O tramadol é um medicamento analgésico, da classe dos opioides, assim como a morfina — porém, tem ação mais leve. Ele atua no sistema nervoso central, bloqueando as mensagens de dor antes que cheguem ao cérebro. Além disso, também age como alguns antidepressivos, inibindo a recaptação de serotonina e noradrenalina. Isso aumenta a concentração desses neurotransmissores na massa cinzenta — eles são ligados à sensação de bem-estar.
Confira mais detalhes sobre essa medicação:
Tramadol é medicamento da classe dos opioides, recomendado para quadros de dor moderada a grave Foto: SawBear Photography/Adobe Stock
Para que o tramadol é indicado?
Em primeiro lugar, a farmacêutica Carolina Dagli Hernandez, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), explica que, na prática clínica, a dor é geralmente dividida em três níveis de intensidade: leve, moderada e grave.
O tramadol é indicado para o alívio de dores de intensidade moderada a grave, “especialmente nos casos em que os analgésicos convencionais, como paracetamol e dipirona, não conseguem aliviar totalmente a dor”, descreve a especialista.
Ele costuma ser recomendado para pós-operatórios e outros modos de dor aguda – por exemplo, depois de algum trauma –, mas também em situações crônicas, aliviando desconfortos ligados a problemas como câncer, artrite reumatoide, fibromialgia, entre outros.
Esse uso, porém, só é permitido sob prescrição médica. Por ser um opioide, ele é vendido somente com receita, porque é considerado um medicamento do tipo entorpecente, segundo os critérios do Ministério da Saúde. “Em doses abaixo de 100 mg, é exigida a receita de controle especial, em duas vias, sendo que uma será retida pela farmácia. Em doses acima de 100 mg, é exigida uma receita amarela”, informa Carolina.
Tramadol tem morfina?
O tramadol não contém morfina em sua formulação. Na verdade, ambos os remédios fazem parte da mesma família, a dos opioides. Uma importante diferença é que ele é um opioide de ação mais fraca. Segundo Carolina, o tramadol apresenta um efeito analgésico seis vezes menor do que o observado com a morfina.
Além disso, quando utilizado corretamente, apresenta menor potencial de causar dependência e eventos adversos graves. “Ainda assim, como todo medicamento dessa classe, seu uso requer acompanhamento médico”, alerta a farmacêutica.
Quais são os efeitos colaterais do tramadol?
George Miguel Freire, médico especialista em dor do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que os principais efeitos colaterais são náuseas e vômitos. Mas, assim como os outros opioides, também pode causar constipação intestinal e sedação. Ainda existe risco, embora pequeno, de gerar dependência.
Quais os cuidados ao utilizar tramadol?
Segundo Carolina, alguns fatores podem aumentar o risco de reações adversas. Um deles é o uso concomitante de antidepressivos. “Esses medicamentos interagem com o tramadol e aumentam o risco de uma reação adversa grave, chamada síndrome serotoninérgica”, explica.
A condição é causada pelo excesso de serotonina no sistema nervoso central. O quadro pode provocar espasmos musculares, ansiedade, delírio e é potencialmente fatal.
Além disso, estudos têm observado que variantes genéticas em uma enzima chamada CYP2D6 podem influenciar a resposta a esse medicamento. Sendo assim, dependendo da alteração genética apresentada, é possível ter maior risco de reações adversas.
Vale destacar que, devido ao risco de dependência, o paciente não deve parar de tomar o medicamento por conta própria, pois isso pode causar síndrome de abstinência.
Mas Carolina ressalta: “O medo de apresentar reações adversas não deve ser motivo para não tomar o medicamento adequadamente, uma vez que elas são raras”.
Como é a forma de uso deste medicamento?
Dependendo da necessidade e do conforto do paciente, o tramadol pode ser administrado por via oral (comprimidos, cápsulas ou solução oral), intravenosa (injeção na veia) ou intramuscular (injeção no músculo).
Caso seja utilizado por via oral, é importante que o medicamento seja tomado com um copo d’água, e nunca com outros líquidos. Exemplos de líquidos inadequados para a ingestão do tramadol incluem sucos, café, refrigerante ou bebidas alcoólicas.
Além disso, os comprimidos e as cápsulas devem ser engolidos inteiros, e não devem ser cortados, abertos, diluídos ou mastigados.
Também é importante se atentar ao armazenamento do medicamento. Ele sempre deve ser deixado dentro da embalagem, protegido da luz, da umidade e da variação de temperatura. Por isso, nunca deve ser guardado no banheiro, na cozinha ou na bolsa, porque isso pode afetar sua efetividade.
Quem não pode tomar o tramadol?
Como explica Freire, o tramadol não pode ser dado a alguém com histórico de alergia a esta medicação nem a pacientes com epilepsia não controlada. Também deve ser evitado por pessoas com insuficiência renal ou hepática.
Além disso, Carolina salienta que pessoas que utilizaram antidepressivos da classe dos inibidores da monoamina oxidase (IMAO), como fenelzina, em até 14 dias, não podem ingerir o medicamento.
O tramadol é contraindicado para indivíduos com histórico de dependência química, como de álcool e outras drogas.
“Por isso, é essencial que o paciente informe ao médico todas as condições de saúde antes de iniciar qualquer medicamento. Às vezes, uma informação que parece ‘boba’ pode ser importante para a escolha do remédio mais seguro”, destaca a farmacêutica.
E quanto tempo dura o efeito?
A ação analgésica do tramadol geralmente começa cerca de uma hora após a ingestão e dura entre 4 a 6 horas. Existem também versões de liberação prolongada, que podem ter efeito analgésico por até 24 horas.
O tempo de ação varia dependendo da formulação e do organismo de cada pessoa. Além disso, alguns estudos indicam que variantes genéticas são capazes de diminuir o efeito do tramadol.
“Se não tiver alívio adequado da dor após utilizar o tramadol, nunca tome mais de um comprimido ou cápsula por conta própria, pois isso pode trazer riscos sérios para sua saúde”, alerta Carolina.
Grávidas podem usar tramadol?
Não. É que ainda não há informações de segurança suficientes para afirmar que o medicamento não causará problemas para o bebê ou à gestante. Então, os especialistas recomendam que essa população evite o uso, especialmente no início da gravidez.
“Sempre avise o seu médico ou farmacêutico caso estiver grávida e receber uma prescrição de tramadol”, indica Carolina.
