o sistema”, afirma Porto.
Ele destaca que o prazo de exclusividade da patente é limitado — geralmente 20 anos, mas, na prática, é encurtado pela burocracia. “Depois desse período, é natural que surjam os genéricos e similares, o que amplia o acesso. O que não podemos perder de vista é que, sem o ciclo da inovação, não há o que copiar depois.”
Ao projetar os próximos anos, Porto defende um ambiente regulatório mais ágil, técnico e baseado em evidências. “Precisamos tomar decisões com base em dados, e não travar a inovação. Cada atraso é um paciente que deixa de ser tratado com o melhor que a ciência tem a oferecer.”