Engenheiro muda estilo de vida para enfrentar sobrepeso e diabetes
“Eu era rato de padaria”, relembra João Sabadell, de 53 anos. Crédito: TV Estadão | 11.11.2016
Apesar de atingir milhões de brasileiros, o pré-diabetes ainda é pouco compreendido por grande parte da população. Para ter ideia, em 2018, uma pesquisa conduzida pelo Ibope, a pedido da empresa Merck, apontou que 42% da população do País desconhecia o quadro e suas consequências.
A condição é caracterizada por níveis de glicose no sangue acima do normal, mas ainda não suficientes para se enquadrar como diabetes tipo 2. O perigo está justamente no fato de que o pré-diabetes raramente apresenta sintomas evidentes, o que dificulta o diagnóstico precoce.
Quais são os sintomas “silenciosos” do pré-diabetes?
Na maior parte dos casos, o pré-diabetes não provoca sintomas claros. Por isso, ele costuma passar despercebido por anos, até que exames laboratoriais revelem o problema.
No entanto, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), algumas pessoas podem apresentar parte das complicações típicas do diabetes e da hiperglicemia, como doença da retina, perda de proteína na urina, formigamento nas mãos e pés, além de fraqueza muscular.
Alguns indivíduos também podem notar o escurecimento da pele nas axilas ou nas laterais do pescoço.
Pré-diabetes é caracterizado por glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dL Foto: Robert Kneschke/Adobe Stock
Como saber se tenho pré-diabetes?
Para que uma pessoa saiba se convive com o pré-diabetes, é necessário realizar exames laboratoriais que indiquem alterações nos níveis de glicose. Os principais critérios incluem:
- Glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dL;
- Hemoglobina glicada entre 5,7% e 6,4% (esse exame reflete a média da glicose no sangue nos últimos três meses);
- Teste oral de tolerância à glicose (TOTG) com resultado de glicemia, após duas horas, entre 140 e 199 mg/dL.
Esse é um quadro que afeta cada vez mais brasileiros. De acordo com o Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF), em 2024, 15,2 milhões de pessoas no Brasil receberam diagnóstico de glicose em jejum prejudicada e 17,7 milhões de tolerância à glicose diminuída.
Diferença entre sintomas de pré-diabetes e diabetes
Os dois quadros são majoritariamente silenciosos. Mesmo assim, certos sintomas podem indicar que o paciente avançou para um quadro de diabetes tipo 2. Por isso, entre os principais sinais que podem marcar as diferenças entre pré-diabetes e diabetes estão:
- Aumento da sede e da fome;
- Dormência ou formigamento nas mãos e nos pés;
- Feridas que não cicatrizam;
- Infecções frequentes;
- Perda de peso não intencional.
Quando procurar um médico
Um médico deve ser procurado em caso de sintomas. Além disso, segundo a SBD, exames devem ser feitos regularmente a partir dos 35 anos. Abaixo desta idade, os testes são recomendados para pessoas com fatores de risco, como sobrepeso ou obesidade, síndrome de ovários policísticos e histórico familiar.
A realização de exames é importante porque, embora a principal preocupação costume ser a evolução do quadro para o diabetes tipo 2, devido aos riscos associados à doença, estudos indicam que o público no estágio intermediário já pode ter mais chances de apresentar problemas cardíacos e neurológicos.
“No pré-diabetes, a maioria dos indivíduos já apresenta algum grau de comprometimento do sistema cardiovascular”, aponta Luciano Giacaglia, coordenador do Departamento de Diabetes Tipo 2 e Pré-diabetes da SBD.
Muitos pacientes podem evoluir para um infarto ou um acidente vascular cerebral (AVC) antes mesmo de receberem o diagnóstico de diabetes.
Além disso, segundo Giacaglia, há uma relação direta entre níveis altos de glicose e o declínio cognitivo, capaz de impactar os pacientes mesmo em um cenário de pré-diabetes.
É possível reverter?
“Sim, o pré-diabetes pode ser reversível, especialmente quando diagnosticado precocemente”, aponta Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Investir em alimentação saudável, atividade física regular e perda de peso pode normalizar os níveis de glicose e prevenir a progressão para o diabetes. Para alguns pacientes, o uso de medicamentos pode ser necessário.
Além disso, de acordo com estudos, como estabelecido pelo Programa de Prevenção do Diabetes (DPP), a diminuição de 5% a 10% do peso corporal já pode reduzir bastante o risco de evolução para a doença.
De qualquer forma, Giacaglia ressalta que, quando o assunto é pré-diabetes e diabetes, o termo mais adequado é “remissão” e nunca “cura” ou “reversão”.
É que, apesar do controle dos níveis de glicose no sangue, quando uma pessoa desenvolve pré-diabetes, entende-se que ela já perdeu um percentual da função do pâncreas e das células beta pancreáticas, responsáveis pela produção de insulina.
Algumas dessas células podem voltar a funcionar, mas grande parte é, de fato, perdida, e não se regenera. “Por isso, não é possível recuperar a função como era antes. É justamente por essa razão que a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais”, alerta o médico.