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Peste Negra: doença que matou milhões na Idade Média e causa morte nos EUA pode chegar ao Brasil?

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Peste Negra: doença que matou milhões na Idade Média e causa morte nos EUA pode chegar ao Brasil?

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A Peste Negra que matou milhões de pessoas na Europa e na Ásia durante a Idade Média e acaba de causar a morte de um morador do Condado de Coconino, no Arizona, Estados Unidos, não é uma doença totalmente erradicada. A bactéria Yersinia pestis, que a causa, continua circulando de forma endêmica em algumas regiões do mundo, inclusive no sudoeste dos Estados Unidos. Mas especialistas afirmam que não há motivo para alarme: a bactéria não se desenvolve facilmente em ambientes urbanos e, atualmente, existem antibióticos eficazes para a cura da doença.

O óbito no Arizona foi comunicado na última sexta-feira, 11, pelo Centro Médico de Flagstaff. Testes diagnósticos rápidos confirmaram que o paciente estava infectado com Yersinia pestis, a bactéria que causa a peste. No Brasil, o último caso foi em 2005, no Ceará, e o paciente sobreviveu.

De acordo com o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), embora pareça surpreendente, a peste nunca foi totalmente erradicada. “A bactéria sobrevive no chamado ciclo silvestre, envolvendo principalmente roedores silvestres (como esquilos, marmotas e ratazanas) e suas pulgas. Esses animais funcionam como reservatórios naturais, permitindo que a bactéria persista no ambiente por séculos.”

Colônia de bactérias Yersinia pestis, responsáveis pela peste Foto: Muhsin Özel, Gudrun Holland, Rolf Reissbrodt/RKI

O que mudou profundamente desde a Idade Média, segundo ele, foi a capacidade humana de diagnóstico, vigilância epidemiológica e, sobretudo, de tratamento eficaz com antibióticos, desde que iniciado precocemente. “A peste deixou de ser uma ameaça pandêmica, mas não desapareceu. Casos esporádicos ainda ocorrem, principalmente em áreas rurais ou silvestres onde há contato com roedores infectados.”

Para o infectologista Hélio Bacha, do Hospital Israelita Albert Einstein, o caso de peste bubônica que aconteceu nos Estados Unidos não é tão inusitado e não deve gerar pânico. “É uma doença não erradicada e não há vacina, e nós temos de 1 mil a 2 mil casos por ano no mundo. É pouco, comparado com aquela explosão que houve durante a Idade Média, que matou uma porcentagem muito grande de pessoas.”

Segundo o especialista, existem casos inclusive no Brasil. “Nós não temos a peste urbana, mas eu me lembro que nos anos 70 e 80 tivemos alguns casos em ambiente rural, especialmente no Nordeste. Devemos ter ocorrendo casos esporádicos, não epidêmicos. Um caso que apareça num estado onde já havia relatado casos, que é nessa região oeste dos Estados Unidos, tenho a impressão que não é um sinal de alarme para a população. É um sinal de atenção à vigilância sanitária, à vigilância epidemiológica.”

Risco de epidemia no Brasil é baixo

Já Barbosa explica que o risco de uma epidemia de peste no Brasil é extremamente baixo, embora não seja nulo. “Isso porque o Yersinia pestis não está presente de forma endêmica em roedores no território brasileiro, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, Madagascar ou partes da Ásia. No Brasil, a peste foi uma doença de notificação compulsória por muitas décadas, e o país manteve áreas de vigilância ativa, especialmente no Nordeste.”

Ele lembra que o último caso confirmado de peste bubônica em humanos no Brasil ocorreu em 2005, no estado do Ceará. Desde então, não houve novos registros, mas algumas regiões ainda são monitoradas devido à presença de roedores potencialmente susceptíveis. “Mesmo em casos importados — o que seria raro —, o risco de transmissão pessoa a pessoa é muito baixo, exceto na forma pneumônica, que exige contato muito próximo e prolongado com secreções respiratórias. E mesmo nesse cenário, o uso de antibióticos é altamente eficaz, desde que iniciado precocemente”, diz.

Bacha avalia que o caso americano não é um sinal de alarme para a população, mas de atenção à vigilância sanitária e à vigilância epidemiológica. Para ele, os fatores naturais no ambiente urbano não favorecem a difusão epidêmica dessa doença atualmente. “A transmissão se dá pela pulga, essa foi uma condição importante para aquela condição da cidade medieval. Há outra forma de transmissão, que é a respiratória, mas isso é muito raro.”

O infectologista não vê risco de a doença, que teve importância epidêmica até o início do século 20, vir para Brasil. “Atualmente não acho que o mundo, pelo menos esse mundo não em guerra, ofereça condições de expansão epidêmica da peste. Não é uma preocupação que vá vir para o Brasil. O que muda é para os profissionais da vigilância, com mais atenção para os novos casos.”

Barbosa, da SBI, vê a bactéria como uma zoonose ainda reemergente que pode causar formas clínicas graves, como a peste bubônica e a pneumônica, esta última com maior risco de letalidade se não tratada rapidamente. Os sintomas da forma pneumônica incluem febre alta, dor no peito, falta de ar e tosse com secreção, muitas vezes com sangue. A letalidade pode chegar a 100% sem tratamento, mas cai drasticamente com o uso precoce de antibióticos, como gentamicina, estreptomicina ou doxiciclina.

Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp, diz que os casos esporádicos acontecem pelo mundo devido às condições sanitárias desiguais e em pessoas vulneráveis. “É uma doença tratável com antibióticos, mas que devem ser administrados na suspeita. O que possivelmente acontece, já que a gente não tem casos de peste, é um retardo no diagnóstico. A bactéria se espalha, dá um quadro de infecção generalizada ou pulmonar muito grave, mas é passível de tratamento.”

A peste pneumônica é uma infecção pulmonar causada pela bactéria Yersinia pestis, tipicamente encontrada em roedores Foto: National Institute of Allergy and Infectious Diseases

Os pesquisadores lembram que o caso no Arizona reforça a importância da vigilância epidemiológica e do diagnóstico rápido, especialmente em regiões onde a bactéria ainda circula na fauna local. Mas ressaltam que hoje ela é uma doença tratável e controlável desde que reconhecida a tempo.

Mas há como erradicar essa doença? “Até hoje não conseguimos”, diz Bacha. “Poderíamos, talvez, se tivéssemos desenvolvido uma vacina eficaz, mas até o momento, não.”

Último caso no Brasil ocorreu há 20 anos

O último caso de infecção pela bactéria Yersinia pestis no Brasil aconteceu no ano de 2005, no município cearense de Pedra Branca, a 261 km de Fortaleza. A suspeita é de que o paciente contraiu a bactéria ao ser picado por pulgas de roedores infectados. O paciente foi diagnosticado e tratado com antibióticos, sendo curado da doença. O caso imediatamente anterior tinha sido registrado também no Ceará, em 1997.

Na década de 1990, chegou a haver um surto epidêmico da peste no estado do Nordeste, com registro de 250 casos confirmados em cinco anos. Na época, órgãos de saúde estaduais e federais, intensificaram ações de controle, evitando que a doença proliferasse. Apesar de não ser mais comum, a peste ainda é preocupação sanitária em áreas onde a bactéria circula entre roedores silvestres e seus vetores, as pulgas.

Fonte: Externa

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