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Como ‘canetas emagrecedoras’, alimentação e microbiota se conectam ao câncer

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Como ‘canetas emagrecedoras’, alimentação e microbiota se conectam ao câncer

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Canetas emagrecedoras apresentam potenciais benefícios contra o câncer

Estudos foram apresentados no maior congresso de oncologia do mundo, como conta Andrea Pereira, integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer.

A edição de 2025 do Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), o maior evento de oncologia do mundo, reuniu milhares de especialistas em Chicago, no início deste mês, para discutir avanços importantes no tratamento e na prevenção do câncer. E o que mais me chamou atenção foram dois temas que têm ganhado muito espaço na prática clínica e também nas conversas com os pacientes: a relação entre os medicamentos para emagrecimento e o câncer e também o impacto do microbioma intestinal nos resultados do cuidado oncológico.

Estudos têm avaliado o uso das chamadas canetas emagrecedoras nos contextos de prevenção e tratamento do câncer Foto: alones/Adobe Stock

Os dados apresentados no evento reforçam que os remédios à base de análogos de GLP-1, conhecidos popularmente como as “canetas emagrecedoras” podem ter efeitos positivos que vão além da regulação do peso e do controle do diabetes. Estudos indicam uma possível redução no risco de desenvolvimento de diferentes tipos de câncer e também na mortalidade geral pela doença.

O primeiro desses trabalhos, realizado por três grandes centros dos Estados Unidos (Universidade de Nova York, Johns Hopkins e Health System da Jane Singer), analisou mais de 74 mil pacientes com diabetes em uso de semaglutida (substância do Ozempic) ou liraglutida (do Saxenda). Os pesquisadores observaram uma redução de 7% no risco de desenvolver 14 tipos diferentes de câncer, e 8% de queda na mortalidade geral. Os impactos foram mais significativos para câncer de mama, meningioma e tumores do trato gastrointestinal.

O segundo estudo, da Universidade de Indiana, envolveu cerca de 87 mil pessoas, incluindo pacientes com ou sem diabetes, usando diversos tipos de análogos de GLP-1, inclusive tirzepatida (presente no Mounjaro). Também mostrou redução no risco de 14 tipos de câncer, com destaque para tumores de ovário, endométrio e, novamente, meningioma. Mas trouxe um alerta: houve um pequeno aumento no risco de câncer renal entre os usuários de semaglutida e liraglutida — o que não ocorreu com a tirzepatida. Isso mostra que, embora os resultados sejam promissores, é fundamental realizar exames renais periódicos nesses pacientes.

Esses dados reforçam que o uso dos análogos de GLP-1 pode ser uma estratégia valiosa para reduzir o risco de câncer, especialmente em pessoas com obesidade e diabetes, condições que, sabemos, aumentam esse risco. Mais do que perder peso, estamos falando de melhorar a saúde como um todo, sempre com responsabilidade e acompanhamento médico. Vale lembrar que, aqui no Brasil, a partir do próximo dia 23 de junho as farmácias passarão a exigir receita médica retida para a compra desses medicamentos, justamente para evitar o uso indiscriminado e garantir a segurança dos pacientes.

Microbioma pode influenciar o tratamento oncológico

Outro tema que ganhou destaque no congresso foi a relação entre o microbioma (o conjunto de bactérias que vivem no nosso corpo, especialmente no intestino) e os resultados dos tratamentos. Dois estudos chamaram atenção para a influência da microbiota nos efeitos da imunoterapia, principalmente em tumores renais e melanoma.

Um desses trabalhos, ainda em fase bastante inicial, focou em pacientes com câncer renal que não tinham em sua flora intestinal uma bactéria chamada Akkermansia muciniphila. Estudos anteriores já mostraram que a ausência dessa bactéria pode estar ligada a uma menor resposta à imunoterapia. Por isso, os pesquisadores desenvolveram um probiótico — o Cobax-Akkermansia — e o administraram por cerca de 15 meses em pacientes tratados com os imunoterápicos ipilimumabe e nivolumabe. Como resultado, obtiveram uma resposta melhor ao tratamento.

A Akkermansia já vem sendo associada a melhores prognósticos em tumores como mama e pulmão, e esse estudo reforça seu papel promissor em outras possíveis frentes do tratamento oncológico.

Outro estudo, da Universidade do Texas, avaliou o impacto da alimentação na microbiota e nos efeitos colaterais da imunoterapia. Pacientes com melanoma foram divididos em dois grupos: um seguiu uma dieta rica em fibras (30 gramas por dia, por 10 semanas), e o outro uma dieta saudável padrão. O grupo das fibras apresentou menos efeitos adversos na pele e melhor resposta ao tratamento. Uma intervenção simples e de baixo custo que pode fazer toda a diferença.

Esses resultados reforçam o que já discutimos com nossos pacientes: o tratamento oncológico vai além da medicação. A manutenção de uma alimentação e de um estilo de vida saudável são peças-chave para melhorar os desfechos e a qualidade de vida.

Fonte: Externa

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